BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou na tarde desta segunda-feira (14) no sistema da Casa o requerimento de urgência do projeto que prevê anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro.
A iniciativa aconteceu no momento em que o Executivo negociava com aliados a retirada de suas assinaturas. Nesta segunda, governistas já contavam com a desistência de 20 deputados, o que, no mínimo, adiaria a apresentação do requerimento.
Para protocolar o requerimento eram necessárias 257 assinaturas. Segundo informações do sistema da Câmara, o documento tem 262 assinaturas de deputados de partidos da oposição e de siglas que integram o governo Lula (PT), como PSD, União Brasil, PP, Republicanos e MDB.
A urgência permite que uma matéria tramite mais rapidamente na Câmara, já que o projeto segue direto para análise dos parlamentares em plenário, sem ser discutido nas comissões temáticas da Casa. Caso a urgência seja aprovada, os deputados precisarão analisar o mérito da proposta.
A decisão de levar a votação sobre a urgência ao plenário, no entanto, cabe ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), e emissários do governo articulam com os signatários o encaminhamento de pedido de exclusão de suas assinaturas. Embora a medida não tenha validade regimental depois de protocolado o requerimento, Lindbergh afirma que o movimento respaldaria Motta para que não leve a pauta ao plenário.
O petista lembra haver outras 2.245 propostas com requerimento de urgência. Essa, diz, é só a 2246ª. Lindbergh recorda ainda que Motta afirmou que só pautaria o projeto em caso de consenso entre os líderes.
“[Aliados] vão peticionar que querem retirar seus nomes. Vai ficar claro que não há maioria absoluta na Casa”, disse Lindbergh, ressaltando que deputados desconheciam a amplitude da proposta. Pelo projeto, a anistia se estenderia aos atos praticados desde outubro de 2022, como incêndios nas ruas de Brasília, e os planos de assassinato do presidente.
Questionado sobre a hipótese de retirada de assinaturas, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que “na política gestos políticos falam mais alto”. “Quem assinou [o requerimento] está contrariando a mim e a Gleisi”, acrescentou.
Em publicação nas redes sociais, Sóstenes afirmou que protocolou o requerimento numa estratégia para evitar que o governo pudesse atuar pela retirada das assinaturas. Antes, o líder do partido tinha afirmado que manteria em sigilo o nome desses deputados justamente para evitar qualquer pressão nesse sentido.
“Acabo de protocolar o requerimento de urgência do PL da Anistia com 264 assinaturas. Diante da pressão covarde do governo para retirada de apoios, antecipei a estratégia. Agora está registrado e público: ninguém será pego de surpresa. Anistia Já!”, escreveu.
O regimento interno da Câmara prevê que, após protocolada, uma proposição só poderá ser retirada de tramitação se houver um novo requerimento apresentado com assinatura de pelo menos metade dos autores da matéria mais um -nesse caso, seriam necessárias 132 assinaturas.
Ainda assim, Guimarães minimizou o fato de o requerimento ter sido protocolado, afirmando que isso “não garante sua imediata tramitação”. “Há mais de mil requerimentos apresentados. Cabe ao presidente da Casa decidir o que será pautado”, escreveu.
Em outra publicação, Sóstenes falou em “xeque-mate”. “Passei o fim de semana estudando o regimento com minha equipe. O governo achou que ia conseguir retirar as assinaturas? Aqui não. Aqui tem estratégia. O requerimento de urgência da anistia está protocolado. Está pública. Está protegido. Agora é o povo contra o sistema”, disse.
O requerimento de urgência pode ser assinado por líderes partidários, representando suas bancadas, ou por parlamentares. No caso, lideranças do centrão liberaram suas bancadas, mas evitaram assinar o documento, numa forma de dividir a pressão com Motta.
Há uma avaliação entre integrantes da cúpula da Câmara de que não é momento de pautar a proposta, que poderia gerar ruído institucional, sobretudo com o Judiciário. Por isso, o presidente da Casa ainda busca uma solução negociada.
De acordo com relatos colhidos pela reportagem, integrantes do Executivo e parlamentares governistas atuavam desde a semana passada nos bastidores para convencer deputados a retirarem suas assinaturas -alguns governistas defendiam até mesmo uma resposta dura do Palácio do Planalto em reação, citando como exemplo a possibilidade de rever eventuais indicações desses parlamentares para cargos do Executivo nos estados.
Um auxiliar do presidente da República diz que havia um movimento de procurar os deputados para esclarecer exatamente o conteúdo do projeto em questão. Esse aliado afirma que muitos assinaram sem saber o conteúdo ao certo do texto.
Em publicação nas redes, Guimarães afirma que a oposição estaria deixando de esclarecer que o projeto “visa, preferencialmente, anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e os seis generais idealizadores, planejadores e comandantes da intentona de golpe de Estado”.
“Outro aspecto importante, é que o projeto de lei não condiz com o que os parlamentares da oposição estão dizendo. Não se trata de dosimetrias das penas, como foi dito. A Câmara não pode incorrer no erro de garantir a impunidade de pessoas que atentaram contra a ordem democrática, ao Estado democrático de direito e ao próprio Congresso Nacional”, escreveu.
O relatório do projeto de lei apresentado pelo deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) no ano passado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara ampliou o escopo da proposta, sugerindo perdão a todos os atos pretéritos e futuros relacionados aos ataques à sede dos três Poderes.