SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um cenário de inflação persistente, juros elevados e incertezas globais, imóveis de alto padrão nas tradicionais vizinhanças paulistanas de Higienópolis, Pinheiros e Jardins resistem às crises e atraem compradores dispostos a pagar milhões para morar ou investir na região.
O tíquete médio dos imóveis por essas redondezas ultrapassa facilmente os R$ 4 milhões, com o metro quadrado girando em torno de R$ 20 mil -e podendo superar os R$ 60 mil em empreendimentos premium. O mercado de locação também se destaca: nos últimos 12 meses, de acordo com índice do QuintoAndar, o Jardim Europa registrou alta de 16,1% no preço do aluguel; Higienópolis subiu 12%; e Pinheiros, 12,6%. O metro quadrado em Pinheiros já alcança R$ 92,9 e; no Jardim Europa, R$ 87,9 -ambos entre os mais caros da cidade.
Essa valorização -frequentemente acima da média da cidade- se explica pela combinação de uma oferta limitada de terrenos disponíveis para novos empreendimentos, localizações estratégicas e infraestrutura consolidada, com transporte, comércio, serviços e lazer.
“O consumidor de altíssimo padrão, por muito tempo, teve dificuldade em encontrar imóveis novos nos bairros tradicionais de São Paulo. Agora, esse cenário está mudando: os lançamentos de alto padrão estão de volta aos Jardins, e Pinheiros passou a ser redescoberto”, afirma Guilherme Sawaya, diretor comercial e de marketing da Idea Zarvos.
Essa intensificação dos lançamentos está diretamente relacionada às mudanças promovidas pela revisão da legislação urbana, que flexibilizou a verticalização em regiões com forte escassez de terrenos disponíveis, especialmente nos eixos estruturais próximos às avenidas Rebouças, Angélica e Paulista. Há uma grande diversificação de projetos, desde compactos de 20 m² até metragens acima de 250 m².
Embora o segmento esteja historicamente associado a grandes espaços, há uma tendência crescente de oferecer o mesmo padrão de qualidade em áreas menores e plantas mais funcionais. Isso atende um número crescente de jovens executivos e profissionais liberais, especialmente das áreas de tecnologia e finanças.
“Há também um número expressivo de compradores de fora de São Paulo, especialmente empresários do Centro-Oeste e do agronegócio, que buscam um endereço na capital para fazer negócios”, afirma Rodrigo Mauro, CEO da REM Construtora.
A região dos Jardins é um exemplo de lugar onde o perfil do comprador tem se rejuvenescido. “Vamos lançar em breve um projeto que terá apartamentos de 20 m² a mais de 100 m², justamente para atender a demanda de todos os perfis. As áreas comuns têm uma importância muito grande para esse público, que busca ter boas opções de lazer e serviços sem precisar sair de casa”, afirma Luciana Vieira, diretora de Incorporação da Vitacon.
O aumento de empreendimentos com unidades compactas tornou os imóveis maiores em áreas nobres ainda mais raros.
Pinheiros é um exemplo da transformação urbana e imobiliária. Entre os lançamentos, destaca-se o Altitude Jardins por Artefacto, com apartamentos de 70 m² a 205 m² e valores a partir de R$ 41 mil o metro quadrado. O empreendimento vai ocupar um quarteirão inteiro entre a alameda Santos, a rua da Consolação e a avenida Paulista, e terá rooftop com vista livre da cidade.
“Nos Jardins e em Pinheiros, o tipo de imóvel de luxo com maior demanda é o apartamento, com 54% das buscas. A preferência está voltada a imóveis espaçosos, com mais de 250 m² [48%] e 3 a 4 dormitórios [75% somados], o que indica um público que busca conforto e estrutura para família”, diz Alvaro Marco Coelho da Fonseca, diretor executivo da Coelho da Fonseca.
Em Higienópolis, o novo se integra ao antigo. Edifícios com arquitetura modernista e art déco dividem espaço com torres como a Itambé, do projeto Praça Higienópolis -a mais alta do bairro, com foco no segmento residencial de luxo, com estúdios de 27 m² a 34 m² . A SKR, responsável pelo empreendimento, estima uma valorização do projeto em 25% até a entrega, prevista para 2028.
“É um bairro que ficou muito tempo sem ter lançamentos e está sendo redescoberto. Os investidores de fora estão descobrindo o potencial do bairro. Mas não existe terreno, estão é preciso garimpar. Demanda há”, diz Paulo Petrin, vice-presidente da One Innovation.
Ele afirma que a procura nesses bairros nobres é por terrenos que possam abrigar projetos de torres altas que valorizem a vista -exigência e diferencial desde a pandemia . “A tendência de Balneário Camboriú está chegando em São Paulo”, diz.
Segundo Sawaya, o novo comprador de alto padrão valoriza hoje não só o imóvel, mas também o edifício como experiência. Há uma busca crescente por prédios assinados, com arquitetura autoral, entradas imponentes e áreas comuns completas -de quadras de tênis a salas de massagem, além certificações de sustentabilidade, concedidas a empreendimentos que melhoram a saúde e o bem-estar dos seus moradores e da comunidade local.
Além da arquitetura e do design, tecnologias como automação residencial para iluminação e climatização se tornaram essenciais nos projetos, assim como espaços de wellness, com academias equipadas, spa, sauna, lareira externa, lounge gourmet e áreas pet-friendly.
“O público de alto padrão sente menos os impactos de curto prazo da economia e pensa no longo prazo ao adquirir imóveis, buscando valorização e segurança patrimonial”, afirma Joaquim Rocha Azevedo, CEO da Sequóia Properties. Segundo ele, a alta dos juros acaba retardando a decisão de compra, mas não elimina o interesse. O fechamento da compra tende a ocorrer mais próximo da entrega do empreendimento.
De acordo com o último levantamento divulgado pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o segmento de Médio e Alto Padrão (MAP) apresentou bom desempenho em 2024, especialmente no valor de venda, que cresceu 23,8%, somando R$ 26,6 bilhões no acumulado do ano passado.
Os lançamentos desse segmento expandiram 42% em valor no acumulado de 2024, totalizando R$ 23,6 bilhões. Outro marco importante foi a queda nos estoques. No fechamento de 2024, a duração dos estoques do MAP caiu para 13 meses, nível saudável e próximo a média histórica.
Para Luiz França, presidente da Abrainc, a expectativa é que o segmento siga aquecido nos próximos dois anos. “Estudos indicam que, quem comprou imóvel nos últimos dez anos, teve uma valorização acima da Selic. E quem comprou, e alugou teve uma valorização ainda maior. Já o segmento de luxo, onde a dependência do financiamento é menor, a demanda segue alta, com lançamentos cada vez mais exclusivos”, diz.