SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma vistoria do Iphan (Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, identificou risco de incêndio na floresta ao redor da estátua. Segundo o órgão, as instalações elétricas da iluminação do monumento estão em condições precárias e a fiação dos refletores descumpre normas técnicas.

A informação consta em ofício enviado nesta segunda-feira (14) ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e à Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, entidade ligada à Igreja Católica. Ambos compartilham a gestão da área onde fica o Cristo Redentor, conhecida como Alto Corcovado. A estátua está inserida no Parque Nacional da Tijuca, uma unidade de conservação federal.

O Santuário Cristo Redentor, que ilumina o monumento em prol de campanhas sociais e eventos comerciais, afirma à Folha de S.Paulo que não foi notificado em caráter oficial pelo Iphan e que se manifestará somente após a formalização do ofício. O documento se encontra em base pública de pesquisa processual.

O Iphan solicita a revisão emergencial da rede elétrica do Cristo e pede a elaboração de projeto de melhoria do sistema de refletores. O relatório da vistoria, realizada no último dia 9, aponta que a conservação dos equipamentos de iluminação da estátua está em mau estado.

“Os refletores encontram-se desordenados e conectados a instalações elétricas fora do padrão. Ocasionam grande poluição visual e risco de incêndio na floresta que circunda o monumento”, diz o relatório.

Ainda de acordo com o Iphan, há falta de observância das normas técnicas para proteção da rede elétrica e dos requisitos mínimos para locais de grande circulação de público. A fiscalização também avistou um quati andando pela fiação da iluminação, um alerta de possíveis prejuízos à fauna local.

O ICMBio diz estar preocupado com as condições precárias das instalações dos equipamentos de iluminação, em especial “sobre o risco de incêndio na floresta de mata atlântica que ocupa a área e o entorno do monumento”.

À reportagem, o Iphan explica que tem adotado uma posição cautelosa em relação às iluminações comemorativas ou de propaganda sobre o Cristo Redentor, já que o monumento é tombado a nível federal. A estátua também é nomeada patrimônio mundial da humanidade pela Unesco, agência da ONU para a educação, a ciência e a cultura.

A iluminação regular da estátua, sem cores ou efeitos de animação, não viola as normas do tombamento. “Contudo, iluminações comemorativas e com efeitos especiais sobre o monumento devem ser previamente aprovadas pelo Iphan, por se tratarem de intervenções que impactam a paisagem declarada patrimônio mundial”, diz o órgão. Está prevista uma reunião com o Santuário para tratar do uso e preservação da área.

O ofício também alerta para o risco de incêndio no depósito de lixo dos restaurantes da permissionária Paineiras, detentora de um contrato de permissão de uso do espaço com o ICMBio. O Instituto Chico Mendes afirma que determinou a limpeza e organização imediata do local pela empresa e diz que realiza vistorias periódicas para observar as obrigações estabelecidas entre as partes.

Outro ponto abordado no documento é a necessidade da retirada de um andaime instalado pelo Santuário ao lado da estátua, que contém uma peça de propaganda do Jubileu 2025. A estrutura foi montada sem a autorização do Iphan. Questionado pela reportagem, o Santuário não comentou o caso.

A vistoria aconteceu na sequência da morte de um turista nas escadarias que levam à estátua em 16 de março. Na época, a visitação chegou a ser interditada.

Segundo o Iphan, a fiscalização teve o objetivo de verificar a proposta de reforma de acessibilidade apresentada pelo ICMBio e as intervenções do Santuário no Cristo Redentor.