QUITO, EQUADOR (FOLHAPRESS) – O Equador começou a votar neste domingo (13), a partir das 9h (7h locais), em um clima de tensão. Desta vez não devido à violência armada que acomete o país, mas às antecipadas acusações dos dois lados em disputa de que pode haver fraude.
Sem suspeita alguma de quem será o eleito, uma vez que o presidente Daniel Noboa e a opositora Luisa González mantiveram empate técnico, resta uma certeza: a de que a avaliação posterior dos observadores eleitorais internacionais terá peso no final do dia.
São ao todo 485 observadores de fora credenciados, segundo o órgão eleitoral. O grupo de maior peso é o oriundo da União Europeia, com membros que recém-chegaram e outros que já estavam há meses no país. No primeiro turno, eles disseram que o processo havia seguido o rito democrático, mesmo quando Noboa falou em irregularidades.
A poucas horas do domingo, Luisa González publicou um vídeo em suas redes sociais no qual dizia ter recebido de membros de inteligência das Forças Armadas informações de que, a mando de Noboa, falsas atas de votação estariam sendo plantadas pelo país para “construir a ideia de fraude ante sua iminente derrota”. Não há provas.
Membros da gestão Noboa também sinalizavam acreditar que poderia haver fraude, mas acusando, por óbvio, a opositora de esquerda.
O voto no país é obrigatório e em papel. A contagem é feita nos próprios centros de votação e depois enviada eletronicamente à autoridade eleitoral. Os delegados de cada partido presentes (ao todo são 94 mil) ficam com cópias das atas assinadas e as levam para casa.
Segundo um informe parcial do órgão eleitoral na metade da jornada de votação, 634 pessoas foram detidas por infrações e 56 armas de fogo foram apreendidas. Ao chegar ao centro de votação, o eleitor tinha a mochila revistada por militares.
O decreto do presidente Daniel Noboa que no sábado (12) implantou um estado de exceção por dois meses, incluindo a derrubada do direito de inviolabilidade domiciliar, também deu caldo às críticas e acusações de dentro e de fora do país.
O próprio Congresso unicameral, onde há uma estreita maioria simples do Revolução Cidadã, movimento político de Luisa González, divulgou comunicado manifestando sua preocupação.
A instituição legislativa disse que “as medidas geram preocupação quanto aos limites do direito de reunião, afetam o direito ao voto e alteram a ordem democrática e, portanto, o transcorrer de um processo eleitoral transparente, pacífico e legítimo”.
Às 13h (11h locais), o chefe da missão de 105 observadores da UE, Gabriel Mato, falou brevemente com a imprensa e, questionado sobre o estado de exceção, disse que o que o preocuparia seria que a medida “restringisse a possibilidade de que haja controle, transparência e liberdade de movimento” na jornada de votação. Segundo ele, porém, órgão eleitoral disse que esses três pilares serão assegurados.
O espanhol, que falava em um centro de votação estabelecido em uma universidade no norte da capital Quito, afirmou ainda que, desta vez, o presidente Noboa deixou claros todos os momentos nos quais estava fazendo campanha. A menção se refere ao fato de que, no primeiro turno, Noboa se recusou a se licenciar do cargo para fazer campanha. O presidente impediu sua então vice, Verónica Abad, de assumir o cargo temporariamente, como manda a Constituição.
Políticos de outros países também se somaram à manifestação de preocupação. Da Argentina, o Partido Justicialista de Cristina Kirchner e Alberto Fernández divulgou nota criticando o estado de exceção. Do Brasil, dirigentes do PSOL, muito próximo ao ex-presidente Rafael Correa, padrinho de González, também o fizeram.
A votação vai até às 19h (17h locais). A participação costuma girar em torno de 80% dos eleitores. Ao todo, entre militares e policiais mais de cem mil agentes de segurança foram mobilizados. Nos centros de votação, são militares fortemente armados os que monitoram a atividade do eleitor.
A missão de observação da UE (conhecida como “MOE”) deve divulgar o seu relatório parcial somente na terça-feira (15). O governo adiantou o feriado da Semana Santa, que teria início na sexta, para começar na quinta-feira. Analistas e opositores dizem que se trata de uma tentativa de amenizar possíveis protestos sociais pós-eleição, já que muitos viajam nesse feriado a outras províncias para visitar a família.