RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Livrarias abertas à meia-noite, museus abertos na madrugada, feiras literárias em escolas de samba e evento na praia de Copacabana estão na programação do Rio de Janeiro ao longo do ano para celebrar a escolha, por parte da Unesco (Organização das Nações Unidas), da cidade como Capital Mundial do Livro em 2025.
Será a primeira vez em que a capital mundial do livro é uma cidade de língua portuguesa. O Rio foi escolhido por um comitê internacional de editores, bibliotecas e autores. A Prefeitura do Rio anuncia nesta sexta-feira (11) o calendário de eventos, e o prefeito Eduardo Paes (PSD) e a ministra Margareth Menezes (Cultura) assinam um protocolo de intenções para fomento do livro e da leitura na cidade.
O Rio inicia oficialmente a jornada como capital do livro a partir do dia 23 de abril, feriado estadual de São Jorge. A data será celebrada com um espetáculo musical no teatro Carlos Gomes, na praça Tiradentes, no centro.
O Rio terá eventos abertos ao público ao longo do ano, entre eles uma exposição inédita da obra de Vinicius de Moraes e experiências entre a literatura e a cidade, como museus e livrarias abertas à meia-noite.
Quadras de escolas de samba terão feiras literárias itinerantes. A maior delas vai acontecer na Portela -a FLIPortela, iniciada em 2019, chega em 2025 na sexta edição. Também está no radar discussões com o mercado editorial.
No fim de abril, o escritor português Valter Hugo Mãe é aguardado no Rio para uma reunião com escritores e editores de livros locais.
Na pauta, o mercado da literatura em língua portuguesa.” Vamos buscar uma política de desenvolvimento econômico para o livro. A indústria do livro não é do tamanho da indústria de óleo e gás, ou do transporte, mas é uma indústria relevante. Os livros fazem um país”, afirma o secretário municipal de Cultura Lucas Padilha.
A edição deste ano Bienal do Livro do Rio, que acontece entre os dias 13 e 22 de junho, planeja ser a maior em público e quantidade de expositores.
O Prêmio Jabuti também prevê ações em parceria com o município, assim como a ABL (Academia Brasileira de Letras).
No dia 23 de abril, a Câmara Brasileira do Livro e a secretaria de Cultura devem detalhar uma nova categoria do Jabuti, cujo ganhador será selecionado por um júri conjunto entre as instituições.
O presidente da ABL, Merval Pereira, esteve com Lucas Padilha em Lisboa, Portugal, no último dia 8, para buscar uma caixa de livros. A caixa tem livros de obras clássicas e contemporâneas de países lusófonos.
Uma rede de escolas públicas de países de língua portuguesa, da qual o Rio de Janeiro faz parte, planeja trocas de cartas em que os alunos representarão autores de seus países.
Nas cartas, jovens brasileiros vão representar Jorge Amado (1912-2001) e jovens portugueses José Saramago (1922-2010). Os dois autores trocaram correspondências e bilhetes a partir de 1992.
Influenciadores de livros e clubes de leitura virtuais farão parceria para divulgar o calendário de ações. “Uma pesquisa do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) mostrou que 81% dos brasileiros de 12 a 13 anos pesquisadas se dizem leitores. Teoricamente, as crianças estão lendo, mas a atenção está entre a tela e o livro. A pergunta é: por que essa oposição? No Tiktok, um vídeo de 15 segundos é um instrumento de formação de leitores”, afirma Padilha.
A prefeitura estuda a instalação de uma plataforma gratuita de audiolivros nos ônibus BRT. Ainda está em estudo como o equipamento pode funcionar e quais livros estarão disponíveis gratuitamente.
Também está no radar a distribuição de livros em clínicas da família e parcerias com igrejas evangélicas e terreiros de umbanda e candomblé. “A visão tradicional do que é leitura exclui a contação de histórias, a pregação do pastor sobre a história de Israel, o ritual de história oral das religiões de matriz africanas”, diz Padilha.
“A sociedade discute muito sobre o que é fake news ou não, mas pouco sobre capacidade de aprendizagem profunda. Hoje as democracias enfrentam um problema de leitura, e não existe democracia sem leitor.”