SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No início dos anos 2010, com o rap americano já estabelecido como um fenômeno pop mundial, produtores da cena eletrônica do Reino Unido criaram suas próprias vertentes de hip-hop instrumental e passaram a atrair os ouvidos dos rappers mais antenados. Um dos artistas que se destacou nesta cena foi Hudson Mohawke, produtor escocês que viria a trabalhar com Kanye West, Drake e A$AP Rocky ao longo da década, e que se apresenta neste sábado no Gop Tun Festival, em São Paulo.
Essa é a terceira vez que Mohawke, cujo nome real é Ross Birchard, se apresenta no país -em 2012, ele tocou no Sónar Festival no Anhembi, e, em 2023, no Primavera Sound no Autódromo de Interlagos.
Mas é a primeira vez que ele vem ao país para um evento menor e mais focado na música eletrônica, mais em linha com as festas em que ele se apresenta ao redor do mundo. “Nesses grandes festivais, você nunca sabe com quem [sua apresentação] pode coincidir, e a pista pode ficar vazia. Então estou mais empolgado para esse set”, diz o produtor à reportagem.
O produtor, originalmente de Glasgow, se mudou para Londres quando viu sua carreira de DJ decolando no início da década passada. Mohawke e seus contemporâneos, como Rustie e Iglooghost, tocavam versões coloridas e ecléticas de batidas de hip-hop e trap, um estilo que ficou conhecido como “wonky”. “Acho que, no Reino Unido, estávamos fazendo batidas de hip-hop porque éramos fãs de rap americano, mas não tínhamos acesso a rappers americanos”, fala o produtor.
Isso mudou para Mohawke quando ele conheceu o estilista e diretor criativo Virgil Abloh, que em sequência o apresentou para Kanye West. O produtor passou a fazer parte da G.O.O.D Music, gravadora independente de West, e trabalhou com ele em seus álbuns “Yeezus”, de 2013 e “The Life of Pablo”, de 2016, elogiados por sua produção futurista.
“Eu sempre admirei artistas do ‘mainstream’ que não têm medo de correr riscos e fazer a música que eles realmente querem fazer. Tem cada vez menos artistas assim. Por mais que, hoje em dia, as pessoas tenham diferentes opiniões sobre o Kanye, naquela época trabalhar com ele era uma dos sonhos que eu mais queria realizar”, diz o artista.
Mohawke passou a ser um produtor em alta demanda e, nos próximos anos, trabalhou com outros rappers em destaque no cenário americano, como Azealia Banks, Drake, Pusha T e Lil Wayne. Ele também continuou aprofundando sua importância para a cena de música eletrônica underground, lançando os EPs “Satin Panthers” (2011) e “Chimes” (2014), e formando o duo TNGHT com o produtor Lunice.
O produtor fala que o processo de produzir música para outros artistas é diferente de quando ele compõe para os próprios projetos. “Quando estou fazendo algo sozinho, gosto de ser muito detalhista. Quando é pra outras pessoas é mais complicado, porque você quer que aquele som seja reconhecivelmente seu, mas também não pode se distanciar totalmente da sonoridade do artista”, diz. “Eu gosto de fazer coisas diferentes, mas que podem não fazer sentido para o ouvinte médio.”
Um exemplo é sua faixa “Cbat”, que viralizou no TikTok em 2022 após um post no site Reddit. O usuário relatava, na postagem, que sua namorada não gostava que a música figurasse na sua playlist para a hora do sexo, e a internet se divertiu às custas da esquisitisse da faixa, feita a partir de um sample de uma porta rangendo. O meme não agradou Mohawke, que em entrevista na época disse que não queria se tornar conhecido por isso.
Neste ano, outro tipo de reconhecimento chegou ao produtor: ele ganhou seu primeiro Grammy pelo trabalho em “Brat”, álbum de Charli XCX que foi indicado a três categorias da premiação e ganhou duas, incluindo a de Melhor Álbum de Dance/Eletrônica. Charli, Mohawke e A.G. Cook, outro produtor do álbum, são amigos há anos, mas colaboraram pela primeira vez no disco. “Foi muito divertido fazer parte do álbum, mas eu não imaginava que ia ser tornar esse movimento cultural gigante”, fala o artista.
O trabalho solo mais recente do produtor é “Cry Sugar”, de 2022, mas ele já tem mais colaborações por vir e está produzindo um novo álbum da banda americana Nine Inch Nails. Mohawke também está planejando se encontrar com DJs e produtores de pequenas festas eletrônicas paulistanas para “criar um diálogo” entre as cenas. “Eu acho que o espírito, o tipo de discotecagem, a velocidade e a energia da música em São Paulo é muito próxima dos meus gostos. As pessoas têm orgulho da própria cena e querem preservá-la, eu acho isso incrível.”
GOP TUN FESTIVAL
Quando 19 e 20 de abril
Onde Live Stage – r. Comendador Nestor Pereira, 33, São Paulo
Preço A partir de R$ 150
Link https://www.ingresse.com/goptunfestival2025