Mesmo com uma leve melhora nos números, o cenário da desigualdade salarial entre homens e mulheres em Goiás segue alarmante. É o que mostra o 3º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado na semana passada pelo Governo Federal. Segundo os dados, embora a diferença entre os salários tenha diminuído desde o último levantamento, homens ainda ganham, em média, mais de 20% a mais do que mulheres no estado.

De setembro de 2024 para cá, a defasagem caiu apenas 0,15 ponto percentual. A média salarial feminina em Goiás é de R$ 2.999,13, enquanto a dos homens chega a R$ 3.872,35 — uma diferença percentual de 22,55%. No relatório anterior, a distância era de 22,7%. O avanço, embora positivo, ainda está longe de representar igualdade.

No panorama nacional, a situação também piorou: a diferença entre os salários médios de homens e mulheres no Brasil é de 20,87%, o que representa um leve aumento de 0,18% em relação ao relatório anterior.

Desigualdade racial escancara disparidade dentro da disparidade

A análise por recorte racial torna o cenário ainda mais grave. Em Goiás, mulheres negras ganham em média R$ 2.659,43 — 30,1% a menos que mulheres não negras, cuja média salarial é de R$ 3.804,11. Nacionalmente, a desigualdade é maior: mulheres negras recebem, em média, R$ 2.864,39, enquanto as não negras chegam a R$ 4.661,06 — uma diferença de quase 38%.

O abismo também se revela entre os homens: em Goiás, trabalhadores negros ganham R$ 3.448,52, enquanto os não negros têm média salarial de R$ 4.913,31.

Empresas ainda resistem à equidade

O relatório também avaliou a presença de políticas afirmativas nas empresas. Apenas 27,5% dos estabelecimentos goianos adotam medidas para incentivar a contratação de mulheres — número abaixo dos líderes Amapá (38,7%), Minas Gerais (35,5%) e Rondônia (35,4%).

Entretanto, Goiás se destaca positivamente em uma frente: políticas voltadas à contratação de mulheres vítimas de violência doméstica. Nesse quesito, o estado aparece em segundo lugar no país, com 7,5% das empresas praticando essa iniciativa, atrás apenas do Distrito Federal (10,5%). Rondônia, por outro lado, ocupa a última posição, com apenas 2,6%.

Conclusão: avanços ainda não superam os entraves históricos

O relatório do Ministério do Trabalho e Emprego joga luz sobre uma realidade complexa e resistente à mudança. Apesar de pequenos progressos, a desigualdade de gênero e raça no mercado de trabalho permanece profunda — e os dados apontam que, sem políticas públicas mais robustas e ações efetivas no setor privado, a equidade continuará sendo uma promessa distante.