SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais de cem líderes de universidades, faculdades e sociedades acadêmicas publicaram nesta terça-feira (22) uma declaração conjunta contra o tratamento dado pelo governo de Donald Trump às instituições de ensino superior, em reação às ameaças de interferência na autonomia de Harvard.

Assinada pelos reitores de instituições como Princeton, Yale, Brown e a própria Harvard, o documento critica o que descreveu como “intromissão governamental sem precedentes e interferência política que agora estão colocando em perigo o ensino superior americano”.

A carta foi publicada um dia depois de Harvard processar o governo Trump devido aos cortes de financiamento da instituição e da tentativa de impor supervisão política externa. Ainda nesta terça, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que a gestão responderá ao processo no tribunal e que, além disso, a universidade foi a responsável por se colocar nessa posição.

Desde sua posse, em janeiro, Trump tem reprimido as principais universidades dos EUA, dizendo que elas lidaram mal com os protestos pró-Palestina do ano passado e permitiram que o antissemitismo se propagasse nos campi.

“Estamos abertos a reformas construtivas e não nos opomos à supervisão governamental legítima. No entanto, devemos nos opor à intrusão indevida do governo”, afirma a carta. “Devemos rejeitar o uso coercitivo de recursos públicos para a pesquisa.”

A declaração conjunta é a mais recente reação dos líderes universitários dos EUA contra a tentativa do governo Trump de impor mudanças à academia usando seu poder financeiro. Em 14 de abril, Harvard rejeitou várias demandas do governo, que tenta supervisionar alunos, professores e o currículo da universidade em um esforço para conter o que considera como viés progressista.

Pouco depois, o governo Trump anunciou que estava congelando US$ 2,3 bilhões (cerca de R$ 13 bilhões) em financiamento federal para a instituição. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Harrison Fields, Trump quer garantir que recursos públicos não financiem discriminação racial nem violência motivada por questões raciais.

O governo também ameaçou revogar a isenção de impostos de Harvard e impedir a universidade de matricular estudantes estrangeiros.

A universidade, em resposta, processou o governo Trump para tentar suspender o congelamento de fundos e anular as exigências feitas, acusando o Executivo de tentar “reformar a governança de Harvard, controlar a contratação de professores e ditar o conteúdo das aulas” por motivos ideológicos.

Harvard disse em sua ação que as tentativas do governo de “coagir e controlar” a universidade violavam as proteções da Constituição para a liberdade de expressão. Também acusou o governo de não seguir os procedimentos estabelecidos pelas leis federais de direitos civis.

O governo Trump também mira as universidades por temas como direitos de pessoas transgênero e programas de diversidade, equidade e inclusão, ameaçando cortar o financiamento federal por essas razões.

A Universidade Columbia foi um alvo inicial e cedeu a algumas das exigências do governo, como trocar a liderança do departamento de Estudos do Oriente Médio e nomear um gestor para revisar currículo e corpo docente. Trump, então, passou a se concentrar em exigir mudanças em Harvard.

Em 15 de abril, mais de 60 ex-dirigentes e atuais líderes de faculdades e universidades assinaram uma carta aberta em que “apoiam fortemente” a rejeição das demandas do governo feita pelo reitor interino de Harvard, Alan Garber.