PAULO SALDAÑA E JOÃO GABRIEL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Censo Escolar de 2024 mostra que o ensino médio tem apresentado uma tendência positiva mesmo antes do início do programa Pé-de-Meia, aposta do governo Lula (PT) para melhorar o sucesso escolar nesta etapa.
O MEC (Ministério da Educação) divulgou nesta quarta-feira (9) os números da edição de 2024 do Censo, que traz o panorama da educação brasileira. Os dados são de responsabilidade do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), ligado ao ministério. A divulgação atrasou mais de dois meses.
As redes públicas do país registraram no ano passado um total de 6.759.848 matrículas, com um leve aumento em relação ao ano anterior (quando eram 6.690.396 alunos).
A tendência para as matrículas no ensino fundamental, no entanto, é de queda, reflexo de mudanças demográficas e melhora de fluxo ao longo dos anos.
Ao se observar a idade dos estudantes no ensino médio, também há pequenos avanços. No ano passado, 87% dos matriculados em escolas públicas tinham até 17 anos, idade ideal para a etapa. Em 2019, antes da pandemia, esse percentual era de 82%.
A maioria absoluta dos estudantes de ensino médio da rede pública (96%) está em escolas estaduais: um total de 6,45 milhões. O restante é vinculado a unidades federais e municipais.
Os dados são da sinopse estatística do Censo Escolar, tabela disponibilizada para a imprensa com antecedência. O governo deve dar acesso a outros resultados nesta quarta, quando há entrevista coletiva com a presença do ministro da Educação, Camilo Santana. Também promete avaliações relacionadas ao Pé-de-Meia.
A divulgação do Censo deste ano ganhou maior protagonismo por causa deste programa, uma vez que permite a mensuração da realidade educacional no ano em que as bolsas começaram a ser pagas.
O Pé-de-Meia concede bolsas para alunos mais pobres se manterem na escola, além de uma poupança que só pode ser sacada após a conclusão.
Uma avaliação mais consistente sobre os efeitos do programa deve ser conhecida mais para frente, quando forem divulgados dados sobre evasão e abandono na transição entre 2024 e 2025. O Censo usa como data de corte para a coleta das informações de matrículas os primeiros meses do ano letivo.
O ensino médio é considerado uma das etapas com maiores desafios para o país, o que já começa na própria permanência dos estudantes na escola. Três em cada dez jovens de 19 anos do país ainda não terminaram etapa (em 2023).
A perda de alunos é forte ao fim do 1º ano. As informações divulgadas indicam tendência de melhora: as redes públicas do país registraram em 2024 um número superior de alunos nos 2º e 3º anos com relação ao ano anterior.
O ensino médio público representa 87% do total de alunos da etapa em 2024. O restante está em escolas privadas: 1.030.548 alunos.
O Brasil tinha em 2024 um total de 47.088.922 alunos na educação básica como um todo que vai da creche ao ensino médio. Isso considerando todas as redes, públicas e privadas.
O maior volume está concentrado no ensino fundamental, com 26.002.356 alunos. Desse total, 21.206.984 estão em escolas públicas, a maioria em redes municipais.
A educação infantil, que compreende alunos de até 5 anos (da creche à pré-escola), teve leve aumento de matrículas. Passou de 9.461.155 em 2023 para 9.491.894 no ano passado a pré-escola, no entanto, perdeu alunos.
A divulgação do Censo ocorre em meio a uma crise de transparência na pasta de Camilo Santana. Como revelou a Folha de S.Paulo, o Inep quis engavetar os dados de alfabetização do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) de 2023, em uma decisão inédita.
O movimento foi contestado por técnicos do MEC, e o ministro ordenou a divulgação das informações.
Quando revelados, os dados do Saeb confirmaram o que era uma suspeita de servidores da pasta: havia diferenças entre o Saeb e um novo índice divulgado pelo governo no ano passado, com base em avaliações aplicadas pelos estados.
Enquanto a avaliação já divulgada mostrava que 56% das crianças do 2º ano estavam alfabetizadas em 2023, os dados do Saeb indicam um percentual menor, de 49%.
Isso representa queda com relação a 2019, antes da pandemia, quando o mesmo Saeb indicava que o país tinha 55% das crianças alfabetizadas, segundo critérios de aprendizagem definidos pelo atual governo.
