SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente russo, Vladimir Putin, decretou neste sábado (19) que suas tropas realizem um cessar-fogo na Ucrânia por causa da Páscoa e pediu a Kiev que respeite a trégua.
“Hoje, das 18h (12h no horário de Brasília) até a meia-noite de domingo (18h no horário de Brasília), a parte russa declara uma trégua de Páscoa”, afirmou Putin durante uma reunião televisionada com o chefe do Estado-Maior russo, Valeri Guerasimov.
“Com base em considerações humanitárias, o lado russo anuncia uma trégua de Páscoa. Ordeno a suspensão de todas as atividades militares durante este período”, disse o líder russo.
O Ministério da Defesa afirmou ter dado instruções sobre o cessar-fogo a todos os comandantes de grupos na área da “operação militar especial”, eufemismo usado pelo Kremlin para a guerra.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse na rede X que respeitará a trégua. “Se a Rússia está repentinamente disposta a se comprometer de verdade (…), a Ucrânia atuará em consequência, refletindo as ações russas”. Mais cedo, porém, afirmou que a defesa aérea ucraniana estava repelindo ataques de drones em meio ao anúncio e que isso mostrava a real atitude de Putin.
Já o chanceler ucraniano, Andrii Sibiha, declarou esperar “fatos, não palavras” de Moscou. Segundo Sibiha, a posição de Kiev continua a mesma em relação a concordar com a proposta dos EUA de um cessar-fogo de 30 dias, como foi sugerido em encontro na Arábia Saudita em março. Agora, de acordo com o chanceler, Putin quer “30 horas [de trégua] em vez de 30 dias”.
Paralelamente, o Ministério da Defesa russo afirmou que a Rússia e a Ucrânia realizaram neste sábado uma troca de prisioneiros. Em uma publicação no aplicativo de mensagens Telegram, Zelenski disse que 277 militares ucranianos haviam retornado para casa após o cativeiro russo.
O Ministério da Defesa da Rússia informou que 246 militares foram entregues por Kiev. Acrescentou que outros 31 prisioneiros de guerra feridos foram entregues à Ucrânia e que 15 de seus próprios soldados feridos também foram devolvidos por Kiev.
Os prisioneiros de guerra russos estão na vizinha Belarus, onde recebem atendimento médico e psicológico.
Também neste sábado, Putin disse a Gerasimov que a Rússia aprecia os esforços dos EUA, China e países do Brics para encontrar uma solução pacífica para o conflito.
Na sexta-feira (18), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pode desistir de tentar resolver a Guerra da Ucrânia se Moscou e Kiev tornarem muito difícil encerrar o conflito. “Vamos passar [se não for possível a negociação]”, disse a repórteres.
Trump declarou, porém, que isso não significava o abandono americano do diálogo de paz, mas que os EUA viam a situação chegar a um “ponto crítico”. O republicano iniciou o mandato dizendo que poderia resolver a guerra em 24 horas.
Na véspera, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, havia reforçado essa posição dizendo que os Estados Unidos abandonariam os esforços para intermediar um acordo de paz a menos que houvesse sinais claros de progresso em breve. “Se for [possível], estamos dentro. Se não for, temos outras prioridades”, afirmou ele, pouco depois de se reunir na capital francesa com Emmanuel Macron e representantes de Reino Unido e Alemanha para discutir o plano americano para suspender a guerra.
A interlocução com as três maiores potências europeias encerra semanas de diálogos difíceis sobre o tema. A perspectiva de os EUA forçarem um acordo de paz muito favorável a Putin era vista com preocupação pela União Europeia, que anunciou medidas para aumentar os investimentos em defesa do bloco.
O tom de ultimato de Rubio concorre com o conteúdo do memorando que EUA e Ucrânia sobre a exploração de minerais raros, algo que o presidente americano disse encarar como uma espécie de pagamento do apoio financeiro dado a Kiev desde 2022.
No último domingo (13), forças da Rússia promoveram um dos mais mortíferos ataques contra civis na Guerra da Ucrânia, quando ao menos 34 pessoas morreram em Sumi, capital da província homônima no nordeste do país invadido por Vladimir Putin em 2022.