BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do Palácio do Planalto se irritaram com a possível recusa do líder do União Brasil na Câmara dos Deputados, Pedro Lucas (MA), em comandar o Ministério das Comunicações após o parlamentar ter sido anunciado pelo próprio governo Lula (PT) para compor o primeiro escalão petista.

Esses aliados do presidente da República agora discutem rever o espaço do partido na Esplanada.

Como a Folha de S.Paulo antecipou, o deputado afirmou a aliados no final de semana que deverá rejeitar o convite de Lula. Até a tarde desta terça-feira (22), no entanto, o governo ainda não havia sido formalmente avisado.

Pedro Lucas foi anunciado para substituir Juscelino Filho nas Comunicações no último dia 10, após o então ministro ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), sob acusação de corrupção passiva e de outros crimes relacionados a suposto desvio de emendas.

O anúncio do substituto foi feito pela ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) após reunião no Palácio da Alvorada com Lula, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e Juscelino.

No encontro, segundo o governo, Pedro Lucas aceitou o convite, mas pediu um prazo para discutir internamente sua sucessão na liderança do partido na Câmara.

Dias antes, Alcolumbre já havia telefonado para o presidente da República afirmando que o deputado era o nome indicado pelo partido para ocupar o posto, levando Lula a citar nominalmente o parlamentar como a primeira opção para o ministério.

Um dia depois da reunião no Alvorada, no entanto, Pedro Lucas divulgou nota afirmando que ainda precisaria consultar a bancada do partido na Câmara e, após as conversas, indicou nos últimos dias que não deve aceitar.

Um auxiliar de Lula disse que esse movimento foi um desrespeito do partido ao governo federal. Segundo ele, isso poderá levar o Executivo a repensar os espaços do União Brasil no primeiro escalão petista -e que isso dependerá de como a sigla conduzir esse processo daqui para frente.

Esse aliado do presidente da República indicou ainda que o Ministério das Comunicações pode ser direcionado para outro partido e afirmou que na política não há espaços vazios. A bancada do PSD na Câmara, por exemplo, tem se queixado do espaço no Ministério da Pesca e está mirando o Turismo, chefiado pelo União Brasil.

Hoje, o partido comanda três ministérios. Além das Comunicações e do Turismo, indicou o ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes.

Apesar disso, um ministro defende que o Executivo não tome nenhuma decisão que possa tensionar ainda mais a relação com o partido no Congresso. O União Brasil tem a terceira maior bancada na Câmara (com 59 deputados) e sete senadores, sendo um deles Alcolumbre.

Já um outro aliado de Lula com assento no Palácio do Planalto diz que o governo não ficará de braços cruzados esperando um posicionamento do partido. Ele minimiza o constrangimento público com a provável recusa do parlamentar e defende que o efeito negativo não será à imagem do governo, mas do partido, por expor suas divergências em público.

O União Brasil é marcado por divisões internas. A sigla surgiu da fusão do antigo DEM e do PSL em 2022 como uma legenda de centro-direita. Hoje, há uma ala mais governista e outra oposicionista.

Pedro Lucas indicou a aliados que recusará o ministério para permanecer como líder da bancada na Câmara e evitar outra eleição para o cargo. A sua escolha foi um processo longo, de quase três meses, por causa dos conflitos internos entre os diferentes grupos da legenda, até que prevaleceram os aliados do presidente do União Brasil, Antonio Rueda.

Aliados do deputado dizem que ele poderá ajudar mais o governo permanecendo na liderança. Isso porque ele é da ala governista e esse movimento evita que um nome oposição entre em seu lugar.

Embora tratem como um problema do partido, até mesmo petistas reconhecem que esse vaivém gera desgastes para o Palácio do Planalto. Reservadamente, dizem que isso expõe uma falha na estratégia política do governo, já que o encontro de Pedro Lucas com Lula deveria ter ocorrido apenas após o convite estar devidamente aceito, para evitar o constrangimento de uma recusa.

Outro parlamentar diz que isso representa uma desmoralização do Executivo perante o Congresso, expondo o governo federal num momento em que o Palácio do Planalto tem uma baixa popularidade e em ano pré-eleitoral, com partidos da base aliada ameaçando lançar candidatos à Presidência em 2026.

Apesar disso, aliados do parlamentar também dizem enxergar como um erro essa postura do deputado e do partido. Eles afirmam que, com esse gesto, Pedro Lucas poderá ficar desgastado junto a membros do Executivo e parlamentares governistas.

Por outro lado, também há críticas em relação a Alcolumbre. Deputados do União Brasil dizem enxergar uma postura do senador de interferir na bancada da Câmara e precipitar as negociações para conseguir emplacar Juscelino, seu aliado, no lugar de Pedro Lucas.