TEGUCIGALPA, HONDURAS (FOLHAPRESS) – A cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) chega nesta quarta-feira (9) à reunião dos chefes de Estado, ponto alto do evento que ocorre em Honduras desde o início da semana, com a publicação de uma declaração final ainda incerta.

De acordo com um funcionário do Itamaraty informado sobre as negociações, há três cenários possíveis. O mais pessimista é finalizar a cúpula sem a divulgação de documento algum diante de um fracasso diplomático. Na outra ponta, o mais otimista é que as negociações destravem e o texto final atenda a todos.

O mais provável, no entanto, é que a declaração saia sem que todos os 33 países-membros se associem —algo parecido com o que aconteceu no G20, em novembro do ano passado. Na ocasião, o presidente da Argentina, Javier Milei, tentou travar a menção a qualquer tema relacionado a gênero, mas por fim recuou e emitiu um comunicado afirmando que, apesar de assinar o documento, não concordava com questões como a “limitação da liberdade de expressão em redes sociais”, por exemplo.

Desta vez, o país segue sendo um dos entraves, de acordo com esse funcionário do Ministério das Relações Exteriores. Ao lado dele, porém, há também o Paraguai, outro país governado por um líder de direita, Santiago Peña, e, surpreendentemente, a Nicarágua, que vive sob uma ditadura de esquerda regida pelo casal Daniel Ortega e Rosario Murillo.

A discrepância entre os líderes em desacordo com o texto final dão uma amostra da encruzilhada em que se encontra o projeto de integração da América Latina.

Embora não estejam claros quais os pontos de desacordo, é comum que o governo argentino se oponha a qualquer menção a gênero ou à defesa de apoio estatal, por exemplo. Já a Nicarágua, taxada em 18% no tarifaço do presidente americano, Donald Trump, na semana passada, costuma ser uma crítica contumaz dos Estados Unidos —o que dificilmente seria atendido por um grupo de países em geral tão dependentes de Washington.

A Celac precisa de consenso para emitir comunicados, o que resguarda o poder de países com menos peso político, por um lado, mas também torna mais desafiador fazer declarações ousadas. Por isso, a expectativa é a de que, como nos outros anos, o texto final venha insosso, apesar do momento de embate com os EUA.

Não ajuda a fragmentação política pela qual a região passou nos últimos anos —cenário bastante distinto daquele que propiciou a fundação do grupo, em 2011. Na época, o país vivia o que seria o final do que ficou conhecido como onda rosa, quando governos de esquerda chegaram ao poder em diversas nações da região e havia uma sinergia entre os líderes.