SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O choque tarifário anunciado por Donald Trump no dia 2 de abril e as sucessivas idas e vindas que se seguiram colocaram empresas de capital aberto em uma situação delicada: dar respostas ao mercado sobre esse novo e instável cenário sem bater de frente com o presidente no caminho.

“Apoiamos a disposição do governo em analisar barreiras ao comércio justo para os Estados Unidos, embora certamente existam riscos associados a ações tão significativas”, disse, por exemplo, o CEO do Wells Fargo, Charlie Scharf, em nota nesta sexta-feira (11), junto com o resultado do banco no primeiro trimestre.

“Esperamos continuidade na volatilidade e incerteza, e estamos preparados para um ambiente econômico mais lento em 2025, mas o resultado real dependerá dos efeitos e do cronograma das mudanças nas políticas”, continuou.

A divulgação dos balanços trimestrais, obrigatória para empresas negociadas em Bolsa, é uma chance de entender como executivos avaliam o cenário econômico. Os resultados começaram a sair na semana passada e devem continuar nas próximas -estão na lista gigantes do setor financeiro, industrial e tecnológico, pegas no tiroteio entre Washington e Pequim.

Jamie Dimon, à frente do maior banco americano, o JPMorgan, cujo resultado também foi divulgado nesta sexta, disse que a economia está diante de uma “turbulência considerável”, que “a questão da China é significativa” e que não sabe qual será o impacto completo dessa guerra comercial.

Na segunda, Dimon já havia alertado, em carta anual a investidores, que os EUA estão envolvidos em apenas US$ 2,5 trilhões de um comércio global de US$ 20 trilhões. “O comércio global continuará acontecendo com ou sem a nossa participação”, disse.

Ponderando que “há alguns motivos legítimos” para as tarifas, ele afirmou que é provável que, no curto prazo, seu efeito seja de pressionar a inflação e desacelerar a economia.

Dimon também citou o Brasil ao apontar exemplos de países dos quais os EUA podem se aproximar sem demandar uma aliança, mas “simplesmente estendendo uma mão amiga por meio do comércio e do investimento”.

Já Larry Fink, responsável pela trilionária gestora de ativos BlackRock, foi mais contundente em suas críticas. “As amplas medidas tarifárias anunciadas pelos EUA foram além de tudo o que eu poderia imaginar em meus 49 anos no setor financeiro”, disse durante teleconferência com analistas após divulgar seu balanço.

Em entrevista ao canal CNBC, ele disse que os EUA se tornaram “o desestabilizador global”. Como Dimon, alertou para os riscos de uma recessão no curto prazo.

Outras empresas estão se adiantando às divulgações e já recuando de estimativas de ganhos no primeiro trimestre feitas antes do anúncio do pacote tarifário. O Walmart, por exemplo, citou as incertezas do cenário atual para justificar a ampliação da faixa de lucro operacional para o primeiro trimestre. O balanço da gigante varejista será divulgado em 15 de maio.

“Nós não somos imunes aos efeitos [das tarifas]”, disse o CEO do Walmart, Doug McMillon, durante um evento com investidores na última quarta (9). Ao mesmo tempo, ele afirmou que “nada no ambiente atual impacta nossa confiança em nosso negócio ou estratégia” e que a empresa vai focar no que pode controlar.

A companhia aérea Delta foi além e retirou sua projeção financeira para o ano de 2025. “Dada a falta de clareza econômica, é prematuro neste momento fornecer uma nova projeção para o ano completo”, disse o CEO Ed Bastian em nota divulgada também na quarta.

“Com a ampla incerteza econômica em torno do comércio global, o crescimento praticamente estagnou. Nesse ambiente de crescimento mais lento, estamos protegendo margens e fluxo de caixa ao focar no que podemos controlar”, completou.