RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Pedro Matos nasceu em uma família de campeões mundiais. O caminho escolhido, porém, não teve as asas do voo livre ou a força no tatame, mas o balanço das ondas do mar. No último mês, se tornou o primeiro brasileiro a conquistar o título na praia de Ponta Preta, em Cabo Verde, etapa de estreia da atual edição do Mundial de Kitesurfe, e deu um passo rumo ao bi — foi campeão mundial em 2016, ainda pela IKA, International Kite Association.

“Fui o primeiro brasileiro a conseguir ganhar um título lá. Há sete anos apenas os cabo-verdianos vinham sendo campeões. Começar o ano dessa forma foi incrível porque considero aquele lugar um dos mais difíceis. As condições são boas, mas o vento é desafiador porque ele vem da terra para o mar, ou seja, você fica surfando de uma forma que não é o que normalmente veleja em outros lugares do mundo”, afirma Pedro.

“Teve vezes que eu ia para lá um mês, um mês e meio antes só para poder entender a melhor forma de surfar aquelas ondas. Então, a vitória foi bem especial. Importante começar o ano vencendo”, continuou.

Pedrinho, como é conhecido, é filho de Pedro Matos, campeão mundial de voo livre, e irmão de Kyra Gracie, campeã mundial de jiu-jítsu.

“Quando defini seguir caminho no esporte, tive uma conversa com meu pai e com a minha irmã, e eles apoiaram. Pensei: ‘imagina se eu for campeão mundial de kitesurfe também’. E consegui. Trouxe mais um título mundial para a família, isso é legal nessa história.”

Agora, Pedro se prepara para a próxima etapa, que será realizada entre os dias 26 e 31 de agosto, na região de Sylt, que fica nas ilhas Frísias, na Alemanha.

A ESCOLHA PELO MAR

De família de esportistas, Pedro Martins praticou jiu-jítsu e tênis na infância —no segundo caso, chegou a participar de competições—, mas o coração sempre bateu mais forte quando estava na água.

“O jiu-jítsu eu treinava com ela [Kyra], era a minha professora. O primeiro esporte em que eu comecei a competir foi tênis, quando eu tinha 7 anos. Disputei vários campeonatos até os 13 anos. Mas minha paixão sempre foi o mar. Eu já surfava e gostava do contato com o mar, com a natureza. Não curtia ficar em locais fechados.”

O atleta migrou do surfe para o kite devido a uma vontade de ficar mais tempo na água, e as condições do mar no Rio de Janeiro não permitirem. “Eu comecei no surfe bem novinho e sempre foi uma paixão. Eu moro no Rio de Janeiro e chega um momento em que não há tantas condições para surfar porque o mar fica mexido. Na Barra da Tijuca o kite é famoso. Falei: ‘pai, vamos aprender a velejar que aí consigo ficar mais tempo na água’. Ele achou a ideia legal e começamos. Eu tinha 13 anos e, desde então, fiquei apaixonado. Eu surfava de manhã e, quando entrava o vento, eu velejava”.

COMPOSITOR

Ao lado da prancha, um outro objeto que ganha destaque no quarto de Pedro é o violão. O instrumento o acompanha desde novo e se tornou um dos hobbies preferidos. Ele, inclusive, compõe canções e não descarta, futuramente, se arriscar no mundo da música.

Eu toco desde quando eu tenho, sei lá, uns 8 anos. Eu adoro. Também faço algumas canções, escrevo. Ainda não postei alguma, mas, quem sabe, um dia lance algumas coisas?

“Para o violão, curto mais o love song e o que escrevo, normalmente, é mais focada em música de amor. Gosto de tocar Nando Reis, Cassia Eller, Jota Quest, Charlie Brown. Para ouvir, curto também o pessoal do rap e do trap, Lennon, Meteca, Orochi”, completou.

O kitesurfista lembra ainda de Kelly Slater, um dos grandes nomes da história do surfe mundial. O multicampeão, em 2014, lançou “Feelin’ The Feelings”, parceria com Karina Zeviani e Pretinho da Serrinha

“Até mesmo o Kelly Slater tem músicas também. Ele adora cantar e tocar. Então, acho que isso também é quase um lifestyle que vem do surfe, dos esportes que pratico. A galera costuma ouvir bastante música acústica”, ressalta.

PREPARAÇÃO MENTAL

Pedro conta que, ao longo dos treinamentos, tem o auxílio do que chamou de coach mental, e salientou a necessidade de estar com a cabeça bem preparada para as competições — ressaltando que há coisas que fogem ao controle do atleta quando se trata de esportes na natureza.

“Nesses dois meses antes de Cabo Verde, me preparei fazendo funcional e coach para mente também. A mente é muito importante porque ela que te tira do jogo, te tira até de si mesmo. Você pode estar o mais treinado possível, mas se sua cabeça estiver ruim, não vai conseguir performar do jeito que deveria”.

Quando se é atleta profissional de modalidades relacionados à natureza, tem coisas que não dependem apenas de nós. Às vezes, a onda não vem, o vento fica fraco, e você acaba perdendo. Isso mexe muito com a nossa cabeça. Se não souber entender que isso faz parte do processo, deixa cabeça tomar conta do nosso propósito. Tenho de cuidar bastante disso e tenho uma coach esportiva que me ajuda muito.

JOÃO FONSECA E PEDRO NOVAES

Pedro tem dois amigos que recentemente se tornaram rostos conhecidos do grande público, um no esporte e outro na teledramaturgia: o tenista João Fonseca e o ator Pedro Novaes.

João Fonseca se tornou sensação no tênis mundial. Em dezembro, o brasileiro conquistou o Next Gen e, em fevereiro, com 18 anos, levou o ATP de Buenos Aires.

“O João é bastante amigo nosso. O Crico [Christiano Fonseca], pai dele, é um dos melhores amigos da minha mãe. As famílias já viajaram juntas e tudo mais. Conheço o João desde moleque e ver essa ascendência dele é muito irado. Fenômeno. A galera torce muito aqui em casa. Ele é fenômeno”, conta.

Pedro Novaes é filho dos atores Marcello Novaes e Letícia Spiller e está no ar em “Garota do Momento”, novela das 18h da Globo. O galã caiu nas graça do público do folhetim.

“O Pedro é meu amigo de infância. Nos conhecemos há muito tempo. Ele era muito do surfe e ensinei ele a velejar. Aprendeu muito rápido. Ele tinha a banda, a Fuse, e, agora, nos últimos anos, engrenou mais na atuação. Ele é talentoso com tudo, com skate, com música, com surfe… Está explodindo. Fico muito feliz de ter amigos que são ídolos, tanto para mim quanto para o Brasil”, afirma.