SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos anunciou nesta quarta-feira (16) a identificação dos corpos do pedreiro Dênis Casemiro e do marinheiro Grenaldo de Jesus da Silva, desaparecidos políticos na ditadura militar (1964-1985) que tiveram seus remanescentes ósseos ocultados na vala de Perus, na zona norte de São Paulo.

O anúncio da identificação do corpo de Dênis Casemiro, pedreiro desaparecido em 1971, vem como uma correção histórica, já que, de acordo com o grupo, em 1991 houve o reconhecimento de ossadas que foram indevidamente atribuídas a ele, por um processo de sobreposição gráfica, à época realizado pela Unicamp.

“Em 1991, não foram utilizados exames de DNA. O nosso grande diferencial foi utilizar essa tecnologia, que foi decisiva para vincular os perfis genéticos da família Casemiro com o perfil genético de um conjunto de remanescentes ósseos”, afirmou Samuel Teixeira, coordenador científico da comissão.

Segundo Teixeira, o enfoque multidisciplinar de áreas variadas das ciências forenses utilizado no processo de identificação dos desaparecidos foi decisivo, juntamente com a colaboração dos familiares no fornecimento de amostras biológicas para exames de DNA.

Dênis e Grenaldo foram torturados e tiveram seus corpos ocultados pelo regime militar na clandestina vala de Perus, descoberta em 1990 na gestão da então prefeita de São Paulo Luiza Erundina.

A cerimônia desta quarta, realizada na Unifesp, contou com a presença de familiares de Grenaldo e de autoridades como a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo (PT), o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) e a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN).

“Ao mesmo tempo que hoje é um dia de vitória, é de muita dor e consternação”, disse a ministra.

O reconhecimento das duas vítimas veio menos de um mês após o Ministério dos Direitos Humanos admitir oficialmente a negligência do governo federal na guarda e identificação das ossadas da vala de Perus, de 1990 a 2014.

A vala clandestina, usada ilegalmente na década de 1970 para enterrar indigentes e desaparecidos políticos, fica no cemitério Dom Bosco. Foi aberta em setembro de 1990, quando foram encontradas 1.049 caixas com remanescentes humanos, das quais 41 seriam de opositores à ditadura.

Antes dos casos de Dênis e Grenaldo, outros quatro desaparecidos políticos tinham sido identificados no local.