SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Corregedoria da Polícia Militar indiciou 14 integrantes da corporação sob suspeita de crimes ligados ao assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, empresário e delator de um esquema de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele foi morto a tiros de fuzil em novembro do ano passado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Entre os indiciados estão os três policiais militares acusados de executar o assassinato. O cabo Denis Antonio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues, ambos da Polícia Militar, são suspeitos de atirar no empresário. Já o tenente Fernando Genauro da Silva —que trabalhava na 1ª Companhia do 23º Batalhão da PM, na capital paulista— é suspeito de dirigir o carro em que estavam os executores do crime.

Os outros 11 policiais indiciados trabalhavam na segurança particular de Gritzbach. O trabalho como escolta, embora considerado comum na corporação, é uma transgressão disciplinar na PM.

Todos estão presos há meses. O indiciamento conclui a fase de investigação perante o Tribunal de Justiça Militar. Outros processos criminais contra os mesmos indiciados correm na Justiça comum.

A Corregedoria não encontrou indícios de que a escolta de Gritzbach tenha participado do assassinato. No entanto, a investigação afirma que eles tinham conhecimento dos crimes que o delator havia cometido e sua conexão com o PCC.

Por isso, concluiu que esses policiais integravam organização criminosa. Um deles foi indiciado apenas A defesa deles contesta essa conclusão.

“Ao aderirem de forma livre e consciente à prática os militares não apenas se afastaram dos deveres e valores institucionais da PMESP, como também afrontaram os pilares da hierarquia e disciplina, comprometendo a imagem da corporação e a confiança da sociedade”, diz trecho do relatório conclusivo da Corregedoria. “Em vez de proteger a população, os agentes passaram a proteger criminosos faccionados ao PCC.”

Segundo investigação da Polícia Civil, Gritzbach foi morto pelo trio de PMs por ordem de Carlos Gongorra Castilho, conhecido como Cigarreira. Ele teria ligação com o PCC e teria encomendado o assassinato em resposta à morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e do motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, em 2021.

Gritzbach era o principal suspeito da morte de Cara Preta num inquérito aberto pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) naquele ano. Ele negava participação no assassinato e afirmava ser vítima de um conluio entre policiais e integrantes do PCC para incriminá-lo.

Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo, em outubro do ano passado, Gritzbach teria acusado Castilho de ser o articulador do plano de apontá-lo como o mandante da morte de Cara Preta, assassinado no fim de dezembro de 2021 quando estava em um carro no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

O advogado Ivelson Salotto, que defende alguns dos integrantes da escolta, afirmou que “a Corregedoria da Polícia Militar quer confundir a opinião pública” ao induzir, segundo ele, que existiria uma relação entre os executores do assassinato e aqueles que participaram de sua segurança de alguma forma.

“A prisão do grupo da segurança encontra-se ilegal, pois além do excesso de prazo, não há justificativas de ordem legal e plausível para a manutenção da prisão cautelar”, afirmou. “Não oferecem qualquer risco a ordem pública e a persecução do eventual processo penal.”

Segundo Guilherme Flauzino, que também defende integrantes da escola, não há “qualquer elemento de prova constante nos autos que ateste a existência de uma suposta Organização Criminosa” ou qualquer prova de vínculo entre esses policiais e alguma facção.

Procurada para comentar o indiciamento, a Secretaria de Segurança Pública ressaltou que “como resultado das investigações, 17 policiais militares permanecem presos”.