SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército de Israel anunciou nesta quarta-feira (16) que suas tropas permanecerão nas zonas de segurança que criaram na Faixa de Gaza que representariam hoje cerca de 30% do território palestino. A população local vem sendo forçada a se deslocar das áreas tomadas ou sob ataque de Tel Aviv desde o início da guerra com o grupo terrorista Hamas.

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que “ao contrário do passado, as Forças de Defesa de Israel não estão esvaziando áreas que foram limpas e tomadas”. Segundo ele, a permanência das tropas funciona “como uma barreira entre o inimigo e as comunidades em qualquer situação temporária ou permanente em Gaza —como no Líbano e na Síria.”

Ainda de acordo com o comunicado militar, as forças de Israel atingiram cerca de 1.200 “alvos terroristas” por via aérea e realizaram mais de cem “eliminações direcionadas” desde que retomaram sua ofensiva no território palestino em 18 de março, após uma trégua de dois meses.

O pronunciamento foi feito no mesmo dia em que uma porta-voz do secretário-geral da ONU afirmou que cerca de 500 mil palestinos foram deslocados em Gaza desde que Israel rompeu de vez o frágil cessar-fogo acordado com a facção palestina, há cerca de um mês.

“Nossos parceiros humanitários estimam que, desde 18 de março, cerca de meio milhão de pessoas foram deslocadas pela primeira vez ou novamente”, declarou Stéphanie Tremblay. Quase todos os mais de dois milhões de habitantes do território palestino já haviam sido deslocados antes do cessar-fogo.

Ainda nesta quarta, o ministro da Defesa também afirmou que Tel Aviv vai continuar bloqueando a entrada de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, onde 91% da população pode estar em situação de insegurança alimentar, segundo o Ocha (Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários).

“A política de Israel é clara: em Gaza não entrará nenhuma ajuda humanitária”, disse Katz. A afirmação ocorre dois dias após o órgão das Nações Unidas advertir que a situação no território palestino é provavelmente a pior desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.

A organização Médicos Sem Fronteiras afirmou em comunicado que o território se tornou “uma vala comum para os palestinos e todos aqueles que chegam para ajudá-los”. A coordenadora de emergência da organização, Amande Bazerolle, disse que a atual situação demonstra “um flagrante desprezo pela segurança dos trabalhadores humanitários e médicos em Gaza”.

Israel bloqueia a entrada de ajuda na Faixa de Gaza desde o dia 2 de março —duas semanas antes de o Exército de Tel Aviv retomar ataques aéreos e operações terrestres na região, devastada após meses de bombardeios. Trata-se do período mais longo de bloqueio desde o início da guerra.

O ministro, um dos membros do governo mais próximos do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, argumenta que a decisão é uma “alavanca de pressão” contra o Hamas para o grupo terrorista libertar os reféns ainda em sua posse. No futuro, segundo Tel Aviv, será preciso construir um mecanismo civil para receber eventuais ajudas.

Para diversas organizações humanitárias, porém, a medida é uma violação do direito internacional humanitário —conjunto de regras que tenta limitar as consequências de um conflito armado, especialmente aquelas que afetariam civis, profissionais de saúde, combatentes feridos e prisioneiros de guerra.

Tel Aviv costuma afirmar que o Hamas, que governa Gaza e liderou os ataques terroristas contra o sul de Israel no dia 7 de outubro de 2023, desvia a ajuda e usa os suprimentos para sustentar suas ações —algo que a facção, por sua vez, nega.

Desde o início da guerra, Israel direciona constantemente movimentações compulsórias à população palestina. Considerada previamente um dos últimos refúgios do conflito, a cidade de Rafah já chegou a abrigar mais da metade das pessoas de Gaza simultaneamente.

No momento, segundo as forças israelenses, toda a região de Rafah e do corredor Morag, que a separa de Khan Yunis, está tomada —incluindo áreas não acessadas anteriormente pelas forças de Tel Aviv. Katz afirmou, no último sábado, que as movimentações se tratam de um “momento final para remover o Hamas, libertar os reféns e por fim à guerra”.

Os avanços constantes de Israel, inclusive sobre áreas para as quais milhares de palestinos se deslocaram por direcionamentos do próprio exército israelense, deixam a população do território cada vez mais concentrada na região central do território, o que, segundo entidades internacionais, contribui para a piora significativa das condições humanitárias da região.