SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A 27ª edição Palco Giratório, maior mostra itinerante de artes cênicas do país, começou neste fim de semana, numa edição que homenageia o circo. 16 grupos artísticos percorrerão 96 cidades do Brasil ao longo do ano, inclusive São Paulo, onde as apresentações chegam em junho.
A abertura do festival aconteceu nesta sexta-feira (25), no Parque Urbano da Macaxeira, em Recife, que foi preenchido por barracas de pipoca e trailers de comida, brinquedos infantis como piscina de bolinhas e pula-pulas, luzes e música. Em direção à grande tenda circense erguida lá, uma fila comprida esperava para assistir a “Circo Science – do Mangue ao Picadeiro”.
A peça é dos artistas da Trupe Circus, grupo criado em 2002 a partir da Escola Pernambucana de Circo, organização não governamental localizada na periferia de Recife, que busca desde 1996 dar oportunidade a jovens marginalizados através da arte, tendo se tornado uma referência do teatro social.
Após as solenidades iniciais longas para a paciência das crianças, que apressavam a programação gritando em coro, “começa, começa!”, os artistas iniciaram sua performance. Sob uma lona de plástico preta, eles se debatem. Braços e pernas rasgam o material, então despedaçado, libertando os artistas para a apresentação.
Nos números que se seguem, há show de drag com direito a vogue, muita dança e, principalmente, acrobacias que, hora ou outra, deixaram o público nas pontas das cadeiras de praia espalhadas sobre o piso de areia, sob a lona. Guiando tudo, a trilha sonora é carregada de músicas de Chico Science, músico que é orgulho da região.
“É um espetáculo muito afetivo. Mesmo que as pessoas não conheçam o movimento Manguebeat, a energia daqueles meninos e a verdade que vem deles, a alegria deles, o desejo, acabam contagiando você”, afirma Fátima Pontes, homenageada na abertura do Palco Giratório por seu trabalho, há 27 anos, à frente da Escola Pernambucana de Teatro.
No sábado (26), a reportagem foi até São Lourenço da Mata, cidade da Grande Recife, para a inauguração da nova lona de circo do Sesc Ler da cidade, projeto que nasceu visando a alfabetização e hoje oferece outras atividades culturais para a comunidade local. Lá, além de apresentações de alunos da Escola de Circo do Sesc, aconteceu a peça “Kombinando com Cerrado”, da dupla Du Cafundó, de Mato Grosso.
Na peça, após o fechamento de seu circo, dois palhaços saem em viagem, em busca de manter sua paixão pela arte. No caminho, encontram espaço para todo tipo de truques, do malabarismo ao equilibrismo, sempre com humor e provocações recíprocas.
A reportagem foi recebida no Sesc Casa Amarela, uma das unidades de Recife da rede, para conversar com Fátima Pontes Leonardo Florentino, curador do festival.
Vinda da periferia de Olinda, ao lado de Recife, Pontes começou no teatro aos 16 anos, atuando para a igreja, em programas ligados à Teologia da Libertação de dom Helder Câmara, arcebispo que defendeu os direitos humanos durante a ditadura militar e estimulou a cultura em Olinda e Recife.
Ela diz ter grandes expectativas quanto ao potencial do Palco Giratório de trazer visibilidade para o trabalho da Escola Pernambucana de Circo e para o circo social como um todo.
“A gente vive de editais públicos, privados, com o dinheiro dos serviços que a gente faz com a Trupe Circus e com outros projetos”, afirma. “Somos reconhecidos, nacional e internacionalmente pelo nosso trabalho com a pedagogia do circo social. Agora, o Palco Giratório vai nos dar a oportunidade de ir para lugares que nunca fomos.”
“O circo atinge muita gente diferente, tem essa diversidade de visões de mundo, religiões, classes sociais, lugares. Ele passa por todo mundo, por mais que existam os preconceitos, existe num lugar de afeto”, complementa Florentino. Ele lembra que essa não é a primeira vez que o Palco Giratório homenageia o circo em 2018, o homenageado foi o Palhaço Biribinha, um dos grandes artistas da palhaçaria nacional.