SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A história da capital paulista está ligada à construção de igrejas católicas. No centro da cidade, uma profusão de templos próximos uns dos outros mostra que a metrópole foi sendo erguida ao redor de capelas e catedrais.
São lugares com obras de arte e tumbas de personagens históricos que podem ser desvendados por visitantes. Um exemplo é a igreja Nossa Senhora da Paz, situada no bairro do Glicério, afirma Francisco Dias de Andrade, doutor em história e professor do Museu do Ipiranga. O templo contém trabalhos de Fulvio Pennacchi (1905-1992), um dos maiores muralistas da história do Brasil, e de Galileo Ugo Emendabili (1898-1974), escultor do obelisco do Ibirapuera.
Já na cripta subterrânea da Sé estão as sepulturas do cacique Tibiriçá, líder indígena que apoiou os jesuítas na chegada à região, em meados do século 16. Outro personagem histórico ali é Diogo Antônio Feijó (1784-1843), o regente Feijó, que foi regente durante o período do império no Brasil.
A catedral foi palco de eventos ue marcaram a história do Brasil. Em 1975, recebeu a missa de sétimo dia em homenagem a Vladimir Herzog (1937-1975), diretor de jornalismo da TV Cultura que foi assassinado pela ditadura militar (1964-1985).
Apesar da maior concentração no centro, outras partes da cidade têm igrejas históricas. Na capela de São Miguel, no extremo leste, fica um dos fragmentos arquitetônicos mais antigos desse tipo de construção. “Ainda se encontram as paredes de taipa erguidas por mão de obra indígena”, explica Anne Capelo, mestre em história da arquitetura pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) que pesquisa o tema.
Entre templos conhecidos e outros nem tanto, o Guia listou 16 igrejas para se conhecer à luz das múltiplas influências dos diversos povos que formaram a cidade.
A maior parte das unidades está no eixo central, cuja visita pode ser feita em um único dia à pé. O roteiro tem ainda opções de visitação guiada, missas e atividades especiais, realizadas em celebração à Páscoa, período de maior movimentação religiosa no ano.
NOSSA SENHORA ACHIROPITA
A igreja localizada no coração do Bixiga é um marco da transição do bairro, que era um local da comunidade negra, para um bairro italiano. O templo foi fundado no ano de 1926 por imigrantes do país europeu. É nesta paróquia que se realiza, anualmente em agosto, a tradicional Festa de Nossa Senhora Achiropita, padroeira do bairro. O espaço da igreja é concebido em arquitetura neorromânica, de inspiração medieval original da região da Calábria, no sul da Itália. Seu interior é decorado por pinturas que retratam cenas bíblicas, como o milagre das bodas de Caná, no qual Jesus transforma água em vinho a pedido de Maria.
Paróquia Nossa Senhora Achiropita – r. Treze de Maio, 478, Bela Vista, região central, @achiropitaoficial.
Seg. e ter., das 8h às 17h. Qua. e sex., das 8h às 20h30. Sáb., das 8h às 18h. Dom., das 8h às 12h
NOSSA SENHORA DA BOA MORTE
Construída em 1810, seu nome remete ao costume de se fazer rezas pela boa morte e preparar para a unção, um dos sete sacramentos da religião católica. O templo preserva a arquitetura no estilo barroco-colonial, com paredes de taipa de pilão e telhado de madeira. Uma visitação permite ver imagens sacras trazidas de Portugal no século 18. Ficou conhecida como “igreja das boas notícias”, por causa de seus sinos, que anunciavam a chegada de figuras ilustres na cidade. Embora tenha passado por diferentes restauros, ainda preserva um altar com entalhes de madeira e colunas espiraladas -elementos do barroco- e detalhes dourados em pó de ouro, além de pequenas pinturas.
Igreja Nossa Senhora da Boa Morte – r. do Carmo, 202, Sé, região central, @oratorio_eucaristico.
