SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A notícia da morte do papa Francisco pegou o padre Anderson Antonio Pedroso, 50, de surpresa. Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) desde 2022, ele estava em um avião, voltando para o Brasil após passar a Semana Santa em Roma, quando soube do acontecimento.

“Estou bastante comovido porque é um grande ciclo que se fecha”, conta o padre, que se encontrou com Francisco, no final de 2023, no Vaticano

O reitor, jesuíta como o papa, lembra que eles conversaram sobre diferentes assuntos, dos grandes aos pequenos. “Era um papa que enxergava os grandes desafios globais, mas também os pequenos conflitos locais”, conta.

Os dois trataram de questões da geopolítica, incluindo a preocupação do pontífice com o enfraquecimento da democracia na América Latina devido ao avanço da extrema direita na região.

Francisco também compartilhou a vontade de visitar a China, desejo inspirado pelo missionário Matteo Ricci, um dos primeiros a pisar em solo chinês. “Ele sonhava em levar a Igreja nessa mesma direção, promovendo um grande diálogo com a China,” afirma.

O interesse do papa ainda se voltou ao dia a dia, segundo Pedroso. Francisco quis saber como estava sua família, o número de alunos na universidade do Rio e os projetos que estavam em andamento. “Foi como conversar com um membro da família”, conta.

Para Pedroso, Francisco deixa um legado no mundo secular, incluindo a preocupação com a crise climática, que se tornou ensinamento da Igreja. “Quando um papa publica um ensinamento, ele fica gravado de forma permanente na história milenar dos católicos. Nenhum outro papa tratou o tema com essa profundidade”, diz o reitor.

“Não era um documento sobre devoções, mas um escrito sobre um tema de relevância mundial”, continua o reitor. Essa abordagem, segundo ele, fez com que o pontífice fosse escutado também em círculos não religiosos, o que ampliou o alcance da Igreja em temas globais.

Mas o que mais chamou a atenção do padre durante a conversa não foram as palavras, mas os gestos do papa. “Era uma sensibilidade que se manifestava nas coisas mais simples. O gesto de abrir a porta, de ouvir com atenção, de olhar com profundidade, de oferecer ajuda. Até na hora de tirar foto”.

Pedroso conta que pediu uma fotografia com ele e, no mesmo momento, o papa abriu a porta e chamou o guarda suíço para fazer o registro. Até ali, diz o padre, havia profundidade no comum, com sentido de sagrado.