Da Redação

O atacante Bruno Henrique, ídolo do Flamengo, foi formalmente indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de envolvimento em um esquema de manipulação de resultado para beneficiar apostadores. A investigação aponta que o jogador teria provocado intencionalmente um cartão amarelo durante uma partida do Campeonato Brasileiro de 2023, a pedido de terceiros interessados em apostas esportivas.

O caso é parte de um inquérito mais amplo que investiga fraudes no chamado “mercado de cartões” — um nicho das apostas esportivas que vem chamando atenção das autoridades. Segundo a PF, Bruno Henrique aparece como figura central em um grupo formado por familiares e apostadores próximos a seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior.

A Polícia Federal chegou até o jogador após analisar quase 4 mil mensagens de WhatsApp armazenadas em seu celular. Parte delas havia sido apagada, o que, segundo os investigadores, reforça a suspeita de ocultação de provas. O aparelho de seu irmão também foi apreendido e revelou diálogos comprometedores, nos quais o próprio Bruno Henrique teria confirmado o plano na véspera da partida.

As apostas foram feitas por pessoas próximas do atleta. Wander investiu R$ 380,86 e obteve retorno de R$ 1.180,67. A cunhada de Bruno Henrique apostou em duas plataformas: na primeira, teve o mesmo investimento e retorno que Wander; na segunda, apostou R$ 500 e lucrou R$ 1.425. Já a prima do jogador recebeu exatamente o valor que investiu: R$ 380,86.

O lance suspeito aconteceu nos acréscimos do jogo entre Flamengo e Santos, quando Bruno Henrique cometeu uma falta em Soteldo e foi advertido com o cartão amarelo pelo árbitro Rafael Klein. A conduta chamou atenção das casas de apostas, que notificaram atividades incomuns à Associação Internacional de Integridade de Apostas (Ibia). A entidade, especializada em monitorar irregularidades, enviou relatórios que deram início à operação Spot-Fixing, deflagrada em novembro de 2024.

Mesmo com indícios apontados pela PF, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) arquivou o caso no âmbito esportivo, alegando que não houve vantagem significativa para o jogador. A Procuradoria, com base em relatórios da Sportradar (empresa parceira da Fifa no combate a fraudes), considerou que o lance estava dentro do padrão e que os valores ganhos com as apostas eram irrelevantes diante do salário do atleta.

A Polícia Federal, por outro lado, sustenta que a manipulação ficou evidente com base nos dados coletados e nas apostas direcionadas. Além da sede do Flamengo, o CT Ninho do Urubu, também foram realizadas buscas em endereços no Rio de Janeiro e cidades de Minas Gerais.

Bruno Henrique, até o momento, não comentou diretamente o indiciamento. O Flamengo declarou, por meio de nota, que não teve acesso ao inquérito por estar sob sigilo judicial, mas afirmou confiar no jogador e que ele conta com o apoio do clube. “Bruno Henrique desfruta da nossa confiança e, como qualquer cidadão, tem direito à presunção de inocência”, diz o comunicado.

Visivelmente emocionado após a conquista da Copa do Brasil, o atacante falou sobre o impacto das acusações: “Recebi isso de forma agressiva. Não esperava. Mas acredito na justiça lá de cima. Estou tranquilo, com meus advogados, meu empresário e com todos que estão comigo nessa batalha. Só peço que a justiça seja feita.”

A defesa do jogador já solicitou o arquivamento do caso e a devolução dos bens apreendidos pela Polícia Federal.