ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – A brasileira Bianca Fraccalvieri, 47, é a dona da voz que fez a leitura, em português, de um trecho da oração universal, ou oração dos fiéis, durante a missa fúnebre para o papa Francisco, neste sábado (26).
“Pelos povos de todas as nações: que, praticando incansavelmente a justiça, possam estar sempre unidos no amor fraterno e busquem incessantemente o caminho da paz”, disse ela, diante de 250 mil pessoas, autoridades internacionais, cardeais e demais religiosos.
“Vou falar um chavão: mas foi muito emocionante. Foi um privilégio”, disse à Folha de S.Paulo.
Ela é funcionária da Rádio Vaticano, parte dos meios de comunicação da Santa Sé. E normalmente são os jornalistas e locutores da emissora que são chamados pela equipe do mestre de celebrações litúrgicas, o arcebispo Diego Ravelli, para eventos.
“Nas audiências [gerais, que ocorrem às quartas-feiras, no Vaticano], nós da rádio somos chamados para fazer as leituras”, conta. “Na quinta-feira (24), ligaram pedindo uma voz feminina em português, eu não pensei duas vezes e me candidatei. Foi o meu jeito de falar, de dar o meu adeus a ele, né?”, disse.
Jornalista, ela é filha de italiano e morou na Itália quando era pequena. Em 2000, ela veio para Roma depois de se graduar na faculdade. “Cheguei e era o Jubileu”, conta, em referência ao Jubileu da Igreja, que ocorre a cada 25 anos. “Comecei a fazer estágio e fiquei”, diz ela, que já trabalhou ao longo de três papados.
Além de conviver com o papa Francisco, especialmente nas audiências de quarta-feira no Vaticano, Fraccalvieri fez algumas viagens de cobertura para acompanhar o pontífice, como para Bolívia, Egito, Mianmar e Tailândia. “Foram várias ocasiões de trocar uma palavrinha com ele.”
A jornalista conta que pouco antes de ser anunciada a morte do papa, na segunda (21), ela estava de plantão no trabalho na Itália, a segunda é parte do feriado da Páscoa e foi convocada para ir com urgência para a cabine e preparar uma transmissão ao vivo da Casa Santa Marta, onde o papa morava no Vaticano.
“Pegou de surpresa, porque era para ser uma manhã tranquila, o prédio quase deserto, feriado. Eu achei que fosse para anunciar a demissão dele”, disse. “Quando a gente recebeu a notícia da morte, o mundo desabou. Tinha visto ele no domingo [de Páscoa], e ele realmente parecia mal, era perceptível. Mas não achei que fosse morrer.”
Nos dias seguintes, ela participou do velório privado ocorrido na capela da Casa Santa Marta e foi duas vezes à Basílica de São Pedro, onde aconteceu o velório público.
“Eu amei profundamente [o papado de Francisco]”, disse Fraccalvieri, emocionando-se. “Foi muito rico de ensinamentos, ele propunha para a gente uma conversão de vida. Acho que por isso a mensagem dele chegou tão forte.”