SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta forte queda nesta nesta terça-feira (22), volta do feriado prolongado no Brasil. Os investidores repercutem novos ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao dirigente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, e aguardam mais notícias sobre tarifas.

Às 12h44, a moeda caía 1,13%, cotada a R$ 5,741. Já a Bolsa subia 0,60%, a 130.434 pontos, seguindo os índices do exterior.

Trump tem um novo alvo: Jerome Powell. O republicano voltou a atacar o presidente do banco central dos EUA no feriado, impondo ainda mais cautela aos mercados.

Na segunda, Trump escreveu que a economia norte-americana pode passar por uma desaceleração se a taxa de juros não for reduzida imediatamente.

“Com esses custos tendendo tão bem para baixo, exatamente o que eu previ que eles fariam, quase não pode haver inflação, mas pode haver uma DESACELERAÇÃO da economia, a menos que o Sr. Too Late [tarde demais, em tradução literal], um grande perdedor, reduza as taxas de juros, AGORA”, postou na Truth Social.

A declaração se soma a outras críticas recentes de Trump a Powell, a quem tem ameaçado de demissão por conta da política monetária do Fed. Na sexta-feira, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, chegou a dizer que o desligamento está sendo estudado pela equipe do republicano.

Trump tem criticado Powell repetidamente por não reduzir as taxas de juros com a rapidez que julga adequada. O presidente do Fed, por outro lado, afirmou que nunca será influenciado por pressões políticas e que a autoridade monetária está atenta aos desdobramentos do tarifaço na economia.

Especialistas dão como certo que as sobretaxas de importação aumentarão os preços ao consumidor final, e o Fed tem adotado uma postura de “ver para agir”. Como a função dos juros é frear o avanço da inflação, é possível que o banco central mantenha a taxa no atual patamar de 4,25% e 4,5% por mais tempo ou até volte a elevá-la se o repique inflacionário se concretizar.

Mas o temor não é de uma elevação na taxa de juros. “Se tem uma coisa que o mercado não gosta é briga entre o presidente de um país e o presidente do banco central desse país, que, por sinal, é o mais importante do mundo”, diz Alison Correia, analista de investimentos e sócio fundador da casa de análise Top Gain.

O mercado tem colocado na ponta do lápis a possibilidade de uma intervenção no banco central, cuja independência é considerada um importante pilar da segurança financeira do país. Temores de uma eventual influência política estão afastando investidores de ativos de lá, sobretudo dólar, títulos do Tesouro e ações em Wall Street, e colocando em xeque a tese de excepcionalismo norte-americano —isto é, de que os EUA são o mercado mais seguro do mundo.

“Remover a independência do Fed seria outro golpe à credibilidade duramente conquistada pelas instituições financeiras dos Estados Unidos”, disse Trevor Greetham, chefe de multiativos da Royal London Asset Management.

Já analistas do MUFG disseram que a “venda tripla de dólar, títulos e ações dos EUA destaca que as ameaças à independência do Fed estão minando ainda mais a confiança dos investidores nos ativos americanos”.

Os operadores agora estão à procura de investimentos ainda mais seguros. O ouro, por exemplo, atingiu o recorde de US$ 3.500 a onça troy pela primeira vez nesta terça, enquanto o iene japonês alcançou ¥ 140 por dólar, maior patamar desde setembro.

A rusga entre Trump e Powell tomou os mercados na segunda-feira, feriado de Tiradentes no Brasil, resultando em um novo tombo em Wall Street e uma mínima de três anos no DXY, o índice que compara o dólar a uma cesta de outras seis moedas fortes.

Nesta sessão, os ativos estão em recuperação. O índice S&P500 subia 1,5%, o Nasdaq Composite avançava 1,91% e o Dow Jones tinha alta de 1,8%. O dólar ainda subia 0,17% no DXY, a 98,54 pontos.

As atenções também estão voltadas para o avanço de negociações comerciais entre os EUA e parceiros comerciais, que buscam reduzir ou eliminar completamente as tarifas anunciadas por Trump no início do mês.

Na semana passada, os norte-americanos sentaram à mesa com o Japão —uma espécie de “cobaia” dos acordos comerciais do tarifaço.

Tóquio enviou o ministro da Revitalização Econômica, Ryosei Akazawa, para dar início ao diálogo. Já Washington contou com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante comercial Jamieson Greer.

Trump também participou das discussões. Segundo ele, houve “grande progresso” e o encontro “foi uma grande honra”, sem fornecer mais detalhes sobre as negociações.

O Japão visa reduzir ou eliminar a tarifa “recíproca” imposta por Trump em 2 de abril, o apelidado “dia da libertação”. A sobretaxa para o país asiático foi de 24%, embora essa cobrança, assim como a maioria das tarifas do republicano, tenha sido suspensa por 90 dias.

Entre as autoridades japonesas, a percepção é de que as discussões “não serão fáceis”.

“Claro, o diálogo daqui para frente não será fácil, mas o presidente Trump expressou seu desejo de dar máxima prioridade às negociações com o Japão”, disse o primeiro-ministro Shigeru Ishiba. “Reconhecemos que esta rodada de diálogo criou uma base para os próximos passos e apreciamos isso.”

Ishiba reforçou que o país não tem pressa em chegar a um acordo e não planeja fazer grandes concessões. Ele ainda descartou, por enquanto, a possibilidade de contramedidas às tarifas dos EUA.