BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A luta é por transição energética, mas deve ser justa para todos. Este foi o lema de um encontro em Brasília que reuniu ativistas de 70 países. Os debates iniciaram no domingo (13) e seguiram até esta quinta-feira (17) com foco em pressionar a organização da COP30, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) que acontecerá em novembro no Pará.

Cerca de 200 pessoas participaram da programação, que contou com painéis, mesas redondas, atividades culturais e protestos. O objetivo foi alinhar ações que devem ocorrer durante a COP30. As pautas priorizam as populações mais vulneráveis em relação às mudanças climáticas.

As maiores delegações foram as dos países de América Latina, Caribe, África e Ásia. Participaram, também, ativistas da Austrália, ilhas do Pacífico, Palestina, Ucrânia, Alemanha, Estados Unidos, França, Espanha e Canadá. As atividades tiveram traduções simultâneas em inglês, espanhol e português.

Antes do início do evento, chamado Renovando Nossa Energia, a organização entregou uma carta com as principais demandas para o presidente da COP30, o embaixador André Correia do Lago, quando ele visitou o Acampamento Terra Livre, a maior manifestação indígena do Brasil -que ocorreu em Brasília uma semana antes do encontro de ativistas climáticos.

“A transição energética pode ser justa, mas no momento a gente vê que não está sendo”, disse Ilan Zugman, diretor na América Latina e no Caribe da 350.org, ONG que organizou o encontro. “A energia renovável pode ser uma ferramenta importante de transformação social para avançar na transição energética melhorando políticas públicas e o financiamento, que é a principal barreira.”

“Esse encontro no Brasil é para mandar uma mensagem clara e forte para COP30. A prioridade da conferência da ONU deve ser a implementação de um acordo global pelo fim dos combustíveis fósseis e triplicar as energias renováveis com justiça energética”, continuou.

Na terça (15), um grupo de 40 lideranças indígenas e climáticas de diferentes países fez uma manifestação em frente ao Itamaraty.

O cacique Jonas Mura, da Terra Indígena Gavião Real (AM), afirmou durante o ato que o Brasil precisa deixar de explorar e exportar petróleo para se tornar “líder climático”. Ele citou a escolha da amazônia como sede da conferência do clima para reforçar esse compromisso.

“Nós, indígenas, somos os guardiões do planeta. Precisamos das nossas terras demarcadas, respeito e espaço de fala e decisão, mas sabemos que, enquanto houver petróleo, não vamos ter isso. Enquanto continuarmos queimando combustíveis fósseis, não haverá solução verdadeira.”

Projetos de energias renováveis

O encontro de países proporcionou a troca de experiências com projetos de energia sustentáveis em comunidades tradicionais e vulneráveis às mudanças climáticas. Alguns grupos apresentaram resultados, enquanto outros aprenderam para implantar em seus países.

Maria Cunha, ativista socioambiental do Instituto Juruá, apresentou seu trabalho de soluções colaborativas para a conservação da amazônia e melhoria na qualidade de vida de comunidades extrativistas e pesqueiras de Carauari, no interior do Amazonas.

Segundo ela, a comunidade vivia, antes, apenas com três horas por dia de energia elétrica, movida por geradores a diesel, o que dificultava o uso. Agora, são 18 horas por dia após a instalação de um sistema solar, que foi financiado, principalmente, com o manejo sustentável de pirarucu, a atividade mais rentável da região. A meta agora é ter 24 horas de energia no local.

“A gente não conseguia ter acesso à internet, carregar equipamentos ou estudar. O ensino médio na comunidade é tecnológico, então a gente precisava de energia para movimentar as televisões e computadores. Pensando nisso, a gente buscou alternativas”, explicou.

“Agora são 43 casas sustentadas com energia solar. Passamos a usar freezers para armazenamento do pescado, geladeira, ventilador e TV”, acrescentou. “A gente luta para que esse sistema alcance mais pessoas e melhore a qualidade de vida dentro de outras comunidades.”

Em Gana, país africano, um projeto de jovens gerou debates com o governo local sobre transição energética. Chibeze Ezekiel relata que a iniciativa começou em 2016, quando um grupo conseguiu parar um empreendimento estatal de exploração de carvão mineral na capital Acra.

O ativista explica que, em contrapartida, apresentou uma proposta com mais oportunidades de trabalho para a juventude de atividades ligadas à energia limpa, como solar, eólica e biomassa. Em 2021, o grupo fundou o programa Jovens Empreendedores Verdes, com cinco participantes. Agora são 60 jovens engajados.

“Os jovens tinham ideias, mas não tinham capital. O programa então juntou as propostas e garantiu financiamento para promover os empreendimentos verdes como solução. Uns projetos focaram em energia solar e outros em fogões com carvão briquete [menos poluente]”, ressaltou.

Da Colômbia, a diretora escolar Ludys Mena acredita que educação é fundamental para um futuro mais sustentável. A instituição agrícola La Loma de Bojayá, no departamento de Chocó, tem educação ambiental na grade curricular para os 468 estudantes. A escola é sustentada por meio de placas solares instaladas no telhado do prédio.

Mena afirma que a mentalidade dos 1.200 moradores da comunidade mudou quando o projeto foi implementado na escola, há dois anos. Ela destaca que os alunos atuam como multiplicadores da conscientização.

“Os estudantes aprendem sobre energia solar e levam esses conhecimentos para casa. Eles são os que educam os pais sobre a energia limpa. E agora isso contagiou em nível de comunidade, pois as casas das famílias estão adquirindo seus próprios painéis solares”, conta.

“Embora ainda seja muito difícil a aquisição, por causa do valor econômico, agora temos a possibilidade de criar uma comunidade energética em que a comunidade tenha abundância, apoiada pelo governo nacional e por ONGs. Estamos batendo nas portas para saber quem pode financiar”, diz também Mena.