ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Luiz Inácio Lula da Silva foi uma das últimas autoridades a chegar à missa do funeral do papa Francisco neste sábado (26). Ele e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, representavam o Brasil na área reservada aos principais chefes de Estado, montada ao lado do altar da celebração. O presidente brasileiro estava em posição privilegiada, praticamente ao lado do celebrante, o decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re.
O evento já havia começado quando Lula e Janja apareceram na praça São Pedro. Não foram os únicos a distender o protocolo. Emmanuel e Brigitte Macron, Donald e Melania Trump e Volodimir Zelenski e Olena Zelenska também chegaram com orações e cânticos iniciados. Fotógrafos do pool do Vaticano trabalhavam freneticamente entre os convidados, dando um sutil ar de festa ao início da cerimônia.
Os que chegaram mais cedo, a maioria ausente dos cardápios da imprensa internacional, não resistiram à tentação e fizeram selfies com o altar ou a praça São Pedro lotada como cenário. Assessores também não economizavam no registro histórico.
A primeira fileira de cadeiras tinha o presidente Javier Milei na extrema direita, acompanhado da irmã Karina. Lula e Janja ocupavam assentos mais ou menos no centro, a umas 15 cadeiras de Trump e Melania. “Não cumprimentei, não vi o Trump. Não olhei nem para o lado”, disse o presidente mais tarde. Trump destoava do grupo, por estar com um terno azul, em forte contraste aos modelos escuros escolhidos pela maioria.
– Veja as autoridades que foram ao funeral do papa Francisco
O sol do fim da manhã de Roma castigava. Lula, que tinha um squeeze para manter-se hidratado, adotou os óculos escuros apenas na metade da cerimônia. Janja já os usava desde a chegada. Como Melania e a rainha Letizia, da Espanha, portava um véu. Quatro fileiras para trás, as mulheres mais poderosas da Europa, Ursula von der Leyen, presidente da União Europeia, Roberta Metsola, presidente do Parlamento e Kaja Kallas, a chanceler do bloco, dispensavam o acessório.
“A guerra é somente morte de pessoas, destruição de casas, de hospitais e escolas. A guerra deixa sempre o mundo pior que antes”, disse Battista Re na homilia, em geral o momento político das celebrações do Vaticano. Quase na mesma hora, o planeta era inundado pela imagem de divulgação da Presidência da Ucrânia mostrando Zelenski e Trump sentados sozinhos no interior da basílica. Segundo a Casa Branca, uma conversa de 15 minutos “muito produtiva”.
Zelenski, que chegou a cogitar não ir à cerimônia, venceu a pequena batalha de imagem de uma semana pesada para a Ucrânia, com ao menos 12 mortos após um ataque russo à capital Kiev. Nem Lula escapou de comentar o assunto. “O importante é que se conversem para ver se se encontra uma saída para essa guerra, que está ficando sem explicação. Ninguém consegue explicar e ninguém quer falar em paz. O Brasil continua teimando que a solução é a gente fazer com que os dois se sentem na mesa de negociação e encontrem uma solução. Não só para Ucrânia e Rússia, mas para a violência que Israel comete na Faixa de Gaza.”
Lula falava já na pista do aeroporto Fiumicino, minutos antes de embarcar de volta para o Brasil, para o qual seguiu logo após a missa. Foi o único momento em que se encontrou com jornalistas em uma estada de menos de 24 horas na capital romana. “Quisera Deus que o próximo papa fosse igual a ele, com o mesmo coração dele, com os mesmos compromissos religiosos dele, com os mesmos compromissos com o combate a desigualdade que tinha o papa Francisco.”
A importância do pontífice foi usada como argumento para o tamanho da comitiva nacional. Francisco merecia, segundo Lula, a presença da cúpula do governo brasileiro em Roma. Neste momento, fez questão de mostrar para as câmeras que estava ao lado de Davi Alcolumbre, presidente do Senado, e Hugo Motta, da Câmara. A imagem de união vai de encontro ao momento de hostilidade do Congresso, que ensaia uma anistia aos condenados pelos ataques aos Poderes da República em 2023 e desafia uma reforma ministerial.
O avião da Força Aérea Brasileira era um dos últimos em uma área de estacionamento do aeroporto romano reservada aos chefes de Estado. Curiosamente, o menor deles era do país provavelmente mais rico do pátio, a França: um jato Falcon, usado pelo presidente Macron para viagens curtas. Com capacidade máxima para 14 pessoas, a depender da configuração, não daria conta da delegação brasileira, que levou a Roma 18 autoridades, sem contar assessores.