BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – As tarifas de 25% que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sobre os setores do aço, alumínio e autopeças atingem mais de US$ 6,9 bilhões em exportações do Brasil aos Estados Unidos, indica levantamento feito pela Secretaria de Comércio Exterior, do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
O estudo abrange as políticas adotadas por Trump antes do tarifaço anunciado na quarta (2), quando o republicano instituiu um imposto mínimo de 10% sobre todos os parceiros comerciais dos americanos, o que inclui o Brasil. Ou seja, o impacto sobre as vendas externas do país deve ser maior.
As ordens executivas sobre aço e alumínio foram publicadas em 10 e 11 de fevereiro, respectivamente. A do setor automotivo foi anunciada em 26 de março.
O levantamento do Mdic usou os códigos dos produtos tarifados divulgados pelo governo dos EUA. Ele mostra que, no aço e alumínio, os itens sobretaxados representam US$ 5,2 bilhões exportados no ano passado.
A expressiva maioria (US$ 4,1 bilhões) é referente a aço, enquanto o restante se divide entre alumínio (US$ 267 milhões) e demais produtos de aço e alumínio incluídos na lista americana (US$ 881 milhões).
O possível alcance sobre as exportações brasileiras só foi possível de calcular a partir da publicação dos códigos dos produtos. No caso do aço e do alumínio, isso ocorreu no início de março. No setor automotivo, eles foram divulgados na quinta-feira (3).
Os dados mostram que o setor de automóveis deve sofrer um impacto residual, uma vez que o Brasil exportou apenas US$ 6,9 milhões em veículos montados aos EUA -em comparação, as exportações globais foram de US$ 4,4 bilhões.
O segmento de autopeças, porém, tem uma exposição considerável às tarifas de Trump, segundo o levantamento.
Os EUA foram o segundo principal mercado externo para a indústria de autopeças no Brasil, atrás apenas da Argentina.
O valor de US$ 1,6 bilhão exportado aos EUA representa 18% do total das vendas internacionais de partes abrangidas pela tarifa de Trump, ainda segundo levantamento feito pelo Mdic.
Entre janeiro e março deste ano, foram exportados aos EUA cerca de US$ 411 milhões em componentes atingidos pela nova barreira comercial.
Em nota, a Abipeças e o Sindipeças, entidades que representam o setor de autopeças, manifestaram preocupação com as medidas protecionistas do governo Trump .
“Estimamos que haverá um aumento da ordem de US$ 275 milhões no imposto a ser pago pelos norte-americanos para as importações de autopeças advindas do Brasil, em razão da tarifa adicional de 25%”, disse Cláudio Sahad, presidente das entidades, no comunicado.
As tarifas de 25% sobre aço, alumínio, automóveis e peças não se acumulam à sobretaxa de 10% que Trump aplicou sobre toda as exportações do Brasil.
O setor metalúrgico é visto como fundamental pelo governo Lula (PT), que tem avaliado como reagir aos tarifaços de Trump que afetam o Brasil.
A ideia do Palácio do Planalto é atuar em duas frentes. De um lado, enviar sinais públicos de que tem meios para retaliação e está disposto a adotar contramedidas caso seja necessário. De outro, avaliar o real impacto do tarifaço sobre as exportações brasileiras, mapear possíveis oportunidades e insistir nos contatos bilaterais para abrir cotas nas vendas de aço e alumínio.
A avaliação é que o Brasil tem argumentos sólidos para tentar convencer os EUA a reabrirem as cotas para aço e alumínio. O principal deles é o fato de o país exportar principalmente aço semiacabado aos EUA, produto que é posteriormente processado na indústria americana.
Outro ponto que tem sido levantado é que o Brasil é grande comprador de carvão metalúrgico dos EUA. Dessa forma, a redução de mercado para o aço semiacabado brasileiro tem como resultado a redução das compras de carvão americano.