LONDRINA, PR (UOL/FOLHAPRESS) – Anna Muylaert, 60, se manifestou sobre a polêmica envolvendo a adaptação para o cinema da música “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque, 80.
A escalação de Thainá Duarte, 28, para o papel principal do longa gerou controvérsia, pois a personagem Geni era retratada como um travesti no espetáculo “Ópera do Malandro”. A canção, cabe lembrar, nasceu como parte da trilha da montagem, também assinada por Chico.
A cineasta explicou ter concebido a partir da impressão de que a letra de Buarque permite várias interpretações além do tema trans. “Durante o processo de criação deste filme, entendemos que a letra do Chico – e o conto do [autor francês] Guy de Maupassant, ‘Bola de Seda’, no qual o Chico diz ter se inspirado – poderiam ter várias leituras. Poderia ser uma mulher trans; poderia ser uma mãe solteira; poderia uma presidente tirada do poder sem crime de responsabilidade; poderia ser uma floresta atacada diariamente por oportunistas. Por uma por uma questão de lugar de fala, escolhemos fazer uma prostituta cis na Amazônia”, declarou ela, em vídeo publicado no Instagram.
Muylaert convidou todos os interessados a se reunirem em um debate sobre a questão que se instaurou a partir da polêmica. “Diante da reação da comunidade trans, quero vir aqui abrir o debate e jogar a pergunta: essa letra do Chico, essa poesia, o mito Geni, hoje em 2025 só pode ser interpretada como uma mulher trans?”
Ela acrescentou que, a depender das respostas que lhe chegaram, o projeto do filme poderá sofrer severas modificações. “Se computarmos que hoje só se pode interpretar a Geni como trans, repensaremos o nosso filme. Na verdade, a história não vai mudar, porque os corpos femininos ou trans estão sempre sob perigo.”