SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A duas estudantes de medicina denunciadas por expor uma paciente em vídeo no TikTok negaram que essa tenha sido a intenção da publicação. A mulher da qual falavam, que tinha feito três transplantes de coração, morreu nove dias após a postagem.
Alunas lamentaram a morte da paciente. “Estamos vindo a público para dizer para a família que realmente sentimos muito pela perda e deixar claro que a nossa intenção jamais foi expor”, disseram Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano em vídeo ao g1.
“A única intenção do vídeo foi demonstrar surpresa por um caso clínico raro que tomamos conhecimento dentro de um ambiente de prática e aprendizagem médica”, completaram. O caso da paciente era considerado raro no Incor.
Elas também afirmaram que desconheciam a identidade da paciente. “É muito importante ressaltar que nós não tivemos acesso à paciente, ao seu prontuário ou divulgamos qualquer imagem relacionada a ela, nós nem sequer sabemos seu nome completo”, completaram.
Família identificou o caso e registrou boletim de ocorrência. Mesmo sem a divulgação do nome da paciente pelas estudantes, familiares de Vitória Chaves disseram que ela seria a única no hospital com um caso semelhante, e argumentam que isso constataria a falta de ética e desrespeito das estudantes.
O caso também foi levado ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Estudantes disseram que “todas as medidas cabíveis já estão sendo tomadas para que todos os fatos sejam esclarecidos da melhor forma possível”.
Relembre o caso
A jovem morreu após receber três transplantes de coração. Familiares disseram que as duas estudantes de medicina desrespeitaram a paciente ao publicarem um vídeo contando a história dela no TikTok. Publicação foi em 17 de fevereiro, antes de a paciente morrer.
No vídeo, as duas estudantes descrevem a situação clínica de Vitória para milhares de pessoas. O post foi excluído da rede social após repercussão, mas já contava com milhares de curtidas e centenas de comentários.
Uma paciente que já fez transplante cardíaco três vezes. Um transplante cardíaco é burocrático, já é raro, tem a questão da fila de espera, da compatibilidade, mil questões envolvidas. Agora, uma pessoa passar por um transplante três vezes, isso é real e aconteceu aqui no Incor e essa paciente está internada aqui.
Aluna de medicina, em publicação no Tiktok
Uma das estudantes sugeriu que a paciente teve complicações por erro dela mesma após a cirurgia. O vídeo tem pouco mais de dois minutos e as estudantes vão se intercalando nas falas.
“Ela não tomou os remédios que precisava tomar e o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo por um erro dela. E agora transplantou de novo”, disse a aluna de medicina, em publicação no Tiktok
“Sete vidas”, diz a outra. A segunda aluna complementa a fala da colega satirizando a situação da paciente, segundo a família. “Essa menina está achando que tem sete vidas? (…) Eu tô em choque”, complementa.
Ao fim do vídeo, as mulheres dizem que desejam melhoras para a paciente. Vitória morreu nove dias depois da gravação.
Polícia vai investigar o caso. O caso foi registrado como injúria no 14º Distrito Policial de Pinheiros, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Alunas eram de outra universidade e estavam fazendo curso de extensão no Incor, explica USP. Ao UOL, a Faculdade de Medicina de São Paulo explicou que as universidades de onde as estudantes vieram foram notificadas sobre o ocorrido.
Alunos de curso de extensão receberão orientações sobre como se portar nas redes sociais e assinarão termo de compromisso, diz a universidade. “A FMUSP repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma o compromisso inegociável com a ética, a dignidade humana e os valores que norteiam a boa prática médica”, afirmou em nota.