SÃO PAULO E ÅLESUND, NORUEGA(FOLHAPRESS) – Tradicional na mesa do brasileiro para a Páscoa, o bacalhau pode ultrapassar os R$ 200 em São Paulo. A reportagem visitou nove supermercados das regiões sul e central da capital paulista, além do Mercado Municipal, na terça-feira (15) desta Semana Santa.

Os preços encontrados foram variados. O quilo do peixe mais barato foi encontrado a R$ 38,63 (numa versão congelada em promoção), mas algumas partes nobres do alimento estavam sendo vendidas a R$ 249,90.

No país, o produto teve alta de 6,45% nos últimos 12 meses, segundo dados de março do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). A variação tem, entre outros fatores, razões internacionais. De todo o bacalhau importado pelo Brasil em 2024 (foram 22,3 mil toneladas), 75% veio da Noruega e 23%, de Portugal —que compra o produto norueguês, termina de processá-lo e exporta para o mundo.

Considerando só o peixe vendido pelo país nórdico, ao todo desembarcaram em solo brasileiro no ano passado cerca de 3.500 toneladas da espécie Gadus morhua —a mais nobre e de carne mais macia no mercado. Dos outros três peixes salgados e secos vendidos pelo país escandinavo, o saithe é aquele que tem maior adesão no Brasil —versátil e mais barato, é usado no preparo de caldos e bolinhos.

O encarecimento do bacalhau é perceptível ano após ano, e o preço também salgado tem explicação. “O principal desafio [do mercado de bacalhau] é que a cota para a pesca de peixes caiu”, diz Ørjan Olsen, gerente de mercados emergentes do Conselho Norueguês da Pesca.

Os países exportadores de bacalhau, incluindo a Noruega, precisam respeitar um rígido limite de peixes que podem ser capturados, para que as espécies não fiquem ameaçadas. “Temos um acordo com a Rússia e a Islândia sobre o quanto podemos pescar juntos. Há menos peixes, a demanda ainda é alta, então os preços sobem”, afirma.

Além das cotas, os custos elevados da cadeia de produção norueguesa pesam na conta: barcos pesqueiros contam com a tecnologia de sonares para identificar os peixes maiores e evitar os menores, que tendem a ser mais jovens e ainda não se reproduzem. Outro fator é o elevado salário dos pescadores e daqueles que atuam nas fábricas.

O preço por quilo do Gadus morhua exportado da Noruega chegou a 138 coroas (R$ 74) no ano passado —era de 76 coroas norueguesas em 2021 (R$ 40), isso sem incluir os custos embutidos na cadeia nacional.

Olsen diz ter orgulho de que o peixe faça parte da Páscoa e do Natal dos brasileiros. Para elevar as ocasiões de consumo, afirma, é preciso encontrar formas de aumentar o interesse de pessoas mais jovens. “Se conseguirmos fazer com que eles comam mais, contando-lhes a história e apresentando-os às receitas, isso também aumentaria o consumo. É por isso que trabalhamos com influenciadores”, conta.

Questionado se a pressão inflacionária dos alimentos no Brasil preocupa para as vendas deste ano, Olsen se mostra otimista, citando o exemplo da Jamaica, que usa em média 150 gramas do produto para preparar uma refeição bem servida.

“Sabemos que todos os alimentos estão ficando mais caros. O lado bom do bacalhau é que você não precisa de muito peixe na refeição para provar seu sabor.”

PREÇOS NAS GÔNDOLAS BRASILEIRAS REFLETEM A ALTA DO PEIXE

O quilo de bacalhau mais caro encontrado nas pesquisas feitas pela reportagem em São Paulo era vendido por R$ 249,90, em uma unidade da rede Pão de Açúcar da rua Ricardo Jafet, na zona sul. A peça em questão era um lombo, parte mais nobre do peixe.

O bacalhau mais em conta, com pacotes de postas dessalgadas e congeladas da espécie Gadus morhua, foi encontrado a R$ 38,62/kg no Assaí Atacadista do Ipiranga.

Bolinhos de bacalhau —que ganham espaço no cardápio da Semana Santa por serem mais fáceis de fazer, como disse uma cliente à reportagem— estavam sendo vendidos na faixa de R$ 33,50 o pacote com 300g, o que dá R$ 110/kg.

Já o bacalhau inteiro custava R$ 129,90/kg em uma unidade do supermercado Extra.

Funcionários ouvidos pela reportagem disseram que o volume de compras aumentou do ano passado para cá —ainda que o preço tenha subido também.

“Está muito caro, só estou pegando porque a placa diz que está com 20% de desconto, senão nem comprava”, diz o gerente de vendas Eduardo Yashima, 70.

No Mercado Municipal Paulistano, o Mercadão, tanto a procura do público quanto o preço eram maiores que nos supermercados visitados pela reportagem.

O lombo do Gadus morhua era vendido em diversos empórios a R$ 239,90/kg. Isso considerando a promoção, já que as placas indicavam o preço original como 299,90/kg.

O morhua desfiado podia ser encontrado por R$ 52,90/kg, e o filé, por R$ 159/kg. A espécie Gadus macrocephalus, pescada no oceano Pacífico, custava R$ 165/kg.

Na reta final para a Páscoa, comerciantes mantinham a expectativa de vendas positiva, mas admitiam que o preço alto dificulta os negócios.

“Neste ano, o bacalhau teve uma elevação do preço devido à alta do do dólar e à escassez de produto, então a gente acabou tendo uma dificuldade um pouco maior com as vendas no começo. Mas nesses últimos dias a demanda cresceu”, afirma Andonios Kambilis, da Banca do Renan.