SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O escritor Marcelo Rubens Paiva registrou, na tarde desta segunda-feira (7), um boletim de ocorrência contra um homem que o agrediu no dia 23 de fevereiro, durante o Carnaval.
Na ocasião, ele participava de uma homenagem do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta ao filme “Ainda Estou Aqui” quando o homem atirou uma lata de cerveja e uma mochila nele. Uma semana depois, o filme, baseado no livro homônimo de Marcelo, ganhou o Oscar de melhor filme internacional.
O agressor estava fora do cordão de isolamento ao redor do trio elétrico, e Marcelo, dentro. O homem atirou primeiro a lata e depois a mochila -que o atingiu no rosto. Em seguida o homem teria mostrado o dedo do meio para o escritor, que avançou com a cadeira de rodas em direção ao agressor para tirar satisfação.
“Era uma semana antes do Oscar, o Brasil inteiro naquela expectativa, e eu sofri aquele ataque. Não entendi direito na hora. Só depois que baixou a adrenalina que conversamos entre nós e começou a aparecer imagens da imprensa e de amigos nossos. Eu só não caí para trás da cadeira de rodas porque tem a rodinha de segurança”, disse ele, em entrevista à Band na saída da 6ª Delegacia de Polícia de Proteção à Pessoa com Deficiência, no centro de São Paulo.
O escritor fazia referência aos amigos Evandro Pereira e Maurício Arruda, que estavam com ele no momento.
Marcelo conta que não registrou o boletim logo após a agressão porque estava muito envolvido com o Oscar e depois foi viajar. “Agora tivemos calma para vir, reconhecemos a pessoa, trouxemos fotos. No momento do ataque, a gente estava cercado pela imprensa, porque era o momento em que eu ia ser homenageado. Então, temos muitas fotos do agressor. Não queríamos fazer nada mal feito. Não adiantava eu fazer um boletim de ocorrência, viajar e não estar aqui. Agora vamos aguardar a investigação.”
Recordando do momento, Marcelo disse que ele e os amigos não entenderam o que acontecia. “A gente ficou perplexo. Ele [Maurício Arruda] achou que tivesse levado um tapa do segurança. E a lata de cerveja que foi na minha cara bateu no peito dele [Evandro Pereira]. Na hora eu saquei porque vi o cara me xingando, me me chamando para briga. Eu até acabei indo em direção ao cara, muito mais para segurar e esperar a polícia vir. Porque o que vou fazer com um cara que está louco, me jogando coisas?”
O escritor e dramaturgo também revelou que sempre sofreu hostilidades, mas apenas nas redes sociais. “Sempre sofro hostilidades pelas redes sociais por minhas posições políticas, por minha família e por quem eu sou, mas nunca havia sofrido na rua. Esta foi a primeira vez.”
Por isso, ele achou melhor fazer o boletim de ocorrência para buscar a punição do agressor e, assim, evitar que novas agressões ocorram.
“Tem brasileiro com ódio. O que nos deixa muito tristes é saber que no país, hoje em dia, tanto ódio está sendo disseminado nas redes sociais e está indo para as ruas. A gente não sabe como começou, por que começou e quando vai acabar. Então, é melhor tomar uma atitude mesmo”, finalizou.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) confirmou à reportagem que o caso foi registrado como lesão corporal na 6ª Delegacia da Pessoa com Deficiência do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa.
“A equipe de investigação conseguiu identificar o suspeito, que foi reconhecido pelas vítimas por meio de fotografias apresentadas na unidade. Exames periciais foram solicitados ao Instituto Médico Legal (IML). O caso será investigado por meio de inquérito policial”, finalizou a SSP.