Da Redação
O Brasil acaba de dar um passo histórico no combate à chikungunya: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da primeira vacina contra o vírus no país. Desenvolvido pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica franco-austríaca Valneva, o imunizante está autorizado para uso em adultos a partir de 18 anos.
A decisão foi oficializada no Diário Oficial da União e marca um avanço significativo no enfrentamento da doença, que tem se espalhado em diversas regiões do país, especialmente no Centro-Oeste e Nordeste.
Apesar da liberação, ainda existem etapas antes de a vacina chegar à população. O Instituto Butantan trabalha em uma versão com componentes nacionais, mais viável para produção em larga escala e adequada à incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, será necessário o aval da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), que avaliará o custo-benefício do imunizante.
Segundo o diretor do Butantan, Esper Kallás, a expectativa é que a aplicação comece por regiões endêmicas. “A prioridade deve ser proteger os moradores de áreas onde a doença é mais frequente”, afirma.
O pedido de registro foi submetido à Anvisa em dezembro de 2023, após aprovação nos Estados Unidos pela FDA (Food and Drug Administration), a agência reguladora americana.
Alta eficácia em testes clínicos
A eficácia do imunizante foi comprovada em ensaios clínicos com cerca de 4 mil voluntários entre 18 e 65 anos, realizados nos Estados Unidos. Cerca de 98,9% dos participantes desenvolveram resposta imunológica robusta, mantida por ao menos seis meses, conforme estudo publicado na revista The Lancet em 2023.
Em outro estudo, feito com adolescentes brasileiros, a vacina gerou anticorpos em 100% dos jovens que já tinham sido infectados anteriormente e em 98,8% daqueles que nunca tiveram contato com o vírus. Após seis meses, a proteção ainda era detectada em 99,1% dos casos. Esses resultados foram divulgados na The Lancet Infectious Diseases em setembro de 2024.
A ameaça da chikungunya
Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti — o mesmo vetor da dengue e Zika — a chikungunya provoca febre alta e dores intensas nas articulações, além de sintomas como dor de cabeça, manchas na pele e fadiga muscular.
Só em 2024, o Brasil registrou mais de 267 mil casos prováveis e pelo menos 213 mortes atribuídas à doença. Em Goiás, 129 municípios já apresentaram casos confirmados este ano, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.
Sem tratamento específico até o momento, a chegada da vacina representa uma nova esperança para conter o avanço da chikungunya e evitar novas epidemias.