BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) anunciou na tarde desta quinta-feira (17) o encerramento da greve de fome que havia iniciado no último dia 9, após o Conselho de Ética da Câmara recomendar a cassação de seu mandato.

A decisão foi tomada depois que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), concordou com uma negociação para suspender o processo contra Glauber por 60 dias. Na prática, o caso deve ficar parado ao menos até agosto, devido ao recesso parlamentar do meio do ano.

“Após este período, as deputadas e os deputados poderão soberanamente decidir sobre o processo”, afirmou Motta em publicação nas redes sociais.

Em abril de 2024, Glauber expulsou da Câmara com chutes e empurrões um militante do direitista MBL (Movimento Brasil Livre).

Integrantes do PSOL e do PT articularam a construção de um acordo para evitar a cassação do mandato do psolista, enfrentando a resistência de integrantes do centrão, grupo hoje majoritário na Casa. Estiveram na linha de frente das conversas a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).

Hugo Motta se decidiu pela suspensão por 60 dias da tramitação do caso após análise de recurso na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). O objetivo seria dar tempo para uma saída que envolva uma punição menos severa, como uma suspensão do mandato ou uma advertência.

O PSOL organizou uma entrevista coletiva na tarde desta quinta, quando foi anunciado oficialmente o fim da greve de fome de Glauber.

“Eu estou neste momento suspendendo a greve de fome que a gente anunciou há nove dias. Essa suspensão da greve de fome, depois de dialogar com os movimentos [sociais], (…) vem depois de um compromisso que foi assumido pelo presidente da Câmara, depois de uma articulação que envolveu diversos parlamentares”, disse Glauber em manifestação a jornalistas na saída da Câmara.

O deputado disse que apesar de encerrar o protesto, irá continuar criticando o chamado “orçamento secreto” -parte do Orçamento federal distribuído pela cúpula do Congresso com baixíssima transparência.

“Estou suspendendo a greve de fome, mas nós não estamos suspendendo a luta contra o orçamento secreto. Nós não estamos suspendendo a luta contra o poder oligárquico, pela responsabilização dos assassinos de Marielle, pela responsabilização dos golpistas de plantão, nós não estamos suspendendo o conjunto das nossas lutas”, declarou.

De acordo com sua assessoria, o deputado Glauber saiu da Câmara direto para um hospital de Brasília, por recomendação médica, para avaliação de sua situação de saúde.

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados recomendou no último dia 9, por 13 votos a 5, a perda do mandato do congressista do PSOL, mesma data em que ele iniciou a greve de fome. Segundo assessores, ele estava ingerindo apenas apenas água, soro e bebidas isotônicas, tendo emagrecido alguns quilos, mas mantido em geral boas condições de saúde.

O deputado e aliados improvisaram um colchão ao lado da mesa de coordenação do plenário 5 da Câmara, a mesma sala onde o conselho recomendou a sua cassação.

Oito ministros de Lula foram ao local visitar o deputado do PSOL -Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, Sidônio Palmeira, da Secretaria de Comunicação Social, Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, Cida Gonçalves, que chefia a pasta das Mulheres, Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, e Anielle Franco, da Igualdade Racial.

Eventual cassação do mandato do deputado, se concretizada, representaria uma medida inédita -a primeira vez que um deputado teria essa punição por uma agressão física.

A história da Câmara é repleta de casos de violência que jamais resultaram em perda de mandato -desde socos desferidos por um parlamentar no rosto de uma colega dentro do plenário, em 1991, até episódios recentes que mencionam chutes, soco na barriga, pisão no pé e violência doméstica.

Glauber deve recorrer, possivelmente na próxima semana, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. À comissão, cabe analisar se o rito do Conselho de Ética foi cumprido. Caso entenda ter havido irregularidades, o caso pode voltar para nova análise no órgão.