BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Uma sobretaxa de 25% sobre produtos importados dos EUA e uma oferta de tarifa zero para os dois lados do Atlântico no caso de produtos industriais. A reação da União Europeia ao tarifaço de Donald Trump vagou entre extremos nesta segunda-feira (7), quando ministros dos 27 países do bloco se reuniram para discutir a lista de produtos americanos que sofrerão retaliação.

Era a pauta inicial do encontro realizado em Luxemburgo, mas, com mercados em pânico e bolsas europeias flertando com dois dígitos de queda, o encontro expôs também as divisões internas sobre qual seria a reação mais apropriada para reduzir danos à economia europeia. Manifestações da manhã davam uma medida da amplitude de opiniões, com a ministra de Comércio Exterior da Holanda, Reinette Klever, pedindo calma, e o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, por outro lado, exigindo ação e descartando medidas seletivas.

“A Europa está sempre pronta para um bom acordo”, ponderou de Bruxelas a presidente da Comissão Europeia, revelando que a UE propôs a Trump a abolição de todas as tarifas sobre produtos industriais de ambos os lados. “Oferecemos tarifa zero por tarifa zero”, declarou Ursula von der Leyen, pouco antes das Bolsas americanas abrirem, reiterando que a oferta foi feita mais de uma vez.

Comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic também demonstrou esperança nas negociações, mas afirmou que a primeira fase de retaliações dirigidas começaria em 15 de abril e a segunda, em 15 de maio. Documento obtido pela agência Reuters mostrou, porém, que a reação inicial começaria em maio, com apenas partes dos produtos sobretaxados em 25%. Os ministros votam a proposta na quarta-feira (9).

Seria a primeira resposta do bloco, alvo de uma sobretarifa de 20% sobre produtos despachados para os EUA. A UE já está submetida a 25% sobre as vendas de aço, alumínio e, desde a semana passada, a igual percentual sobre a exportação de veículos. A reunião em Luxemburgo decide a amplitude da primeira fase, que já tem previsão legal, pois aproveita pacote elaborado durante o primeiro governo Trump.

É focada em ícones da produção americana, como as motos Harley Davidson e o uísque tipo bourbon. Mira também as contas de estados republicanos, tarifando, por exemplo, a produção agrícola da Louisiana. França e Itália pediram e devem conseguir a exclusão do bourbon, pois Trump ameaçou elevar para 200% a taxação sobre vinhos e espumantes.

Outro item na mesa de negociações é uma lista de 99 páginas, com produtos americanos que vão de camisola a fio dental, passando por diamantes, que poderia alcançar US$ 28 bilhões (R$ 156,9 bilhões) em retaliações. “Todas as medidas da UE devem ser pensadas para levar os EUA de volta à mesa de negociações”, declarou o ministro de Comércio Exterior da Irlanda, Simon Harris.

Se a calibragem da reação a Trump já é uma questão complexa, efeitos colaterais do tarifaço também afloram diferenças entre os políticos europeus. O governo espanhol voltou a pedir a ratificação do tratado UE-Mercosul, que há poucos dias foi alvo de críticas da França. Uma dezena de países se posiciona contra o acordo como ele está e exigem, entre outras mudanças, gatilhos para equalizar eventuais distorções entre as duas zonas de livre comércio.

Preocupam também os prognósticos de uma inundação de produtos europeus, antes voltados para exportação, no próprio mercado do bloco, que pode ter efeitos perigosos no longo prazo, como deflação. Cálculos estimam que 70% das exportações da UE para os EUA serão afetadas, responsáveis pela entrada de € 532 bilhões (R$ 3,37 bilhões) só no ano passado.

Bruxelas já prepara também contramedidas para frear a entrada de mercadorias de países como China e Vietnã, fortemente atingidos pelo tarifaço de Trump, que vão procurar alternativas para suas produções. Na semana passada, em sua primeira manifestação após o “Dia da Libertação” de Trump, Von der Leyen expressou preocupação com o dumping. “Não podemos absorver o excesso de capacidade global nem aceitaremos o dumping em nosso mercado”, declarou a presidente da Comissão Europeia.