SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma nova pesquisa identificou que bebês de 15 meses (cerca de um ano e três meses) são capazes de identificar objetos que nunca viram somente pelo contexto, através de nomes. Já naqueles de um ano (12 meses), essa capacidade ainda não se mostrou bem desenvolvida.

O estudo abre novos horizontes para investigar a origem e o desenvolvimento da linguagem humana nos primeiros meses de vida.

O artigo foi publicado na revista especializada PLOS One nesta quarta-feira (23).

Para chegar a essa conclusão, Sandra Waxman, do departamento de psicologia da Universidade de Northwestern, em Evanston, Illinois (EUA), e Elena Luchkina, do departamento de psicologia da Universidade de Harvard, analisaram 134 bebês, sendo 67 de 12 meses e 67 de 15 meses de idade, em dois experimentos diferentes para testar a habilidade de fazer uma inferência de um novo objeto a partir do contexto. Os bebês foram divididos em três grupos por idade, sendo um estimulado visualmente, um que só ouviu os nomes desconhecidos, mas não teve uma indicação visual, e um grupo controle.

No experimento 1, bebês de 15 meses foram, em um primeiro momento, preparados visualmente com objetos de diferentes categorias, como frutas e animais. Depois, ouviram uma palavra desconhecida —como carambola—, usada para rotular um objeto escondido. Em seguida, eles foram apresentados a dois itens inéditos, um da mesma categoria (frutas) e outro não relacionado (por exemplo, utensílios), e foram estimulados a apontar a um dos dois objetos. Os bebês conseguiram com sucesso relacionar a palavra ao objeto que ela nomeava, mesmo sem nunca terem ouvido antes.

Luchnika, uma das autoras do , explica que isso indica que, aos 15 meses, os bebês já possuem a maquinaria cognitiva necessária para interpretar conceitos abstratos, mesmo em uma fase pré-linguística, ou seja, ainda sem o desenvolvimento total da fala. “Isso tem implicações para como conceituamos a compreensão inicial da comunicação pelos bebês, isto é, eles não apenas mapeiam os objetos visíveis, mas estão ativamente construindo representações [de objetos] a partir de vocábulos e de conceitos abstratos sem experiência direta”, disse.

Em um segundo experimento, as cientistas repetiram os testes com bebês de 12 meses, mas dessa vez também selecionaram um grupo menor (53) que foi treinado por sete dias para reconhecer novos vocábulos. Em ambos os casos, os bebês dessa idade não tiveram sucesso em nomear objetos desconhecidos.

A pesquisa demonstra, pela primeira vez, que há uma mudança significativa no desenvolvimento da compreensão entre os 12 e os 15 meses de idade, quando os bebês começam a usar a linguagem não apenas para rotular o que está à sua frente, mas para aprender sobre o que está escondido ou mesmo não existe no ambiente.

Para a pesquisadora, essa diferença entre os bebês de 12 e 15 meses demonstra que há uma mudança significativa no desenvolvimento da compreensão nesses três meses. “Múltiplos sistemas cognitivos provavelmente se desenvolvem em paralelo nessa fase, permitindo que os bebês alcancem este salto representacional aos 15 meses, como a expansão do vocabulário, melhora na memória e maior atenção aos sinais sociocomunicativos, como apontar, nomear e olhar”, explica.

No entanto, são necessários mais estudos para entender mais precisamente quais seriam as limitações cognitivas que impedem bebês de 12 meses de terem sucesso nessas tarefas, ressalta a pesquisadora.

Os achados até então podem auxiliar no aprimoramento de técnicas e intervenções para crianças com atraso de linguagem, por exemplo. “Isso nos dá pistas de qual o momento e o conteúdo necessário dos programas de enriquecimento linguístico aos 15 meses de idade e, para crianças com atrasos de linguagem, estratégias direcionadas que enfatizem a preparação semântica e o reforço do contexto linguístico poderiam melhorar seus resultados de aprendizagem e desenvolvimento conceitual”, afirma.

Um estudo longitudinal já está em andamento pela dupla de cientistas para explorar se essa capacidade precoce prediz como as crianças aprendem a partir de nomes mais tarde na infância, e se esse processo inicial de inferência a partir do contexto pode estabelecer as bases para a compreensão de ideias mais complexas e abstratas.

“Esperamos descobrir se as diferenças individuais precoces na representação de objetos não vistos e na aprendizagem de seus nomes podem predizer capacidades maiores de aprendizagem a partir da linguagem, incluindo aquela associada a conceitos abstratos, fenômenos não vistos ou cenários hipotéticos apenas através da linguagem”, finaliza.