O Vaticano amanheceu em silêncio solene nesta quarta-feira (23), enquanto o corpo do Papa Francisco era conduzido por uma procissão de cardeais, bispos e sacerdotes até a Basílica de São Pedro — onde agora repousa diante do altar da confissão, sob a cúpula de Michelangelo. Eram 11h (6h em Brasília) quando as portas se abriram para o público, e a Praça São Pedro voltou a se encher de fiéis vindos de diversas partes do mundo para prestar a última homenagem ao líder da Igreja Católica, falecido aos 88 anos na última segunda-feira (21).
O cortejo fúnebre partiu de sua residência em Santa Marta por volta das 9h locais, ao som das antífonas e salmos entoados pelo Coro da Capela Sistina. Na entrada da Basílica, foi entoada uma ladainha com os nomes de santos e papas canonizados, entre eles João Paulo II e Paulo VI, em reverência à longa tradição da Igreja.
Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, argentino, será velado em um caixão aberto de madeira e zinco, vestido com casula vermelha e mitra branca, com um rosário nas mãos. O pedido por uma cerimônia discreta, sem o esquife elevado tradicional, reflete o espírito de simplicidade que marcou seu pontificado ao longo dos últimos 12 anos.
Milhares de pessoas já formam filas na Praça São Pedro, e a expectativa do Vaticano é que o número de presentes ultrapasse os 200 mil que compareceram ao velório do Papa Bento XVI em 2022. A época do ano e o perfil carismático de Francisco devem ampliar ainda mais a presença popular, especialmente entre os que o acompanharam em sua última aparição pública, no domingo de Páscoa.
A Missa das Exéquias será celebrada no sábado, 26, marcando o fim do velório público e o início de nove dias de luto e orações. Em seguida, Francisco será sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, uma igreja do século V que ele frequentemente visitava em momentos importantes de seu papado. A escolha do local — em vez da cripta da Basílica de São Pedro, onde são enterrados os papas há séculos — foi uma decisão pessoal, anunciada por ele em 2023.
Com sua morte, encerra-se um ciclo que reformulou a imagem da liderança católica. E inicia-se o ritual de transição mais simbólico da Igreja: o de dizer adeus a um papa que preferiu a sobriedade à ostentação, e que sempre buscou caminhar próximo dos que mais precisavam ser ouvidos.