Aberta 24h
NOSSA SENHORA DO CARMO
A basílica é mais uma a compor o eixo central da cidade. Integra, inclusive, o roteiro Arquitetura Pelo Centro Histórico, gerido pela Secretaria Municipal de Cultura. Sua construção data de 1750, em substituição a uma capela erguida antes pelos bandeirantes. Sua fachada, em estilo colonial, é obra de Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), o escravo Tebas, arquiteto negro que viveu boa parte de sua vida escravizado e é responsável por outras igrejas da cidade. Uma visita permite contemplar pinturas sacras distribuídas pelo forro e altar, e esculturas de anjos anexadas às paredes.
Basílica de Nossa Senhora do Carmo – r. Martiniano de Carvalho, 114, Bela Vista, região central, @basilicadocarmo.
Seg. a sex., das 8h às 12h e das 13h às 17h. Sáb., das 8h às 12h
NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO
Erguida em 1799, tem altar com teto elevado e um grande mural, fruto do trabalho de Maximilian Emil Hehl (1861-1916) -o mesmo que fez o projeto da Catedral da Sé. Durante o surto de cólera em 1855, a igreja serviu como posto de atendimento aos doentes e acolhimento. Depois de algumas adaptações, chegou ao projeto atual, concluído em 1959, com uma torre de 75 metros de altura, vitrais coloridos, lustres de ferro batido e um altar de carvalho, mármore branco e bronze importado de Paris. Seu interior é repleto de obras de artistas brasileiros renomados, como Oscar Pereira da Silva (1867-1939) e Benedito Calixto (1853-1927). Além disso, a igreja tem um órgão de tubos trazido da Itália e vitrais elaborados pela antiga Casa Conrado. Na época da ditadura militar, tornou-se um espaço de resistência, acolhendo militantes e familiares de desaparecidos.
Igreja Nossa Senhora da Consolação – r. da Consolação, 585, Consolação, região central, @igrejadaconsolacao.
Ter. a sex., das 10h às 18h30
NOSSA SENHORA DOS HOMENS PRETOS
É um marco da resistência negra na cidade, uma vez que foi construída para que homens escravizados pudessem expressar sua fé, já que eram proibidos de frequentar as igrejas dos brancos. O espaço atual, no largo do Paissandu, foi concluído em 1906, em substituição a outras capelas que foram usadas pelos escravizados. Sua arquitetura em estilo eclético combina elementos renascentistas, barrocos e neoclássicos. O interior é decorado com pinturas vitrais e altares ornamentados com imagens de santos negros, como São Benedito e Santa Ifigênia.
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos – largo do Paissandu, Centro Histórico, região central.
Seg. a sex., das 9h às 16h
NOSSA SENHORA DA PAZ
Localizada no bairro do Glicério, tem uma peculiaridade em relação às demais: missas rezadas em inglês, espanhol, italiano e francês, além de português. Embora sua construção tenha sido impulsionada pela comunidade italiana, o templo se tornou um marco do acolhimento a imigrantes de diversas nacionalidades, incluindo haitianos, bolivianos, africanos e asiáticos, que compõem a população do bairro.
Tem obras do pintor ítalo-brasileiro Fulvio Pennacchi, caso do mural do altar, que retrata a crucificação de Jesus, no acervo.
Paróquia Nossa Senhora da Paz – r. Glicério, 225, Glicério, região central.
Seg. a sex., das 9h às 17h. Missas em língua estrangeira aos domingos
MOSTEIRO DA LUZ
Foi construído no século 19 por Frei Galvão, primeiro santo nascido no Brasil, cujos restos mortais ainda são preservados no local. No mosteiro, também fica o Museu de Arte Sacra de São Paulo, inaugurado em 1970, que tem um dos maiores acervos do segmento no país, com cerca de 4.000 peças, incluindo obras de de Aleijadinho (1738-1814), Anita Malfatti (1889-1964) e Benedito Calixto. Concebido em barroco colonial simples, com influência da arquitetura franciscana, o templo lembra as igrejas preservadas de Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais.
