Mesmo após sucessivas tragédias causadas pelas chuvas, os investimentos em drenagem e manejo de águas pluviais no Brasil seguem muito abaixo do necessário. Segundo levantamento do Instituto Trata Brasil, divulgado nesta quarta-feira (23), entre 2017 e 2023, os aportes anuais ficaram em torno de R$ 10 bilhões — menos da metade do valor considerado ideal para universalizar o serviço até 2033, conforme as metas do Marco Legal do Saneamento. O necessário, segundo o estudo, seria ao menos R$ 22 bilhões por ano.

Os desafios são especialmente evidentes em municípios de médio e pequeno porte. Dados do último Diagnóstico Temático do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico revelam que 32,49% das 4.958 cidades analisadas não possuem qualquer sistema de drenagem. Em 12,59%, o mesmo sistema é utilizado para escoamento de esgoto e águas pluviais.

Apesar de quase 80% das vias urbanas estarem pavimentadas, apenas 33,5% contam com redes pluviais subterrâneas. Outro dado alarmante: apenas 263 municípios (5,3%) possuem planos diretores específicos para drenagem e manejo de águas pluviais. Menos ainda — somente 157 cidades, o equivalente a pouco mais de 3% — contam com sistemas de tratamento da água da chuva.

“O cenário da drenagem e manejo de águas pluviais no Brasil é extremamente precário e isso leva a um risco direto para a vida da população”, afirma Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil. “Não investir no tema é condenar milhões de brasileiros a uma vida de incertezas.”

Luana destaca ainda que o início dos novos mandatos municipais é uma oportunidade estratégica para que prefeitos incorporem projetos de drenagem urbana aos seus planejamentos e orçamentos.

De acordo com o estudo, entre 1991 e 2023, o país registrou quase 26 mil desastres hidrológicos, que resultaram em 3.464 mortes e mais de R$ 151 bilhões em prejuízos. Cerca de 74% desses eventos estiveram diretamente ligados a chuvas intensas. O número não inclui ainda os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul em 2024, que deixou 183 mortos e 27 desaparecidos.