LAJEADO, RS, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil ainda tinha 19,5 milhões de pessoas morando em vias sem pavimentação em áreas com características urbanas em 2022, apontam novos dados do Censo Demográfico divulgados nesta quinta-feira (17) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número absoluto corresponde a 11,2% do total de habitantes pesquisados nesses locais (174,2 milhões). O contingente era similar à população inteira de Minas Gerais à época (20,5 milhões).

Já a parcela que morava em vias com pavimentação em áreas urbanas foi de 154,1 milhões em 2022. O contingente correspondia a 88,5% do total de habitantes dessas localidades.

Os dados integram a Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, que faz parte da operação do Censo. Devido a mudanças na metodologia, o IBGE evita a comparação direta dos números com 2010, ano do recenseamento anterior.

Para ser considerada pavimentada em 2022, uma via precisava ter algum tipo de cobertura em mais de 50% do trecho analisado. Em 2010, espaços menores já bastavam para o registro de pavimentação.

O instituto considera diferentes tipos de cobertura, como asfalto, paralelepípedo e concreto. A reportagem questionou o IBGE sobre os fatores que podem impedir um avanço maior da pavimentação no país, mas o órgão afirma que não investigou isso na pesquisa.

“A pavimentação das vias públicas é fundamental para o desenvolvimento urbano e a qualidade de vida dos cidadãos. Esses fatores juntos contribuem para cidades mais eficientes, seguras e agradáveis para se viver”, diz a publicação do instituto.

Os dados confirmam diferenças regionais. Em seis unidades da federação, mais de 90% dos moradores de áreas urbanas residiam em vias pavimentadas em 2022.

Foram os casos de São Paulo (96%), Minas Gerais (95,3%), Distrito Federal (94,2%), Goiás (94%), Paraná (91,8%) e Espírito Santo (91,3%).

Outros sete estados, por outro lado, contavam com menos de 80% dos moradores em vias pavimentadas. Essa relação incluiu Pará (69,3%), Rondônia (70,4%), Amapá (71,9%), Pernambuco (76,3%), Maranhão (77,5%), Mato Grosso do Sul (78,8%) e Paraíba (79,2%).

As diferenças também aparecem quando a análise foca os municípios. Em 77 cidades brasileiras, 100% dos moradores de áreas urbanas viviam em vias pavimentadas, segundo o IBGE. No município de São Paulo, o percentual foi de 97,4%.

Apesar disso, a falta de pavimentação ainda é realidade para moradores de bairros como o Jardim Celeste, no Butantã, zona oeste paulistana. É o caso de um trecho na rua Bernardo Buontalenti, na altura do número 395, que não tem asfalto e que corre risco de ter uma cratera.

“A gente já tem pedido asfalto na rua, mas a subprefeitura começa, faz metade e metade fica sem asfalto. Encontra com a [rua] Antônio do Vale, que é asfaltada”, diz a líder comunitária Maria Gorete Ferreira, 53.

A moradora do bairro diz que já pede há três anos por melhorias além da pavimentação, como a zeladoria nos cantos da rua e em uma praça. O risco de cratera, diz Gorete, ocorre por causa de um córrego que passa junto ao local e pode causar instabilidade na rua.

Procurada, a Prefeitura de SP afirmou que “faz ações rotineiras de zeladoria” e que “abriu um processo licitatório, que está em andamento, para a execução dos serviços de asfaltamento no trecho sem pavimentação”.

Na outra ponta da lista, cinco cidades registraram menos de 15% dos habitantes em vias pavimentadas. Foram os casos de Capão do Leão (RS), com 11,3%, Colniza (MT), com 12,4%, Aceguá (RS), com 13,1%, Arambaré (RS), com 14,4%, e Morro Cabeça no Tempo (PI), com 14,5%.

O instituto analisou informações de quase 341 mil setores censitários (unidades de divisão do território) com características urbanas, incluindo comunidades tradicionais e favelas.

CALÇADAS AINDA MOSTRAM DIFICULDADES

A pesquisa investiga dez quesitos relacionados à infraestrutura urbana. A existência de calçada ou passeio, a exemplo da pavimentação, integra a lista.

Em 2022, 84,1% dos moradores pesquisados residiam em vias com calçada ou passeio no Brasil, o equivalente a 146,4 milhões. O IBGE considerou estruturas com ou sem pavimentação.

Em 2010, a análise também englobou esse tópico, mas abrangia somente caminhos pavimentados ou calçados para pedestres –o percentual havia sido de 66,4% à época.

