SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em leve queda de 0,07% nesta sexta-feira (25), cotado a R$ 5,688, tendo como pano de fundo o possível acordo comercial entre Estados Unidos e China.

Os dois países têm sinalizado que uma desescalada na guerra tarifária pode estar no horizonte, mas informações conflitantes sobre as negociações frearam um maior apetite por risco entre os operadores -no câmbio e na renda variável.

A Bolsa brasileira passou o pregão oscilando entre os sinais, contrabalançando, também, perdas da Vale com ganhos do setor bancário. Fechou em alta de 0,11%, a 134.739 pontos.

Nos Estados Unidos, os índices de Wall Street ficaram no positivo. O S&P500 subiu 0,74%, o Nasdaq Composite avançou 1,26% e o Dow Jones teve leve variação de 0,05% para cima.

“A movimentação do Ibovespa hoje é explicada pela falta de avanços concretos nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, o que gera incerteza e um tom mais cauteloso no mercado após uma sequência de altas”, avalia Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

“Já Wall Street foi apoiado por um índice de sentimento do consumidor mais positivo que o esperado e pela repercussão mista dos resultados corporativos de grandes empresas, como a Alphabet. Ainda assim, os mercados seguem atentos e voláteis por conta da guerra comercial com a China e pela ausência de novidades claras sobre tarifas.”

Em um novo capítulo do disse-me-disse entre as duas potências econômicas, o presidente Donald Trump afirmou, em entrevista à revista Time nesta sexta, que conversou ao telefone com Xi Jinping sobre a guerra tarifária.

Ele declarou que consideraria uma ‘vitória’ se as tarifas ficarem em 50% e que espera que acordos comerciais sejam firmados nas próximas três ou quatro semanas. Segundo Trump, a iniciativa da conversa partiu do líder asiático.

Mas, horas depois, o regime chinês negou que tivesse havido uma conversa: “A China e os EUA NÃO estão realizando nenhuma consulta ou negociação sobre tarifas. Os EUA devem parar de criar confusão”, escreveu o Ministério das Relações Exteriores chinês, em declaração publicada pela Embaixada da China nos EUA e postada no X (ex-Twitter).

O presidente republicano não disse quando Xi telefonou ou o que os dois líderes discutiram. À Time, afirmou: “Ele telefonou. E não acho que isso seja um sinal de fraqueza da parte dele.”

As falas seguem a esteira de outras declarações conflitantes sobre o possível acordo entre os dois países. Na quarta, Trump havia dito que busca uma resolução “justa” com a China e que “tudo está ativo” nas tratativas, ao que o porta-voz chinês das relações exteriores, Guo Jiakun, afirmou que se tratavam de informações falsas.

“China e Estados Unidos não se consultaram nem negociaram sobre a questão tarifária, menos ainda alcançaram um acordo”, disse, em resposta a uma pergunta sobre as “constantes notícias do lado americano” sobre as tratativas.

O mesmo foi dito por Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, que afirmou que os diálogos não começaram.

“Acredito que as duas partes estão esperando para falar com a outra”, disse, durante um ato à margem das reuniões da primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, em Washington.

Bessent advertiu que os dois países não realizaram nenhuma conversa comercial. Fontes familiarizadas com as discussões disseram que Pequim deixou claro que via as tarifas de Trump como uma forma de intimidação econômica e não irá ceder.

O cenário é misto para os operadores. Ao mesmo tempo em que a falta de informações concretas sobre as negociações impõe cautela, a mera sinalização de que um acordo é possível inspira alívio.

Com isso, o dólar volta a ganhar espaço entre moedas fortes, revertendo parte das perdas causadas pela desconfiança dos investidores sobre os ativos dos Estados Unidos.

“O dólar continua a se estabilizar em relação à maioria das moedas, em meio a sinais de um abrandamento das tensões comerciais globais”, diz Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

O índice DXY -que compara a moeda a uma cesta de outras seis divisas fortes- avançou 0,31%, a 99,6 pontos.

Internamente, o mercado também repercutiu os dados de inflação do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15). O indicador fechou o mês de abril em 0,43%, puxado por aumentos nos preços dos alimentos e de gastos com saúde, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em março, o indicador havia ficado em 0,64%. Foi a segunda leitura seguida de desaceleração após o pico de 1,23% em fevereiro. Na base anual, o IPCA-15 somou 5,49% em abril, contra os 5,26% registrados no mês anterior.

A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta mensal de 0,43% e avanço anual de 5,49%.

O IPCA-15 sinaliza tendências para o IPCA, que mede a inflação oficial d o país e serve de referência para a condução da política monetária do BC (Banco Central).

O dado coloca à mesa a possibilidade do Copom (Comitê de Política Monetária) encerrar os apertos na taxa Selic já na próxima reunião, marcada para 6 e 7 de maio.

“Por um lado, não se observam indícios de piora na inflação, mas a manutenção em patamar elevado, especialmente do núcleo e dos serviços, sugere cautela. Não esperamos mudança na condução da política monetária, já que o Copom já antecipou que vai realizar um novo aumento nos juros, ainda que não tenha especificado a magnitude”, diz André Valério, economista sênior do Inter.

A expectativa da instituição é que haja uma nova alta de 0,50 ponto percentual na Selic, hoje em 14,25% ao ano, e que esse movimento seja o último do ciclo de apertos.

“Com sinais de desaceleração da atividade, além da expectativa de reversão da inflação de alimentos nos próximos meses, somada à apreciação do real, o aperto monetário atual é mais que suficiente para garantir o controle da inflação ao longo dos próximos trimestres.”