SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A onça-pintada capturada nesta quinta-feira (24), que teria matado e comido o corpo do caseiro Jorge Ávalos em Mato Grosso do Sul, segue debilitada após sua primeira noite recebendo cuidados médicos no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) de Campo Grande.

O animal está desidratado e apresenta alterações hepáticas, renais e gastrointestinais. Segundo o boletim médico divulgado nesta sexta-feira (25), os veterinários ainda aguardam laudos e resultados de exames – como raio-X, ultrassom e hemograma – para concluir o diagnóstico do estado de saúde da onça.

O felino, um macho de cerca de nove anos e com 94 quilos, está ”bem abaixo do peso” e em situação ”combalida”. Após retornar da anestesia, ele está consciente, não vomitou ou regurgitou e está se comportando ”dentro da normalidade”, ainda conforme o boletim.

Onça está sendo mantida em um ambiente com grades. nesta quinta-feira (24), o CRAS precisou ser isolado para a chegada da onça e a entrada de pessoas não autorizadas foi proibida no local para garantir o manejo adequado do animal e a proteção da população, de acordo com a Polícia Militar Ambiental.

Ainda não foi informado qual será seu destino após os procedimentos médicos. Tiago Leite, coordenador técnico do Instituto Profauna e biólogo especialista em Ecologia e Monitoramento Ambiental, diz que, nos bastidores, se estuda para onde enviá-lo, caso confirmada a relação no ataque de Jorge. Um das possibilidades é que seja translocado para outra área silvestre, “mais preservada e isolada da presença humana, para evitar futuros incidentes como esse”.

CASO É ‘RARÍSSIMO’

Situação de magreza do bicho pode ter contribuído para o ataque. ”Um animal magro pode já ser mais idoso ou está passando por algum tipo de problema e, portanto, pode estar tendo dificuldade de capturar suas presas habituais no ambiente natural. Isso pode ter levado ele a buscar fontes de recurso mais fácil, como a presa humana”, explicou Tiago Leite.

O biólogo falou ainda que ataques predatórios como esses são muito raros. Ele esclarece que, em áreas naturais sujeitas a impactos ambientes, há uma tendência de que animais passem a buscar tipos de presas não habituais, como animais domésticos e, raramente, humanos.

Casos do tipo geram desinformação e “pavor”, colocando animais em risco, conclui especialista. “Infelizmente, esse tipo de evento acaba ganhando grande repercussão por ser um evento traumático que causa um certo terror, e isso acaba gerando muita especulação e uma série de problemas”, diz. Ele alerta ainda que, após eventos como esses, a população pode buscar “fazer justiça com as próprias mãos”.

ENTENDA O CASO

Restos mortais de Jorge, 60, foram encontrados no último dia 22 próximos a uma propriedade rural de Aquidauana. Conforme divulgado por associações locais de pescadores, além dos policiais ambientais, familiares e guias da região encontraram partes do corpo de Jorge próximos de uma toca onde a onça repousava.

Homem foi atacado perto de um pesqueiro dentro do local onde trabalhava como caseiro da área de pesca. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram marcas de sangue vistas por moradores no sítio, conhecido como pesqueiro Touro Morto, no Pantanal, às margens do Rio Miranda.

Após a confirmação da morte de Jorge, órgãos estaduais iniciaram buscas pela onça. Uma equipe da Polícia Militar Ambiental foi designada para os trabalhos, acompanhada por Gediendson Ribeiro de Araújo, pesquisador da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e especialista em manejo de onças-pintadas, além de dois guias locais.