BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Morto na segunda-feira (21), aos 88 anos, Francisco determinou uma simplificação considerável dos procedimentos para o funeral dos pontífices, incluindo um caixão menos elaborado e uma exibição menos imponente do papa defunto diante dos fiéis reunidos no Vaticano.
O contraste com os papas do passado, além de tentar transmitir a imagem de humildade que o prelado argentino adotou para seu pontificado, também pode minimizar as chances de situações constrangedoras que marcaram alguns funerais de pontífices.
Os casos mais famosos envolveram problemas no embalsamamento dos cadáveres papais, uma técnica que envolve a substituição dos fluidos corporais por substâncias preservativas e a possível retirada de gases que se acumulam nas cavidades durante o processo de decomposição.
O emprego de um suposto novo e melhorado coquetel de embalsamamento por parte de Riccardo Galeazzi-Lisi, médico pessoal do papa Pio 12, morto em 1958, fez na verdade com que a decomposição se acelerasse, produzindo fortes odores, escurecendo e desfigurando o rosto do pontífice.
Segundo relato do jornal The New York Times da época, o método não requeria cirurgia ou evisceração. Galeazzi-Lisi teria se declarado confiante de que o corpo de Pio 12 duraria indefinidamente sem se decompor.
O médico, um oftalmologista sem muita experiência clínica e cuja ascensão ao cargo, por relações pessoais anteriores com o então papa, tornara-se motivo de desconfiança após a morte do pontífice, afirmou à época que o método era o mesmo usado pelos primeiros cristãos.
“O método consistiu essencialmente em borrifar sobre o corpo e as roupas do papa resinas, óleos e outros compostos químicos. Nenhuma injeção foi usada, e um lençol de celofane foi colocado e deixado sobre o corpo por vinte horas”, de acordo com o New York Times.
O jornal americano diz apenas que “o método e seus resultados, como vistos por centenas de milhares de pessoas que passaram pelo corpo do papa, provocou controvérsia na imprensa e na classe médica”.
Galeazzi-Lisi foi posteriormente repreendido pelo Vaticano, acusado pelo governo da Itália por sua conduta e impedido de exercer a profissão após a morte de Pio 12.
O motivo, porém, tem relação com o fato de que ele teria vendido e publicado na imprensa italiana relatos e fotos das últimas horas do pontífice, o que foi visto como falta de ética profissional. O médico, segundo o New York Times, defendeu-se à época dizendo que não traiu preceitos éticos da profissão e que “o segredo médico termina com a morte do paciente”.
Algo parecido, embora menos dramático, aconteceu com o cadáver de Paulo 6º, morto em 1978, que passou a adquirir uma tonalidade esverdeada durante os dias de velório.
Os últimos dois papas antes de Francisco, Bento 16 e João Paulo 2º, não teriam sido embalsamados, de acordo com informações do Vaticano. Eles mantiveram, porém, o costume de usar três caixões: um de madeira de cipreste, coberto por outro de chumbo e, por fim, mais um de madeira.
Francisco decidiu ser enterrado em apenas um caixão, de madeira com revestimento de zinco. Ele também pediu para ser sepultado fora do Vaticano propriamente dito, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, por causa de sua devoção à antiga imagem da mãe de Jesus preservada nela.