SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Justiça do Rio Grande do Sul autorizou que Graciele Ugulini, presa pelo assassinato do enteado Bernardo Boldrini, de 11 anos, cumprisse pena em regime semiaberto.

Graciele atingiu metas necessárias para mudança, decidiu juiz. Segundo decisão de ontem, a mulher passou por avaliações psicológicas e já cumpriu 13 anos e oito meses da pena. Apesar de ter sido presa em abril de 2014, a Justiça entende que ela cumpriu dois anos e sete meses a mais porque ela trabalhou na prisão e ganhou quase mil dias de remição da condenação.

Condenada a 34 anos e sete meses de prisão. Graciele Ugulini foi sentenciada em 2019 a 32 anos e 8 meses por homicídio e 1 ano e 11 meses por ocultação de cadáver do enteado. Ela recebeu a maior pena entre os quatro julgados pelo crime.

Mulher vai ser transferida. Ela cumpre a pena no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre, e tem cinco dias para ser levada a alguma unidade prisional onde o método semiaberto seja aplicado.

Obrigada a dormir em presídio. No regime semiaberto, o condenado pode sair da cadeia para trabalhar ou estudar, mas precisa voltar no fim do dia. A defesa de Graciele foi procurada e o espaço será atualizado se houver posicionamento.

RELEMBRE O CASO

Bernardo Boldrini tinha 11 anos quando desapareceu, em Três Passos (RS), em 4 de abril de 2014. O corpo do garoto foi encontrado dez dias depois, enterrado em uma cova vertical em uma propriedade às margens do rio Mico, na cidade vizinha, Frederico Westphalen.

No mesmo dia, o pai, Leandro Boldrini, e a madrasta da criança, Graciele Ugulini, foram presos. Até então, eles eram suspeitos, respectivamente, de serem o mentor intelectual e a executora do crime, com a ajuda da amiga da madrasta, Edelvânia Wirganovicz. Dias depois, Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvânia) foi preso, suspeito de ser a pessoa que preparou a cova onde o menino foi enterrado.

Primeiro júri ocorreu em 2019. Os quatro réus (Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz) foram condenados. Em dezembro de 2021, o 1º Grupo Criminal do TJ-RS acolheu recurso da defesa de Leandro Boldrini, que contestou a conduta do promotor durante interrogatório do réu em plenário, e determinou a anulação do júri. Embora o julgamento de Leandro tenha sido anulado, a prisão preventiva dele não foi revogada.

O novo julgamento ocorreu em março de 2023.O médico Leandro Boldrini foi condenado por homicídio qualificado pela participação na morte do filho.

PENAS IMPOSTAS

Boldrini foi condenado a 30 anos e 8 meses de prisão pelo homicídio quadruplamente qualificado por motivo fútil: o emprego de veneno, o uso de recursos que dificultaram a defesa e a promessa de recompensa.

O médico também foi sentenciado a mais um ano de detenção pelo crime de falsidade ideológica. Ele foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.

Amiga da madrasta, Edelvânia Wirganovicz foi sentenciada a 22 anos e 10 meses em regime fechado. Destes, 21 anos e quatro meses por homicídio e um ano e seis meses por ocultação de cadáver. Ela está no regime semiaberto, em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico.

Evandro Wirganovicz (irmão da amiga da madastra) também foi condenado. A Justiça decidiu que ele deveria cumprir nove anos e seis meses em regime semiaberto, sendo 8 anos por homicídio simples e 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver. Evandro já cumpriu a pena de prisão, extinta no dia 23 de janeiro deste ano.

LEANDRO BOLDRINI CUMPRE PENA NO REGIME SEMIABERTO

O médico foi transferido para o regime semiaberto em julho de 2023 por falta de vagas no sistema prisional do Rio Grande do Sul. A decisão que o liberou avaliou, ainda, que Leandro Boldrini tem “condições para ser progredido ao regime semiaberto, pois já cumpriu tempo suficiente no regime fechado”.

Com a decisão, o uso de tornozeleira eletrônica e medidas cautelares foram impostas ao médico. Assim, Boldrini não poderá se afastar de sua residência entre 20h e 6h; deverá informar saídas temporárias antecipadamente à autoridade penitenciária; bem como deve atender aos responsáveis pelo monitoramento eletrônico e realizar contato imediato em caso de defeito ou falha no equipamento.

Em 2024, o pai de Bernardo foi aprovado em um processo seletivo de residência médica em um hospital de Santa Maria. Ele precisou deixar a função após ter o registro médico cassado, no começo de 2025.

Ao UOL, a defesa de Boldrini disse na época que o cliente “adquiriu o direito de progressão de regime porque cumpriu os requisitos objetivos e subjetivos”. Em nota, os advogados Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti ainda criticaram a repercussão: “Desde 1940 temos um sistema progressivo de cumprimento de pena no Brasil. Em 1977 surgiu o regime semiaberto. Em 1984 restou consolidado o sistema progressivo através da reforma penal e da Lei de Execução Penal. No entanto, toda vez que um acusado por um crime que gerou atenção midiática adquire o direito, é a mesma coisa. Chovem críticas descabidas ao Poder Judiciário”, diz o texto.