Mosteiro da Luz – av. Tiradentes, 676, Luz, região central, @mosteirodaluz_oficial.
Seg. a sáb., das 9h às 16h30
MOSTEIRO DE SÃO BENTO
Está entre as maiores construções religiosas da cidade. Foi a hospedagem do papa Bento 16 quando o pontífice visitou São Paulo, em 2007. O mosteiro também é muito procurado por seu coral de canto gregoriano e por seu órgão de tubos, que atraem turistas para as missas cantadas. Recebe visitas guiadas de apresentação da arte e do patrimônio. Durante a Virada Cultural, que será realizada neste ano nos dias 24 e 25 de maio, ficará aberto 24 horas. A partir de maio, o local passa a oferecer cursos de catalogação de acervos, conservação e restauração de esculturas e pinturas, iconografia dos santos e história da arte sacra. As inscrições devem ser feitas pelo email [email protected].
Mosteiro de São Bento – largo São Bento, Centro Histórico, região central, @mosteirodesaobentosp.
Seg. a sex., das 7h às 18h. Sáb., das 6h às 13h e das 14h às 18h. Dom., das 7h às 13h e das 14h às 18h
NOSSA SENHORA DO Ó
Fora do eixo central, foi construída em meados de 1615. Em 1796, foi elevada a paróquia. Destruída por um incêndio em 1896, foi reinaugurada em 1901. Durante sua reconstrução, restauradores encontraram pinturas representando anjos infantis segurando guirlandas de flores. Essas obras são típicas do barroco e do rococó, estilos artísticos que influenciaram a decoração de igrejas em todo o Brasil no período colonial. O templo também foi eixo do desenvolvimento da Freguesia do Ó, na região norte da cidade.
Paróquia Nossa Senhora do Ó – Largo da Matriz, Freguesia do Ó, região norte, @senhoradoo.
Seg. a sex., das 8h às 17h
PATEO DO COLLEGIO
O que se vê do Pateo hoje é uma réplica da igreja original do período colonial, que remonta ao início da cidade. A estrutura atual foi construída apenas em 1979. O espaço, no entanto, abriga o memorial das origens da cidade, um acervo de arte sacra com itens colecionados desde o século 16. Há também uma maquete que representa a Vila de São Paulo e uma biblioteca com 30 mil títulos sobre a história da cidade e dos jesuítas no Brasil. Os visitantes podem conhecer o acervo em uma visitação guiada pelo local, que aborda o histórico de todos os ambientes.
Pateo do Collegio – praça Pateo do Collegio, 2, Centro Histórico, região central.
Ter. a sáb., das 9h às 16h45. Visita ao museu a partir de R$ 5
SANTA IFIGÊNIA
Erguida em 1720 e ampliada em 1794, tornou-se paróquia em 1809, por ordem de Dom João 6º (1767-1826), então príncipe regente do Brasil. Oficialmente paróquia Nossa Senhora da Conceição, é conhecida como igreja de Santa Ifigênia. De estilo neorromânico, com recortes em formato de círculo e poucas janelas, preserva detalhes do neogótico. Do lado de fora, é um ponto gótico em meio a um aglomerado de edifícios. O interior é decorado por pinturas e vitrais venezianos. Além disso, tem um órgão de tubos fabricado na Alemanha pela Casa Walcker Orgelbau. É considerada basílica menor, ou seja, a substituta da catedral quando necessário.
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – r. Santa Ifigênia, 30, Santa Ifigênia, região central, @igrejasantaifigeniasp.
