BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A secretária de Políticas Afirmativas do MIR (Ministério da Igualdade Racial), Márcia Lima, anunciou nesta terça-feira (8) que pediu demissão do cargo.
Ela deixa a pasta comandada por Anielle Franco com críticas à forma como o governo Lula (PT) divulga as ações de seus ministérios sobretudo as do MIR.
Lima considera a comunicação do ministério “a melhor de toda a Esplanada”, mas que o governo no geral aproveita mal os feitos de seus órgãos e deveria divulgar os atos de forma mais conjunta.
Agora, ela sai para assumir a Diretoria de Estudos e Políticas Sociais no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em busca de uma maior autonomia o que entende ser mais limitado dentro de um ministério.
“O problema não é a comunicação do ministério, eu acho que é a comunicação do governo sobre o ministério. E também sobre alguns ministérios, não somente o MIR”, disse à reportagem.
“A imprensa também dá destaque a coisas que na verdade não são as coisas mais interessantes que a gente faz. Muito destaque na figura da ministra e pouco no trabalho do ministério.”
Ela entende que o modelo de comunicação hoje colocado em prática vai na contramão do slogan “União e Reconstrução”, mote deste terceiro mandato de Lula, e faz com que as ações não sejam bem divulgadas.
Ela aponta que poderiam ser divulgadas ações conforme o público, por exemplo idoso, infantil, mulher, e não deixá-las a cargo apenas dos ministérios responsáveis.
O governo mudou a chefia de sua comunicação há cerca de três meses, com a chegada de Sidônio Palmeira para substituir Paulo Pimenta, em uma movimentação do presidente para reverter justamente os problemas da área.
Neste marco de dois anos de gestão, o novo ministro realizou o evento “Brasil dando a volta por cima” como uma forma de dar um balanço das ações realizadas no período e mostrar o que foi feito por cada área.
Lima destaca a má divulgação do Juventude Negra Viva, programa com ações voltadas a reduzir a vulnerabilidade e morte de jovens negros, com ações nas áreas da saúde, segurança pública, educação, entre outras.
A política pública, que visa enfrentar o racismo estrutural, foi coordenada junto à Secretaria-Geral de Presidência. No papel, ela possui 11 eixos de atuação e 217 ações pactuadas entre 18 ministérios. Foram R$ 660 milhões investidos.
Na prática, a divulgação da ação caiu em esquecimento na maioria das comunicações dos ministérios.
No lançamento do programa, em março de 2024, Lula afirmou ser sua responsabilidade e de todos os ministros que o Juventude Negra Viva fosse propriamente divulgado.
“Todo mundo aqui tem a obrigação de colocar esse programa, Plano de Juventude Negra Viva, no cotidiano do discurso de vocês. Porque se cada um falar apenas aquilo do seu ministério, as pessoas não sabem. Se cada um só falar das suas coisas, do seu ministério, não adianta um programa com 18 ministros”, declarou no evento. “Senão, vira um programa natimorto. Foi anunciado, mas não cumpriu com aquilo que é o objetivo.”
Ele cobrara nominalmente a titular da Igualdade Racial, Anielle Franco, e outros ministros presentes como Margareth Menezes (Cultura), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).
Lima considera que o amplo número de 38 ministérios é um problema para a comunicação dos órgãos com o presidente e também entre si. Para certas negociações, os secretários são limitados e precisam da atuação da alta gestão os ministros e o próprio Lula.
“O nosso limite de negociação, de possibilidade, de construção com os outros ministérios, ele tem um teto. Então eu acho que por ser um governo com muitos ministérios isso dificulta a construção dessas pautas transversais. Em algum momento, eu saí mapeando com quem eu devia dialogar”, diz ela sobre articulações que tentou para o programa.
A Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), por sua vez, afirmou que tem trabalhado para promover a integração e o alinhamento da comunicação entre os diversos órgãos do governo, e que tem como princípio fundamental a prestação de contas à sociedade.
“Nosso foco é mostrar, de forma transparente, as ações do governo, as políticas públicas em andamento e como elas impactam a vida dos cidadãos, além de informar como a população pode se beneficiar dessas políticas. Embora os ministros e ministras desempenhem naturalmente o papel de porta-vozes, o verdadeiro protagonismo reside nas entregas e nos resultados concretos alcançados”, diz o órgão em nota.
Para a ex-secretária, a falta de articulação entre a alta gestão traz mais dificuldades para pautas voltadas à diversidade. Ela afirma que esses temas costumam depender de líderes das instituições ou empresas para serem discutidas, carecendo de uma institucionalização maior dessas políticas.