SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A aluna de medicina Thaís Caldeira Soares Foffano, 26, disse à Folha de S.Paulo sofrer ameaças após repercussão do vídeo em que ela e a estudante Gabrielle Farias de Souza comentam caso da paciente transplantada três vezes no Incor (Instituto do Coração), em São Paulo.

Dentre as mensagens que recebe nas redes sociais estão xingamentos, ameaças de agressão e mensagens em que usuários incentivam o suicídio das estudantes.

“Estamos recebendo ameaças e muito ódio nas redes. Não cometemos nenhum crime. Somos pessoas com sonhos e histórias reais”, afirmou Foffano.

As estudantes publicaram um vídeo nas redes sociais em que comentam o caso de Vitória Chaves da Silva, 26, que passou por quatro transplantes, três no coração e um no rim. A postagem foi feita dias antes da morte da paciente.

Na publicação, as alunas, sem citar Vitória nominalmente, diziam estar chocadas por saberem que uma paciente tinha recebido três corações mesmo diante das questões burocráticas, da fila para o procedimento e das dificuldades relacionadas à compatibilidade do órgão com o possível receptor.

Ambas parecem fazer chacota do caso no vídeo, publicado em fevereiro, afirmando que um dos transplantes de coração não foi bem-sucedido porque os medicamentos não foram tomados corretamente, além de declararem que a paciente achava que tinha sete vidas.

Vitória era portadora de cardiopatia congênita, uma má formação no coração, e morreu em fevereiro deste ano por choque séptico e insuficiência renal crônica.

As alunas foram denunciadas no início da semana pela família da paciente, que acionou o Ministério Público pedindo retratação.

Thais disse ainda que seu nome tem sido relacionado a conteúdo pornográfico em buscadores online. Ela compartilhou com a reportagem uma apresentação com todo o trabalho que já exerceu, afirmando ser bolsista do Prouni, filha de diarista e a primeira pessoa da família a ingressar em uma faculdade.

Ela declara que o vídeo que circula nas redes é sensacionalista. “Quem viu o vídeo na íntegra, sem cortes, entendeu que nunca houve deboche”, diz.

Questionada se chegou a conversar com a família de Vitória ou se pretendia se posicionar publicamente, a jovem diz que só poderia falar com o aval da advogada.

Ao portal de notícias G1, as alunas gravaram um depoimento em vídeo em que dizem que a intenção do vídeo que viralizou não era expor a paciente transplantada e que sentiam pela morte dela.

Um comunicado divulgado pelos advogados de defesa das alunas diz que a ideia do conteúdo era expressar surpresa, curiosidade e reflexão diante do caso clínico mencionado em estágio.

“É importante esclarecer que não tivemos contato com a paciente, não acessamos seu prontuário, não citamos seu nome, não capturamos e nem divulgamos qualquer imagem”, completa o documento ao afirmar que as alunas nem sequer sabiam quem era a paciente.

As estudantes ainda disseram que a divulgação de trechos isolados contribuiu para distorções na interpretação do conteúdo e que manifestam solidariedade à família da paciente mencionada nas reportagens.