BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Por ordem do ministro Alexandre de Moraes, uma oficial de Justiça entrou no quarto de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital DF Star, em Brasília, nesta quarta-feira (23) para intimar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o início do processo penal em que é acusado de tentativa de golpe de Estado em 2022.
O STF (Supremo Tribunal Federal) informou, em nota, que esperava uma “data adequada” para que a intimação pessoal fosse feita a Bolsonaro -internado desde o último dia 11 e submetido a cirurgia no intestino.
A oficial de Justiça chegou ao hospital por volta das 10h30, segundo pessoas próximas de Bolsonaro informaram à reportagem. Ela entrou no quarto de UTI às 12h45, entregou os documentos e coletou a assinatura do ex-presidente.
“Certifico e dou fé que me dirigi, nesta data, […] ao Hospital DF Star, em Brasília/DF, onde, às 12h47, procedi à citação e intimação de Jair Messias Bolsonaro, que recebeu a contrafé e apôs seu ciente no anverso deste mandado”, comunicou a oficial da Justiça ao Supremo.
Bolsonaro deu uma entrevista na segunda (21) por vídeo ao SBT Brasil, da cama de seu quarto de UTI, e na terça-feira (22) participou de live em que conversou com Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, seus filhos. O ex-piloto Nelson Piquet também participou.
“A divulgação de live realizada pelo ex-presidente na data de ontem (22/4) demonstrou a possibilidade de ser citado e intimado hoje (23/4)”, disse o Supremo.
A citação pessoal e por escrito dos réus é um passo fundamental para o avanço da ação penal contra o ex-presidente. É por meio dessa intimação que começa a contar o prazo de cinco dias para a apresentação da defesa prévia, parte inicial do processo.
No fim da tarde, o ex-presidente divulgou em suas redes sociais vídeo do momento em que foi intimado, durante o qual fala por cerca de 11 minutos com a oficial da Justiça, mostrando contrariedade com a decisão de Moraes, de intimá-lo no hospital.
O ex-presidente se exaltou algumas vezes e chegou a gritar com um auxiliar que o alertava do aumento da pressão enquanto discursava.
Em meio a pedidos de desculpas, chegou a comparar a atuação da oficial da Justiça às pessoas que cumpriam ordens da Alemanha nazista. “Você só está cumprindo ordem aqui, mas o pessoal dos tribunais do Hitler também cumpriam sua missão: colocavam judeus na câmara de gás. Todos pagaram seu preço um dia. Não vai ser diferente no Brasil”, disse.
“Ele acha que me prendendo ou me tirando da vida pública, acabou. Está tudo resolvido a questão do Brasil aqui. E não é assim”, disse.
A intimação foi determinada por Moraes a todos os oito réus em 11 de abril. Todos os denunciados, exceto Bolsonaro, foram notificados pessoalmente até o dia 15 de abril. Os prazos começaram a se encerrar na terça, e as defesas de Mauro Cid, Augusto Heleno e Almir Garnier já apresentaram suas posições.
A transmissão na terça foi promovida pelos filhos de Bolsonaro para vender capacetes de grafeno de marca lançada recentemente, da qual Jair quanto Flávio são sócios.
Na live, eles aproveitaram para falar sobre o que consideram “perseguição política” contra o ex-presidente e criticar Moraes.
Bolsonaro foi internado para tratar complicações recorrentes desde a facada sofrida em 2018. Ele passou por uma cirurgia de 12 horas no dia 13.
Além da participação em entrevistas e lives, Bolsonaro recebeu a visita do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na terça-feira. “Fiquei cerca de 1h30 ao lado dele, tivemos uma ótima conversa e saí de lá muito feliz ao ver que está cada dia melhor. Estou na torcida pela recuperação total e o mais rápido possível”, escreveu o dirigente partidário.
De acordo com boletim médico divulgado na terça pelo Hospital DF Star, Bolsonaro permanece na UTI, sem previsão de alta e com “recomendação de não receber visitas”.
A intimação de Bolsonaro dentro do quarto de UTI foi alvo de críticas de aliados do presidente. O ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten escreveu que é “inconcebível um oficial de Justiça entrar num leito de UTI”.
“O dia de hoje fica marcado como mais uma aberração para a triste biografia jurídica do Brasil”, escreveu.
O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), disse que a situação é inacreditável. “Em vez de respeitarem sua fragilidade, mandam oficial de justiça dar recado. A perseguição não conhece limites”, afirmou.
O ex-ministro e deputado Eduardo Pazuello disse que a intimação na UTI é desumana e cruel. “Aos 70 anos, lutando pela sua recuperação, ele ainda enfrenta tamanha perseguição política: um oficial de justiça foi até a sala em que estava para notificá-lo de um processo. Isso é inaceitável”.