Seg. a sex., das 9h às 18h
SANTA LUZIA
Trata-se da capela do antigo hospital Matarazzo, na Bela Vista. Construída em 1922, servia como espaço de oração para doentes da unidade hospitalar e de celebração de missas de corpo presente -em homenagem aos que ali morriam. Tem arquitetura em estilo eclético, projeto de autoria do arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi (1885-1942), que reflete a diversidade migratória em São Paulo no século 20. No interior da capela há detalhes em “scagliola”, técnica italiana que imita o mármore. Reinaugurada em 2021 após um longo período fechada, a igreja é aberta ao público e tem missas às segundas, quartas e sextas, às 12h15, e aos domingos, às 11h.
Capela Santa Luzia – al. Rio Claro, 40, Bela Vista, região central, @santaluzia_sp
SANTO ANTÔNIO
Tem seus primeiros registros datados de 1591. Embora tenha passado por reformas, preserva resquícios de sua construção original. Seu altar tem modelo de talha barroca -tipo de escultura em madeira. Durante um processo de restauração feito em 2005, foram descobertas pinturas que remontam ao século 17 no forro do altar -das quais há poucas representantes na cidade.
Igreja de Santo Antônio – praça do Patriarca, 49, Centro, região central.
Seg. a sex., das 9h às 17h30
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Sua história começa em 1639, quando frades franciscanos chegaram a São Paulo vindos da Bahia. Em 1642, o grupo recebeu da Câmara Municipal um lote no largo de São Francisco e iniciou a construção de um templo. Situada ao lado da faculdade de direito da USP (Universidade de São Paulo), a paróquia tem pinturas sobre madeira que simulam azulejos e painéis datados de 1799. Seu acervo contém ainda obras atribuídas a artistas renomados do período, como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, responsável pelo projeto arquitetônico e pelas esculturas.
Paróquia São Francisco de Assis – largo São Francisco, 133, Sé, região central.
Seg. a sáb., das 7h às 19h
SÃO MIGUEL
Não foi a primeira a ser construída na cidade, mas preserva a estrutura original mais antiga entre todas. Sua imagem destoa dos grandes templos, com traços retos e paredes limpas, sem os detalhes carregados do barroco e do gótico. O padre José de Anchieta (1534-1597) a construiu em 1560 para catequizar indígenas guaianases. Em 1622, a estrutura foi refeita em taipa de pilão, cujas paredes estão preservadas até hoje. Atualmente, além das atividades eclesiásticas, funciona como museu.
Capela de São Miguel – praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, 10, São Miguel Paulista, região leste, @capeladesaomiguel_museu.
Ter. a sáb, das 10h às 16h
SÉ
Todas as grandes celebrações da arquidiocese são realizadas no espaço. Sua arquitetura neogótica, projetada por Maximilian Hehl, contrasta com as edificações do entorno. Além do gótico, recebeu influência da Semana de Arte Moderna (1922), disposta nos vitrais, que retratam animais da fauna brasileira, como o tucano e o tatu. Em sua cripta subterrânea é possível visitar as sepulturas do cacique Tibiriçá e do regente Feijó. É casa de um dos maiores órgãos de tubo da América Latina e de um leque de esculturas e pedras raras. Aberta ao público, oferece dois modelos de visita guiada, nas quais os detalhes de cada peça do acervo são narrados por um especialista.
Catedral da Sé – praça da Sé, região central, @catedraldasesp.
Tour completo de seg. a sex., às 10h30 e às 14h. Sáb., às 9h45 e 14h. Dom., às 12h30 e 14h. R$ 60.
Tour na cripta de seg. a sáb., das 9h às 17h. Dom., das 12h30 às 16h15 . R$ 12
CAPELA DOS ALFITOS
Instalada na Liberdade, ela está entre os mais importantes templos da cidade. Escondida no Beco dos Aflitos, a igreja diminuta foi construída em 1779 em meio a um cemitério de escravizados. Servia como centro de oração para os condenados à forca. Em seu interior, há uma imagem de Nossa Senhora dos Aflitos e outros santos, também concebidos no estilo barroco. O templo foi fechado no dia 9 de abril para restauração. Não há previsão oficial para a reabertura. Durante as obras, a visitação ficará suspensa.