SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu, nesta segunda-feira (21), o jornalista e escritor Matías Molina, referência na cobertura econômica, aos 87 anos. A causa da morte não foi divulgada até o momento.
Na Folha de S.Paulo, Molina trabalhou de 1973 a 1975 e foi editor de Mercado e redator de Mundo. Também teve passagem pelo Grupo Abril, onde foi o primeiro editor da revista Exame. Trabalhou ainda por quase três décadas na Gazeta Mercantil, onde foi editor-chefe e correspondente em Londres.
Molina e outros dois jornalistas então na Gazeta Mercantil, Roberto Müller (1942-2024) e Celso Pinto (1953-2020), principal idealizador do jornal Valor Econômico, foram fundamentais para formar toda uma geração de profissionais na área de economia.
Ao lado de Müller, que iniciou a carreira na Folha de S.Paulo na equipe em que Molina era então editor, lutou sem sucesso para manter a Gazeta Mercantil ativa, até seu fechamento em 2009.
Chefe rigoroso e professoral com seus subordinados numa época sem internet ou emails, Molina dizia a todo momento aos jornalistas na Gazeta Mercantil -com uma fala rápida e forte sotaque espanhol- que “lugar de repórter é na rua”.
Sempre engravatado, o que era praxe pelo seu exemplo na Gazeta Mercantil, costumava colocar os novatos para elaborar textos para a seção Conjuntura. Era um modo de fazê-los ouvir várias pessoas sobre um mesmo assunto (como aço, mercado de veículos ou agronegócio) para que entendessem a área e criassem contato mais estreito com muitas fontes de informação.
Circulando o tempo todo pela Redação, acompanhava de perto o trabalho dos profissionais mais jovens, com perguntas variadas e pertinentes sobre como tinham chegado a determinada conclusão em um texto. Quase sempre havia algo a ser acrescentado ou informação a ser corrigida, obrigando repórteres a voltarem às máquinas de escrever.
Reforçava também aos mais novos a lição de que o objetivo não era saber de tudo e que não precisavam se envergonhar de fazer todas as perguntas necessárias para reportar com precisão.
Na edição, desestimulava a utilização excessiva do off-the-record (quando as fontes não são identificadas), que precisava de sua autorização e de ter pelo menos duas confirmações, principalmente na cobertura política. Defendia textos sóbrios, sem jargão ou excesso de tecnicismos não explicados.
Não raro, chegava a telefonar para jornalistas veteranos em casa, numa época sem celular nos anos 1980 e começo dos 1990, para checar informações antes de publicá-las. Ou para o bar Mutamba, vizinho à rua Major Quedinho, 90, no centro de São Paulo, endereço em que a Gazeta Mercantil funcionou durante muitos anos.
Nascido na Espanha, Molina chegou ao Brasil com a mãe, aos 17 anos, decidindo ficar no país, mesmo depois que ela foi embora. Tornou-se historiador pela USP (Universidade de São Paulo) e se dedicou a escrever livros sobre a história da imprensa.
Ele é autor de “Os Melhores Jornais do Mundo – Uma Visão da Imprensa Internacional”, publicado em 2008 pela editora Globo, e iniciou a trilogia “A História dos Jornais do Brasil”, cujo primeiro volume chegou às livrarias, em 2015, pela Companhia das Letras.
Resultado de décadas de pesquisa, o primeiro volume recuperou a história de jornais brasileiros de 1500 a 1840, dando aos leitores uma visão inédita sobre como a imprensa se constituiu no país, percorrendo os anos em que a corte portuguesa se instalou no Rio de Janeiro até a Independência.
Molina foi sepultado nesta terça-feira (22), no cemitério Morumby, no bairro Morumbi, na zona sul de São Paulo.