SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os moradores da favela do Moinho fizeram uma barricada e atearam fogo no trilho da CPTM que cruza a comunidade, no centro de São Paulo. Eles dizem que o ato aconteceu após a Polícia Militar invadir o local. Moradores relatam agressão.

A reportagem presenciou o momento em que os policiais prenderam uma pessoa. Eles usaram spray de pimenta contra moradores ainda antes de os protestos começarem.

Os moradores relatam que os policiais entraram na favela por volta das 13h e teriam mandado comerciantes fecharem as portas e jogaram gás de pimenta em quem estava circulando pela rua. As barricadas teriam sido uma resposta a isso.

Por volta das 15h20, bombeiros chegaram ao local para combater o fogo. Policiais do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) com escudos também se posicionaram no local.

Um líder comunitário negociou com a Polícia Militar para a desobstrução da linha do trem. Os moradores pediram, em contrapartida, a saída dos policiais do entorno da favela. Depois que os policiais se retiraram da rua em frente à entrada da favela, os manifestantes apagaram o fogo e retiraram as barricadas da linha. As 15h45 a linha foi desobstruída pelos próprios moradores.

Apesar da desobstrução, o local continua com forte tensão já que há muitos policiais no entorno. Os moradores seguem com barricadas na entrada da favela.

Segundo a CPTM, a circulação dos trens ficou interrompida entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz. “As composições da linha 7-rubi estão circulando entre as estações Jundiaí e Palmeiras-Barra Funda, já os trens da linha 10-turquesa circulam entre as estações Rio Grande da Serra e Luz. Como alternativa, o passageiro tem como opção as linhas 1-azul e 3-vermelha do metrô, que passam pelas estações”, diz a companhia em nota.

A CPM também informou que “a circulação na Linha 7-Rubi entrou em processo de normalização e o Serviço foi retomado às 15h44”.

Em nota enviada à reportagem no fim da tarde, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo afirmou que prendeu um suspeito na região da comunidade. “A Polícia Militar, por meio da Rocam com apoio do Baep, prendeu um suspeito de tráfico de drogas em uma comunidade localizada no bairro Campos Elísios, na sexta-feira (18). Para o local, o Estado propôs o reassentamento de famílias da comunidade com o objetivo de levar dignidade e segurança a essa população, que vive sob risco elevado em condições insalubres, com adesão voluntária de mais de 87% da comunidade até o momento. Cerca de 50 pessoas protestam e interditam a entrada da comunidade nesta tarde. As equipes policiais monitoram a situação à distância para evitar confrontos.”

ENTRADA NA FAVELA

Um vídeo obtido pela reportagem registrou o momento em que a Polícia Militar entra na comunidade do Moinho nesta sexta-feira, antes do início do protesto.

A imagem mostra cinco viaturas rodando lentamente, enfileiradas na estreita e principal rua da favela. Ainda é possível ver 14 policiais caminhando ao lado dos carros, alguns empunhando armas.

Moradores observam a passagem dos policiais na frente de casas e comércios que estavam de portas fechadas. Em voz baixa, alguns se perguntam o que está acontecendo e se mostram impressionados com a quantidade de policiais.

Na última terça-feira (15) a Folha de S.Paulo esteve no Moinho e moradores relataram que frequentes ações ostensivas da polícia fazem com que ao menos parte da comunidade se sinta pressionada a aceitar o plano de reassentamento do governo estadual.

A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nega fazer pressão para a retirada das famílias e diz que o processo de adesão ao plano de retirada é acompanhado pela Defensoria Pública do Estado, por líderes comunitários, e por advogados do Escritório Modelo da PUC-SP, que representa judicialmente os moradores.

O governo também afirma que excessos cometidos pelos policiais, se denunciados e comprovados, serão exemplarmente punidos.

TENSÃO NA COMUNIDADE

É a segunda vez em menos de uma semana que há conflito na comunidade. O clima de tensão se dá porque, nos próximos dias, está previsto o início do plano de desocupação da favela do Moinho. A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que 86% das famílias aceitaram a proposta apresentada.

Parte da comunidade, porém, afirma que a adesão dos moradores ocorre diante do temor de uma retirada à força e sem qualquer compensação e criticam o plano oferecido pelo estado.

O plano da CDHU não prevê uma remoção em massa e grupos pequenos terão pertences transportados para seus novos endereços, segundo representantes do governo.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação informou no início da semana que o atendimento para reassentamento conta com a adesão de 703 famílias. O atendimento ocorreu de forma individual, em escritório montado pela CDHU perto da comunidade. Destas, 531 já estão habilitadas, segundo o governo.

Quem critica o plano reclama que a maior parte das unidades a serem oferecidas não está pronta, sobretudo no centro, onde a oferta atual é de pouco mais de cem unidades. Outras 400 estão em produção, mas a maior parte -cerca de 560- ainda começará a ser construída e a entrega poderá demorar algo perto de dois anos.

Durante essa espera, as famílias receberão R$ 800 de auxílio aluguel, sendo 50% do valor pago pelo estado e a outra parte pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Antes, haverá o pagamento de R$ 2.400 para cobertura de gastos com a mudança.

Protesto anterior

Na última terça-feira (15), um protesto contra o plano do governo paulista terminou em confronto com a Polícia Militar no início da noite desta terça-feira (15).

O ato com aproximadamente 200 pessoas, entre moradores, pessoas ligadas a movimentos de moradia e outras com camisetas de partidos políticos, seguia pacífico pela avenida Ipiranga com destino à Câmara Municipal de São Paulo.

Quando passava sobre o viaduto Nove de Julho, próximo ao início da rua da Consolação, motociclistas tentaram furar a manifestação, tentando passar pelo lado da avenida, dando início à confusão.