Uma das novidades de 2022 é a investigação sobre calçadas livres de obstáculos. Segundo o IBGE, apenas 32,8 milhões de moradores residiam em trechos sem esses gargalos. O número equivale a 18,8% do total de habitantes –só um em cada cinco.

Barreiras à circulação de pedestres criadas por vegetação, placas mal sinalizadas e buracos são exemplos de obstáculos nas calçadas.

O IBGE também indicou que apenas 26,5 milhões de moradores residiam em vias com rampa para cadeirantes no Brasil em 2022, o equivalente a 15,2% do total. Em 2010, a proporção era ainda menor, de 3,9%.

Outro indicador analisado é a presença de árvores em áreas urbanas. Em 2022, o país tinha 58,7 milhões de moradores em vias públicas sem arborização. O número equivale a 33,7% do total (um terço).

Enquanto isso, 114,9 milhões (ou 66%) viviam em vias com a presença de pelo menos uma árvore. Por mudança de critérios entre 2010 e 2022, a comparação direta sobre arborização fica impossibilitada, diz o IBGE.

80 MILHÕES VIVEM SEM BOCA DE LOBO

De acordo com o instituto, quase 93,6 milhões de habitantes de áreas urbanas residiam em vias com bueiros ou bocas de lobo em 2022. O número representa 53,7% do total.

Nesse caso, o IBGE disse que é possível uma comparação direta com 2010. À época, o percentual de moradores em vias com bueiros ou bocas de lobo era menor, de 39,3%.

Essas estruturas são importantes para evitar alagamentos e acúmulo de água, que podem causar danos a pessoas e propriedades.

Os dados de 2022 indicam que 80,1 milhões de habitantes de áreas urbanas ainda viviam em vias sem bueiros ou bocas de lobo. O número equivale a 46% (quase a metade) da população investigada.

Quando o quesito analisado é a iluminação pública, os números sinalizam uma cobertura maior. Em 2022, 97,5% dos moradores de áreas urbanas residiam em vias com essa infraestrutura (169,7 milhões). Em 2010, o percentual era de 95,2%, de acordo com o IBGE.

O instituto investigou a presença da iluminação, e não o funcionamento dela. O Amapá foi o único estado com índice inferior a 90% em 2022.

5 MILHÕES MORAM EM VIAS COM CIRCULAÇÃO RESTRITA

A pesquisa ainda traz informações sobre a capacidade máxima de circulação nas vias –outra novidade da edição de 2022.

Segundo o IBGE, 5 milhões de brasileiros residiam em vias que apresentavam capacidade mais restrita à época. Ou seja, em trechos que conseguiam receber somente motos, bicicletas e pedestres.

Esses 5 milhões representavam 2,9% do total de moradores das áreas pesquisadas. Amapá (15,1%), Pernambuco (8,4%), Amazonas (8,3%), Bahia (6,9%) e Rio de Janeiro (5,7%) tiveram os maiores percentuais de habitantes em vias com capacidade restrita. Goiás (0,08%) e Mato Grosso (0,09%) mostraram as menores proporções.

No Brasil, a maior parcela dos moradores (158,1 milhões, ou 90,8% do total) estava em vias que conseguiam receber veículos maiores, como caminhões ou ônibus.

Outros 10,5 milhões de pessoas (ou 6,1%) residiam em trechos com capacidade máxima para circulação de carros ou vans.

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Número de moradores segundo o tipo de via no Brasil

Em milhões, em áreas com características urbanas

Moradores de vias com pavimentação – 154,14

Moradores de vias sem pavimentação – 19,5

Sem informações declaradas – 0,5

Fonte: Censo Demográfico/IBGE

Moradores de vias com pavimentação

% do total de pessoas em áreas com características urbanas

SP – 96

MG – 95,30

DF – 94,2

GO – 94

PR – 91,80

ES – 91,30

SE – 89,2

RJ – 88,9

AM – 88,60

Brasil – 88,5

RR – 88,2

CE – 88

PI – 86,5

AL – 84,60

TO – 84,5

AC – 84,4

RN – 84,10

BA – 84,10

MT – 83,10

SC – 82,7

RS – 82,4

PB – 79,2

MS – 78,80

MA – 77,5

PE – 76,3

AP – 71,9

RO – 70,4

PA – 69,3

Fonte: Fonte: Censo Demográfico/IBGE