Walison Veríssimo

Após semanas de tensão velada, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e o presidente estadual do PL, senador Wilder Morais, ensaiaram uma reaproximação decisiva nos bastidores do Palácio das Esmeraldas. O movimento foi acelerado após o encontro público entre Caiado, o prefeito Sandro Mabel (UB) e o deputado federal Gustavo Gayer (PL), que provocou desconforto interno no partido e intensificou as especulações sobre uma nova aliança entre o governador e a legenda que abriga o bolsonarismo em Goiás.

Na sexta-feira (11), Caiado tentou por diversas vezes falar com Wilder, mas não teve as ligações atendidas. Segundo aliados do senador, ele estava irritado com o governador e preferiu evitar o contato. O desgaste remonta a episódios anteriores, como uma fiscalização da pista de pouso na fazenda de Wilder, em Nerópolis, realizada por órgãos do Governo de Goiás após as eleições de 2024. À época, o senador também tentou contato com o governador — sem sucesso.

Foi somente após uma ligação de Gayer, pedindo diretamente que Wilder atendesse Caiado, que o impasse começou a ser destravado. A conversa por telefone resultou em uma reunião agendada para a segunda-feira (15), data-limite para o PL apresentar um recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a decisão que reverteu a inelegibilidade de Caiado e a cassação de Mabel.

Nos bastidores, a cúpula jurídica do PL já havia finalizado um recurso com cerca de 70 páginas. A avaliação era de que, caso o entendimento político não avançasse, o documento seria protocolado, com risco de reabrir a disputa judicial e expor um racha com a base governista.

O clima começou a mudar na manhã da própria segunda-feira, quando Wilder compareceu ao Palácio das Esmeraldas. Após uma primeira conversa com Caiado e contatos com Mabel — que estava em viagem internacional —, o senador deixou o local, mas retornou no início da noite. Foi nesse segundo momento que o acordo político foi consolidado, selando a trégua.

Apesar do gesto, fontes próximas ao senador afirmam que as feridas não estão totalmente cicatrizadas. A percepção de que Caiado ignorou seus apelos em momentos delicados ainda pesa nas avaliações internas do PL. Ainda assim, aliados de Wilder admitem que o governador demonstrou habilidade política ao buscar pessoalmente a reconciliação e evitar o avanço do recurso no TSE.

A aproximação, embora costurada, ainda será posta à prova. A dúvida que resta é se o entendimento resistirá aos embates eleitorais que se aproximam — e se o pragmatismo político prevalecerá sobre as mágoas pessoais.