SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Já houve um momento em que o crescimento do catolicismo era superior ao da população mundial —se a tendência fosse constante, em uma hipérbole, a religião tomaria conta de todo o planeta em alguns séculos. A moda, no entanto, não pegou dessa forma. Depois das décadas de 1950 a 1970 —quando o catolicismo crescia, em média, 1,87% ao ano, e a população, por outro lado, 1,8%— o que se observou foi uma desaceleração dessa guinada.

A morte do papa Francisco, 88, na última segunda-feira (21), colocou a Igreja Católica em transição e levantou dúvidas sobre o futuro do Vaticano. Mas o cenário fica longe de uma falência anunciada: em 1950, 18,1% da população mundial seguiam a Santa Sé —em números absolutos, são mais de 425 milhões de fiéis. O período que se sucedeu, até 1970, foi o de maior crescimento do século 20 e, mesmo assim, precedeu a frenagem histórica.

Os dados da World Christian Database mostram que, dali em diante, a taxa de crescimento —que até então andava lado a lado com o aumento da população— passou a desacelerar em ritmo mais acentuado que a da população em geral. Nas décadas seguintes, o aumento anual passou para 1,5% na virada do século, 0,99% em 2015, e 0,65% neste ano. Na prática, esse descolamento significa que o catolicismo, mesmo ainda crescente, não teve mais um incremento real.

Os números indicam apenas um crescimento nominal —em que o montante absoluto cresce, mas não a níveis suficientes para um aumento real. Nos últimos dez anos, que compreendem a maior parte do papado de Francisco, o número de católicos se avolumou com a adição de cerca de 79 milhões de fiéis —de 1,19 bilhão em 2015 para 1,27 bilhão em 2025.

Essa movimentação é resultado de uma realidade global heterogênea, em que países da Europa e da América do Norte têm redução no número de fiéis, e as regiões da África e Ásia, por outro lado, puxam os números para cima. Europa e América do Norte são as únicas regiões que, nos últimos 25 anos, demonstraram uma diminuição do número absoluto de religiosos.

A maior redução real, nesse caso, deu-se exatamente durante o período em que Francisco foi papa, de 2015 a 2025. A população católica europeia, há dez anos, correspondia a cerca de 252 milhões de pessoas; atualmente é próxima a 238 milhões. A taxa de diminuição ao ano ronda os 0,58% —a população geral, nesse período, teve taxa de diminuição somente a partir de 2020, com o recorde de 0,3% em 2022.

Do outro lado da moeda, a Igreja Católica angariou cada vez mais fiéis nas regiões da África e da Ásia. Foi durante todo o século 20 que as evangelizações do Vaticano foram responsáveis por multiplicar a população católica africana em 68 vezes —a título de comparação, a da América Latina foi multiplicada por 7, e a da Europa, por 1,4.

Com essa transformação, os seguidores de países da África, que em 2000 representavam 12,7% dos católicos de todo o mundo, hoje são 21,3%. A mudança também está atrelada ao rápido crescimento populacional dos países africanos, mas o aumento proporcional de católicos no continente foi mais acentuado do que o da população geral —o que caracteriza o crescimento real nessa região.

Nos resultados totais, esse aumento pode mascarar um pano de fundo distinto dos países latinos. Entre as décadas de 1950 e 1970 —quando o desenvolvimento da religião foi o mais expressivo— a América Latina passou a ser a região com a maior porcentagem de católicos no mundo —lugar anteriormente ocupado pela Europa.

O número absoluto entre os latinos continua crescendo: nos últimos 55 anos, a população seguidora do Vaticano mais que dobrou. Essa movimentação, porém, não está mais em seus áureos tempos e, no momento, segue a tendência do cenário global.

O maior reduto católico do mundo, tanto em números absolutos quanto em porcentagem mundial, tem sua taxa de crescimento diminuída a cada ano. Atrás somente da Europa e da América do Norte, que têm registrado decréscimo real, a América Latina teve um aumento relativo médio, desde 2015, de 0,27% ao ano.

À frente dessa esteira figura o Brasil, país com a maior população católica no mundo, com cerca de 140 milhões de fiéis. O alto número, no entanto, não é suficiente para posicioná-lo na lista dos dez países com maior proporção de seguidores da Santa Sé; neste caso, o Vaticano lidera —com 100% de católicos—, seguido pelo Timor Leste e San Marino.

Na relação de maiores percentuais, oito dos países são do continente europeu. Somente fogem da classificação o asiático Timor Leste (2º), e o latino Paraguai (4º). Por outro lado, nos números absolutos, 5 estão nas Américas —4 latinos e os EUA—, 3 são europeus, 1 asiático e 1 africano.

Os números da World Population Review representam um compilado de dados do instituto Pew Research e do CIA Factbook, que se baseiam nos censos nacionais e respectivas estimativas mais recentes disponíveis.