WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou nesta segunda-feira (7), ao lado do presidente Donald Trump, que defende liberdade para o povo de Gaza, embora tenha reforçado sua concordância com a ideia dos Estados Unidos de que os palestinos possam ir para outros países.

A declaração contrasta com a posição anunciada por Netanyahu na semana passada, em que anunciou expansão das operações militares na região para tomar áreas do território palestino e adicioná-las às suas zonas de segurança. Israel ainda afirmou que a população local seria retirada em larga escala.

Nesta segunda, Netanyahu disse que o povo da região precisa ter escolha. “Estamos comprometidos em libertar todos os reféns, mas também em eliminar a maligna tirania do Hamas em Gaza e permitir que o povo de Gaza realmente faça uma escolha para fazer o que quiser.”

O israelense disse ainda ter discutido com Trump a possibilidade de outros países receberem a população da região, ideia defendida pelo americano desde janeiro, quando defendeu o deslocamento forçado dos palestinos para locais como Egito e Jordânia, a despeito da negativa desses países.

“O presidente apresentou uma visão ousada, que também discutimos, incluindo os países que poderiam estar disponíveis e dispostos a aceitar palestinos por livre escolha, se eles optarem por ir”, afirmou Netanyahu.

Enquanto o premiê falava em liberdade, no entanto, Trump voltou a usar termos que indicam a expulsão população de Gaza enquanto os EUA reconstroem o território —um plano que já lhe rendeu acusações de limpeza étnica, uma vez que cerca de 2,1 milhões de palestinos poderiam ser expulsos da região.

O americano disse que Israel nunca deveria ter entregue Gaza. “Eles pegaram uma propriedade à beira-mar e abriram mão dela em nome da paz”, afirmou. Israel tomou Gaza em 1967, na Guerra dos Seis Dias, e ocupou a região por quase 40 anos.

Em janeiro, no primeiro encontro com Netanyahu neste mandato, Trump havia dito que poderia fazer da Faixa de Gaza uma “Riviera do Oriente Médio”. “Ter uma força de paz como os EUA lá, controlando e possuindo a Faixa de Gaza seria uma coisa boa”, afirmou Trump nesta segunda.

Os dois líderes disseram ainda trabalhar em um novo acordo para libertação de reféns e, possivelmente, em um novo cessar-fogo —o último foi quebrado em março depois de vigorar por cerca de dois meses em meio a acusações mútuas de violação. Após a sequência de ataques que marcaram o fim do período de trégua, Netanyahu disse que, a partir daquele momento, as negociações ocorreriam “sob fogo”.

Questionado se cumpriria sua promessa de campanha para acabar com a guerra entre Israel e Hamas, o americano disse esperar que isso ocorra logo. “Eu gostaria de ver a guerra parar, e acho que a guerra vai parar em algum momento, que não será em um futuro muito distante”, afirmou, sem dar detalhes.

Ainda no contexto de tensões crescentes na região, o presidente americano afirmou que os EUA terão encontro de “quase alto nível” com autoridades do Irã a partir do próximo sábado (12). Segundo Trump, a conversa será direta, apesar de o Irã ter dito que rejeita esse tipo de negociação; de acordo com Teerã, os diálogos se dariam por meio de intermediação de países terceiros.

“Não faria sentido negociações diretas com uma parte que constantemente ameaça usar a força e cujos diferentes funcionários expressam posições contraditórias”, disse na noite de sábado (5) o ministro iraniano das Relações Exteriores, Abás Araqchi. “Mas continuamos comprometidos com a diplomacia e estamos prontos para tentar o caminho das negociações indiretas”, acrescentou.

Se confirmado o encontro anunciado por Trump, seria a primeira vez desde 2015 que autoridades iranianas e americanas estarão na mesma sala. “Estamos tendo conversas diretas com o Irã, e elas começaram. Continuarão no sábado. Temos uma reunião muito importante, e veremos o que pode acontecer. E acho que todos concordam que fazer um acordo seria preferível a fazer o óbvio. E o óbvio não é algo com que eu queira me envolver, ou, francamente, que Israel queira se envolver, se puderem evitar”, disse Trump.

O presidente americano quer garantir que os iranianos não desenvolvam armas nucleares e reforçou nesta segunda a ameaça contra o país se não conseguir o que quer. “Se as negociações não forem bem-sucedidas com o Irã, o Irã estará em grande perigo. Na verdade acho que será um dia muito ruim para o Irã”, disse.

Ao jornal The New York Times, iranianos a par das negociações com os EUA disseram que o Irã tem um entendimento diferente de Trump sobre o que será a conversa no sábado. De acordo com o jornal, três pessoas ligadas ao governo iraniano dizem que os representantes de Washington e Teerã pretendiam se encontrar no sábado em Omã em negociações indiretas, em que as autoridades ficariam em salas separadas. Caberia a diplomatas de Omã levar as mensagens de uma sala para a outra.