BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O secretário de Estado americano, Marco Rubio, declarou nesta sexta-feira (18) que a administração Donald Trump pode abandonar as negociações de paz na Ucrânia se não houver progresso significativo nos próximos dias. “Agora estamos chegando a um ponto em que precisamos decidir e determinar se isso é possível ou não”, afirmou.

“Estou falando sobre uma questão de dias, se é possível ou não fazer isso nas próximas semanas”, acrescentou. “Se for, estamos dentro. Se não for, temos outras prioridades.”

Rubio fez a declaração a jornalistas em Paris pouco antes de embarcar de volta para Washington. Na quinta-feira (17), na capital francesa, ele havia se reunido com Emmanuel Macron e representantes de Reino Unido e Alemanha para discutir o plano americano para suspender a guerra, iniciada há pouco mais de três anos por Vladimir Putin.

“O importante é que iniciamos hoje um processo em Paris que é positivo e no qual os europeus estão associados”, declarou um assessor do presidente francês. Também participaram da reunião Steve Witkoff e Keith Kellogg, negociadores de Trump para o conflito. Um novo encontro foi marcado para a próxima semana, em Londres.

O tom de ultimato de Rubio concorre com o conteúdo do memorando que EUA e Ucrânia acertaram durante a madrugada europeia sobre a exploração de minerais raros, algo que o presidente americano disse encarar como uma espécie de pagamento do apoio financeiro dado a Kiev desde 2022. Trump, inclusive, antecipou a conclusão do acordo, na quinta-feira (18), durante uma visita da premiê italiana, Giorgia Meloni, na Casa Branca.

O documento delineia um fundo de reconstrução e precisa ser ratificado pelo Parlamento ucraniano. É o que restou de um acordo bem mais amplo, que fracassou depois que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, bateu boca publicamente com Trump e seu vice, J.D. Vance, em pleno Salão Oval, em fevereiro.

Zelenski descarta até aqui ceder território invadido para a Rússia. Diplomatas europeus defendem, porém, que a negociação precisa partir de bases realistas.

Em Moscou, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, declarou que vê algum progresso na negociação com os americanos. “Os contatos são bastante complicados, porque, naturalmente, o assunto não é fácil”, ponderou. “A Rússia está comprometida com a resolução desse conflito, garantindo seus próprios interesses, e está aberta ao diálogo. Continuamos a fazer isso”, afirmou.

Peskov minimizou a ameaça de Rubio, insistindo que há avanços no diálogo com os EUA. Ainda assim, declarou à AFP que a trégua sobre instalações de energia, na visão de Moscou, já tinha expirado. Segundo o porta-voz, a Ucrânia também não vinha respeitando o frágil acerto.

Vance, por outro lado, demonstrou otimismo ao desembarcar na Itália nesta sexta-feira (18), horas depois das manifestações de Rubio. “Como as negociações estão em andamento, não vou antecipá-las, mas estamos otimistas quanto à possibilidade de encerrar essa guerra, essa guerra brutal”, disse o vice-presidente, ao lado de Meloni, com quem já tinha se encontrado em Washington na véspera.

A agenda de Vance na Itália também previa um encontro com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano. Segundo a mídia europeia, o intuito do político americano, católico, era visitar o papa Francisco, que se recupera de uma pneumonia e uma longa internação, em meio às celebrações da Páscoa.